Ao sairmos do carro, peguei em sua mão e a guiei em direção à pousada, sem que ela mostrasse nenhum sinal de desconforto, muito pelo contrário. O toque em sua pele macia pareceu aquilo que é um bom ato inesperado. Subimos as escadas da pousada, eu na frente e ela atrás por ser uma escadaria estreita. Não havia ninguém pela piscina ou pelos corredores, apenas vi a cara de broa na recepção, que já estava, provavelmente, no final do seu turno, aparentando mais amargor do que nunca.
Abri a porta e fui direto ligar o ar condicionado enquanto ela olhava ao redor daquele quarto minúsculo, contendo apenas uma TV de 15", cama de casal, frigobar, ar condicionado split na parede e um pequeno armário de madeira, todos organizados de forma a caber tudo e ainda sobrar espaço para um ser humano caminhar até o banheiro. Assim que ela parou de observar o ambiente, não comentou nada sobre o tamanho do quarto ou qualquer tipo de piada que imaginei que viria dela. Foi a brecha para que eu me aproximasse e encostasse meus lábios nos seus, bem lentamente, sem resistência. Seus olhos se mantiveram abertos fixados nos meus, até que se entregou e me beijou de volta, fechando as pálpebras e colando nossos corpos. O sabor do cigarro na minha boca não incomodava, ao contrário do cheiro que ficou dentro do carro
— Só uma coisa — parou repentinamente e se afastou um pouco. — Para que fique claro, eu não costumo fazer isso. Nunca fiz, na verdade, nunca transei no primeiro encontro, então não quero que pense que sou uma puta.
— Tecnicamente não é o primeiro encontro — fui me aproximando novamente para recomeçar os beijos, mas fui interrompido mais uma vez.
—É sério! Vim passar as férias com minhas amigas, mas quero deixar claro que é uma escolha que fiz.
Não sei de onde veio tudo isso, mas jamais pensei nela como uma vagabunda ou um pedaço de carne que vou comer e jogar o que sobrar no lixo. Muito pelo contrário, minha musa.
— Eu sei.
— Cala a boca e senta aí, marciano.
Essa foi a última frase que ela dirigiu a mim a noite inteira. Obedeci novamente e isso me deixou com mais tesão ainda, mesmo com ela me chamando de marciano. A revelação de um lado mais dominador era algo bem raro para mim com relação a mulheres, mas gostei e continuei seguindo o ritmo. Quando achei que ela já estava vindo para cima de mim, puxou o celular e começou a mexer. Mandar mensagens para as amigas naquele momento? Sério? Então começou a tocar uma música que eu nunca tinha ouvido, mas com ritmo que combinava perfeitamente com o momento, que mais tarde descobri ser "A broken memory" de Cold Specks.
Ela colocou o celular em cima da cama com a música rolando e tirou a blusa na minha frente, revelando um sutiã branco com detalhes em renda, que logo foi removido, deixando à mostra seus seios pequenos e belos, que me deixaram louco de vontade de beijá-los, o que fiz rapidamente e sem resistência dela. Chupei o bico de um peito enquanto apertava o outro entre meus dedos, até que olhei para cima e a vi me olhando de volta com um sorriso. Segui o ritmo e tirei a minha camisa, sendo abraçado logo em seguida pelas suas pernas ao sentar no meu colo. Nos beijamos mais e mais até deitarmos na cama e terminarmos de nos despir por completo. Na hora não pensei em perguntar sobre anticoncepcional e não estava com camisinha por perto, mas não me importei, e ela muito menos.
O seu gemido foi de alívio no meu ouvido quando a penetrei, sentindo-a por dentro sem nenhum objeto de plástico para atrapalhar nenhum dos dois lados, apenas a sensação pura do sexo como deve ser. Suas unhas cravaram nas minhas costas e apertaram ainda mais a cada movimento, seguido por gemidos agudos e ofegantes. Olhei-a bem nos olhos logo antes de gozar e então veio o êxtase maior, bem melhor do que as últimas vezes ou todas as outras que posso me lembrar. Há muito tempo não me sentia tão bem quanto estava me sentindo naquele momento.
Nos beijamos mais algumas vezes, e então ela se levantou e foi para o banheiro. Fui logo após ela e, ao voltar, já a encontrei de calcinha e sutiã apoiada na janela do quarto fumando um cigarro. Naquele momento, ela poderia fumar o quanto quisesse que eu não ligaria, inclusive poderia deixar todo o frescor do ar condicionado escapar pela janela, rumo ao inferno que é o clima da Bahia. O mundo poderia até acabar, e eu não moveria um músculo, exceto os do pescoço para girar a cabeça em direção a Ana e admirá-la por completo fumando aquele pedaço de câncer.
Liguei a TV pela primeira vez naquele quarto e deitei na cama sem me preocupar em vestir roupa alguma, apenas zapeando os canais à procura de algo interessante. Parei em um canal que mostrava a vida selvagem dos leões africanos e descobri que eles são inimigos mortais das hienas, além de tirar dúvidas sobre questões super interessantes que me passam pela cabeça sempre que termino de ejacular, a famosa depressão pós-sexo.
Assim que ela terminou o cigarro, jogou a bituca pela janela que dava na rua de trás da pousada e veio até a cama. Deitou-se com a cabeça no meu peito e ficou acariciando os pequenos fios de cabelo que tenho sem falar nada. Retribuí fazendo um cafuné que a fez fechar os olhos até que pegou no sono. Alguns minutos depois, o celular vibrou na cama, acendendo a luz da tela. Peguei para olhar o que era, mas percebi que não era o meu, até por que não tenho nenhum contato chamado "Amor" que enviaria uma mensagem assim: "como está a vi...". Instintivamente, toquei para ler o resto da mensagem, ilustrada com a foto de perfil de um homem sorridente, mas logo apareceu a tela de desbloquear com senha. Ana continuou dormindo em sono profundo, sem perceber que eu tentava fuçar a sua vida. Sabia que tinha alguma coisa errada com ela quando começou aquele discurso pré-sexo ou até antes quando ficou estranhamente calada por alguns minutos no carro. Agora até parece que sou algum tipo de Sherlock Holmes, juntando as peças e desvendando o mistério, mas pode simplesmente ser algo da minha cabeça — o que duvido muito. De qualquer forma, não cabe a mim julgá-la, é sua escolha contar a verdade por detrás dessa mensagem.
Fiquei mais algum tempo assistindo um filme de luta chinês com Jet Li jovem e logo apaguei no meio.

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E se for tudo um sonho?
Romance"E se for tudo um sonho?" conta a história da vida de Henrique Polyakov, dividida em dois períodos de tempo distintos, um em meados de 2017 e outro no final de 2019. Aficionado em observar pessoas e seus comportamentos, o corretor de imóveis de 32...