12 DE JULHO DE 2017

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As coisas tinham melhorado com Fernanda, e eu sentia como se não houvesse mais necessidade de ajuda para resolver meus problemas de relacionamento. Tive que ir ao dentista na mesma rua da minha psicóloga, então resolvi passar lá para tomar um café e conversar um pouco com dona Priscila. Todas as sessões já tinham sido autorizadas, e não havia cobrança extra, já que era dentro da rede do plano e não consulta externa, então eu não tinha nada a perder com mais uma sessão de bate-papo.

Quando assinei a guia de presença da psicóloga, resolvi passar o olho por toda a bancada da recepção em busca de lixa de unha, esmalte ou acetona, na tentativa de confirmar as minhas suspeitas da semana anterior, mas não achei nada. Ainda assim tinha certeza que a moça iria fazer as unhas e estava guardando os materiais escondidos em algum canto. Dessa vez fui surpreendido com uma garrafa vazia de café, então voltei para a recepção.

— Boa tarde, onde consigo café?

A moça da recepção me olhou de volta com uma expressão pensativa e confusa, como se não fizesse a menor ideia de que existia uma garrafa de café para os pacientes.

— O senhor pode aguardar um pouco? Vou verificar.

Voltei a me sentar e fiquei a observando de longe, que permaneceu sentada na sua cadeira com a cabeça virada para baixo. Não é possível que ela faria as unhas em vez de resolver meu problema do café. Além de aguardar por uma consulta inútil, ainda tinha que aturar uma recepcionista que não estava nem aí para mim. Levantei rapidamente para tentar pegá-la no flagra, mas, ao chegar, percebi que ela estava ao telefone falando com alguém sobre o café. Fingi olhar os panfletos deixados sobre o balcão da recepção, peguei um deles e retornei ao meu lugar.

"Pizzaria Amigos do Reinaldo. Promoção: duas pizzas salgadas, uma doce e refrigerante por apenas R$49,90". Por esse preço e com esse nome deve ser tão fina que se levantar dá para ver o outro lado. Guardei o panfleto no bolso ao ver meu nome ser chamado no painel. Dessa vez não percebi a senhora sair da sessão antes da minha.

Priscila sentou bem à minha frente, dessa vez de calça jeans, blusa azul com alça fina e sem nenhum colar, mas o mesmo cabelo preso com rabo de cavalo e seus óculos retangulares. Antes de cruzar as pernas e dar boa tarde, ela se levantou novamente e desligou a luz principal da sala, deixando acesa apenas a luminária em cima de sua mesa.

— Boa tarde, Henrique — disse ao se sentar novamente. — Hoje eu quero fazer uma coisa diferente com você.

Espero que sexo.

— Boa tarde, doutora. Fico aqui mesmo na cadeira ou deito ali? — apontei para o divã.

— Pode ficar aí sentado mesmo. Agora feche os olhos e respire lentamente. Inspire pelo nariz e solte pela boca, bem lentamente. Vamos fazer um relaxamento, porque acredito que seu problema não seja de relacionamento, mas algo mais profundo. Na verdade, acredito que você também sabe que o seu problema não é com Fernanda, e continua vindo aqui para que eu te diga o que fazer, mas, como não estamos fazendo progresso, precisamos usar algumas técnicas para que você mesmo entenda mais sobre si.

O que ela falou me pareceu muito sensato naquele momento, então obedeci aos seus comandos, mesmo achando estranho e diferente.

— Quero que você pense em um sentimento que te incomoda, pode ser raiva, ansiedade, tristeza ou qualquer outro. Pense nele e em momentos que você o sente. Qual é esse sentimento?

— Ansiedade.

— Perfeito. Agora quero que você imagine esse sentimento como um objeto que está dentro de você. Um quadrado, um círculo, um triângulo... e dê uma cor a este objeto que está dentro e te causando incômodo.

E se for tudo um sonho?Onde histórias criam vida. Descubra agora