1º DE JANEIRO DE 2020 - I

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Acordar com o sol nos olhos já estava começando a se tornar rotina, mas, dessa vez, foi tão forte que parecia que eu não tinha nem dormido. Bem acima de mim, o teto branco e seus detalhes feitos com gesso, além de um grande lustre em estilo moderno que logo reconheci ser o da casa de Marcos. Após saber onde estava, faltava tentar entender o que tinha acontecido. A dor de cabeça forte não foi suficiente para mascarar o incômodo na coluna por ter passado a noite inteira no sofá da sala, mesmo sendo grande e supostamente confortável. O efeito do álcool foi tão forte que ignorei minha mania de não me dar bem em dormir na casa dos outros, ou então havia algo a mais. Talvez eu tivesse fumado algo diferente ou usado alguma coisa, não sei. Outra questão importante era descobrir por onde andava a minha camisa.

No chão ao meu lado, havia uma sobreposição de edredons para formar a cama em que Fabrício ainda dormia um sono tão tranquilo quanto o da bela adormecida. Estranho uma casa tão grande não ter espaço para que cada um tivesse dormido em um colchão. Levantei e fui em direção à cozinha em busca de água, mas, no meio do caminho, encontrei algo diferente sobre a mesa de centro: um pó branco se espalhava sobre o vidro, entre garrafas de cerveja, indicando que algumas pessoas possivelmente não se contiveram somente com o álcool. Só consegui pensar em uma pessoa que poderia ter levado cocaína para a festa, e essa pessoa era Titico. Continuei caminhando, desviando de algumas garrafas espalhadas pelo chão, peguei um dos copos no armário e enchi de água do filtro.

— Fala, Henrique — disse uma voz rouca logo atrás de mim. — Ainda não foi dormir?

Olhei para trás e vi que era a voz de João com os olhos extremamente vermelhos.

— Acabei de acordar — respondi enquanto pegava mais água.

— Como assim acabou de acordar? Tem pouco tempo que vi você e Fabrício conversando na sala.

— Porra, deve ser por isso que eu estou sentindo que não dormi, porque realmente não dormi.

— Marca um endocrinologista — falou em meio a um bocejo e entrou em um dos quartos. Acho que ele não quis dizer isso.

Pensei que tinha superado os problemas de dormir fora de casa, mas quem me dera. Engraçado que quando vou para algum hotel durmo tranquilamente. O jeito seria voltar para a pousada e tentar dormir, mas não antes de comer alguma coisa, porque a barriga já começava a roncar.

Peguei um pão de forma na geladeira e enchi com presunto e queijo que achei na gaveta, então comi tudo gelado mesmo enquanto pegava o celular para checar as merdas que tinha feito na noite anterior. Ao abrir o Whatsapp, deparei-me com cinco mensagens não lidas de Ana, o que me fez perder completamente o sono e correr para ler o que havia se passado. Subi a tela até chegar à última mensagem que lembrava ter enviado e comecei a ler a conversa.

"Você é um idiota..."

"E você é uma gostosa."

"Vem para cá, não é perto?"

"Bem que eu queria."

"Inútil."

"Manda nudes"

Raparei que os horários das mensagens eram separados por vários minutos, mas não sei se o culpado pela demora de responder era ela, eu ou nós dois, pois o término da noite de ontem aparecia como um vazio em minha memória.

"O carinha da banda avisou que já vai começar a contagem regressiva."

"Até ano que vem, querida."

"FELIZ ANO NOVO, MARCIANO!!!"

"Parece até que foi ano passado que nos falamos. Feliz ano novo, minha linda."

E se for tudo um sonho?Onde histórias criam vida. Descubra agora