Capítulo 24 - O mundo precisa mudar.

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Lia Albuquerque

Pela quarta vez eu me pego mandando uma foto do meu look para Celina. Peço para ela se apressar,pois não aguento mais esperar. Ouço a buzina cerca de dez minutos depois. Desço as escadas apressada e pergunto mais uma vez a minha mãe e sua amiga Bete se elas realmente não vão.

Celina não se contém ao me ver.

- As fotos não são capazes de capturar toda sua beleza. - riu.

- Você também está linda! Agora vamos!

-Ok!Ok!

Não demora para chegarmos na empresa. O evento aberto ao público começa a encher aos poucos. O que a gente imaginou acontece,ou seja,a maioria das pessoas,branca. O que é bom,afinal,é o público alvo,apesar de existir sim muitas pessoas negras racistas também.

- Boa noite meninas!

- Boa noite Henrique! - digo. Ele me abraça e dá um selinho em Celi. - Está tudo muito bem organizado.

- Eu sei. - diz rindo. - Vocês estão lindas,o que fiz para merecer tamanhas belezas do meu lado?

- Bobo. - falo. Vejo Diogo caminhando em nossa direção e fico desnorteada.

- Olá minha deusa! - ele segura meu rosto com uma das mãos e a outra coloca na parte de baixo das minhas costas. Sem me dar tempo de falar algo,me beija. - Como você está?

- Um pouco nervosa,na verdade. - ele sorri e eu suspiro.

- Vai dar tudo certo,meu amor. - assinto,concordando.

- Seu pai já chegou? - Henrique pergunta.

-Sim,está me esperando. Bem,se acomodem,vamos começar.

Diogo caminha em direção ao palanque em frente as incontáveis pessoas presentes neste lugar.Celina,Henrique e eu sentamos e a voz de Fábio ecoa de repente. O silêncio reina no mesmo instante.

- Boa noite. A maioria provavelmente já sabe mas para quem não me conhece eu sou Fábio Bordinari,fundador desta empresa e ex CEO. Mas hoje o assunto não sou eu. Eu quero abordar com vocês um tema que,apesar de presente na nossa sociedade todos os dias,ainda é pouquíssimo discutido e há quem diga que ele não existe no nosso país,que é o racismo. Bem,recentemente eu fiz uma descoberta sobre mim mesmo,e é a primeira vez que digo em voz alta para um número grande de pessoas,mas a verdade é que eu sou racista.

As pessoas começam a se entreolhar,talvez sem entender onde isso quer chegar ou porque ele está fazendo essa declaração.

- Esse é o primeiro passo para mudar.Admitir. Se você admiti,você necessariamente sabe que é algo errado,inadmissível e vergonhoso. Todos me temiam nesta empresa e eu gostava,pois assim eu mantinha o controle,mas não era a forma certa.Hoje eu entendo que tudo o que eu dizia fazia as pessoas se afastarem mas eu não me importava.A minha ex-esposa era negra. Caso não saibam,existem muitos tons de pele negra e ela não era retinta,por isso eu falava a mim mesmo que ela não era negra e eu não queria admitir.Quando ela foi embora,tudo desandou e eu me tornei ainda mais racista,até que o meu filho voltou e se apaixonou por Lia.  - ele sorri e eu me emociono.

- No nosso primeiro contato eu disse palavras terríveis a ela e me arrependo completamente disso hoje em dia. Como eu já disse,o primeiro passo é admitir,o segundo é se informar,e foi isso que eu fiz,estudei o racismo a fundo e aí comecei o meu processo de mudança. Confesso que não é fácil mas é libertador,além de ser a coisa certa para todos nós.

Ele conclui e é aplaudido.Diogo surge no lugar dele e começa a falar também. Ele olha pra mim e eu sorrio mais uma vez. Eu tenho tanto orgulho dele!

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