Titio Preferido (Concluído)

último capítulo

   2 anos depois

O sol aos poucos voltou a brilhar nessa cidadezinha pacata,ando calmamente pela calçada deste lugar sombrio.Um velhinho vendedor de flores sorri amigavelmente para mim e me deseja uma boa tarde,ando mais alguns passos e resolvo voltar,comprar pelo menos um vasinho de flores,Girassóis amarelos para ver se ajuda o sol a sair de uma vez!

Ando mais alguns metros e paro na frente de um arco de concreto,com uma faixa pintada a mão escrito em letras maiúsculas ''Cemitério Nossa Senhora''. Por um instante sinto o ar faltar em meus pulmões,respiro fundo e crio coragem,não demoro nem cinco minutos para achar aquela lápide fria e suja,me abaixo colocando os girassóis em cima.Já se passou dois anos  desde de toda aquela tragédia,mas dentro de mim parecia ainda recente.

Me sento na grama verde e molhada pelo tempo chuvoso,começo a contar a papai tudo o que se passou comigo durante a semana,eu visitava seu túmulo uma vez por semana,e contava a ele tudo sobre minha vida,sobre a empresa e pedia conselhos de vez em quando,os conselhos de papai sempre foram os melhores.

Depois daquele dia comecei a frequentar a igreja,mas não consegui achar consolo por muito tempo,eu achava que se foca-se minha atenção para algo além da minha dor,ela iria embora mais rápido,Ilusão minha! Olhei o pequeno relógio de pulso de ouro que ganhei de aniversario,segundo aniversario que passo sem meu pai,sem minha mãe e sem ele... Balanço a cabeça tentando não pensar em nada negativo,apesar de estar em um cemitério e não ter lugar mais pavoroso do que este.

Olho novamente o relógio e percebo que já estou a mais de meia hora ali,apenas conversando com papai,arrumo as flores que agora não parecem tão bonitas quanto antes,me levanto e digo um até logo para papai. Começou uma leve chuvinha,corri para fora do cemitério para no minimo não pegar uma gripe,coloquei as mãos na cabeça numa tentativa inútil de me molhar o minimo possível.O senhorzinho da barraca de flores me gritou acenando para eu entrar embaixo da barraca com ele,corri em sua direção e me abriguei embaixo da pequena barraquinha de lona.

O senhor gentilmente me cedeu um banco de plástico e uma xícara de chá,após eu negar ele se sentou ao meu lado e fixou o olhar no horizonte,segui seu olhar e percebi que ele olhava para a faixada do cemitério,com os olhos marejados,segurando firme a xícara ele pegou uma rosa,a cheirou e continuou a encarar o cemitério.Depois de alguns minutos ele sorriu como se tivesse se lembrado de algo engraçado,se virou para mim e disse:

-Minha esposa está ali!

-Ela Faleceu?

-A vinte e cinco anos atrás,ela era linda,a mulher mais linda que já passou em minha vida!

-O senhor deveria ser muito apaixonado por ela,fala dela com tanto amor!

-Eu ainda sou apaixonado por ela! Sabe minha jovem a vida passa e a gente acha que vai ser feliz pelo tempo que a gente determinar,sempre fui muito chato,convivi com um câncer minha vida toda,já ela era uma mulher cheia de vontade de viver,sem nenhuma doença. Um dia eu acordei e fui beija-lá como fazia todas as manhãs,mas ela já estava morta,os médicos falaram que foi infarto...

Ele deu uma pausa e abaixou a cabeça,como se pudesse ver toda aquela cena novamente.Eu passei a mão em suas costas para tentar de alguma forma consola-lo,ele ergueu a cabeça e respirou fundo olhando novamente o cemitério.

-Ela se foi,e por muito tempo minha vida não fez mais sentido.Quando amamos uma pessoa ela nunca morrerá para nós,minha doce Rosa!-Ele cheirou novamente a rosa em suas mãos.