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A pior coisa de se terminar um relacionamento não é só o término em si, mas ter que conviver com a presença da pessoa o tempo inteiro como lembrete de que algo existiu e que vocês, não podem de forma alguma, se ver sem pensar nisso.

Era exatamente assim que eu me sentia em relação a Luke.

Nossos melhores amigos eram os mesmos, estudávamos na mesma instituição — mesmo que em complexos diferentes, mas por conta de Calum e Ashton, acabaríamos nos vendo—, trabalhamos no mesmo local, e o pior de tudo é o dono ser o irmão dele e meu ex-cunhado.

Coincidência demais, ou simplesmente azar demais.

Voto no azar.

Naquela manhã eu me levantei —depois de não dormir a noite e passar ela toda olhando pro teto do quarto enquanto Calum falava sobre vinagre enquanto sonhava, e eu tendo a certeza que ele devia diminuir a pressão sobre ele mesmo no curso —, peguei minhas coisas e me preparava mentalmente para ver Luke como todos os dias eu o via: uma bagunça de cadernos e livros de Freud na mão junto a Ashton que parecia estar em qualquer lugar menos em uma universidade.

Já preparava minha mente para tentar agir o mais natural que eu pudesse e agisse da forma mais racional possível, que é simplesmente dar meia volta e ir pra o lado oposto, já fazia minha mente focar em problemas que são mais importantes no momento: o concerto. Eu tenho a graça de ter conseguido adiar ele, porém, preciso de três músicas e não comecei a compor nenhuma.

O dia ia ser longo.

Fui andando como sempre. Até parecia que eu não tinha pressa, pois andava tão devagar que podia contar cada pássaro que via nas árvores do parque perto de casa. Calum me ligou três vezes preocupado.

A verdade era que eu estava fugindo do inevitável. Eu sabia que iria vê-lo, mas não queria que fosse menos de dez horas depois de toda aquela situação.

Seja um homem e não um rato, Michael.

Depois de suspirar cansado eu praticamente corri, tinha que me encontrar com o orientador, se eu o visse por lá não podia fazer nada além de aceitar e dizer até “Oi” se for possível.

Não, eu não seria capaz.

Corri até sentir meus pulmões queimarem. Estava correndo para não me atrasar, correndo para pensar, correndo porque eu não posso fazer isso com meus problemas.

Chegaria suado, exausto, e sem nenhuma condição de ficar para alguma aula sem tomar um banho, mas valeria a pena. Eu estaria pondo todo meu corpo à exaustão e reiniciando todo o sistema.

Estaria começando a tentar começar de novo. Mas dessa vez, sem ele.

Eu já tentei antes, eu posso fazer, eu posso.

Depois de uns minutos correndo, um Jones levemente incômodo pelo meu estado e uma fome enorme, eu não me atrasei. Entrei no auditório e me sentei no palco onde alguns dias estarei tocando.

Um bolo até cresceu na garganta.

— Você me disse que tinha algumas coisas além das que você me mostrou antes escritas... — O professor dizia calmamente. — Tem algo para mostrar hoje?

Eu fiz que sim.

— Eu... Eu andei escrevendo umas coisas, mas eu não terminei. — Minha voz ainda entrecortava. Tinha corrido em ritmo constante por quarenta minutos e me pus mais força só para forçar meu sistema. — Mas tenho algo bem avançado.

O professor franziu o cenho.

— Quanto avançado?

— Das três músicas eu tenho uma quase completa e duas pela metade.

How to Fix a Broken Heart ~ •Muke• Onde histórias criam vida. Descubra agora