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O tempo pode ser considerado relativo dependendo de qual forma for discutido, e com quem é discutido. Para uns, ele passa rápido demais. Para outros, ele é devagar ao extremo. E ainda há aqueles que acreditam que ele anda como tem que ser.

Certamente eu sou a última opção.

Claro, já senti que o tempo passava rápido demais e também já achei que ele demorava muito, quase como se estivesse estagnado. Mas a questão é que não tem como correr do tempo, ele sempre está ali.

Cientistas se desdobram para saber sobre o tempo e o espaço. Pesquisam sobre o vazio, como distâncias podem ser percorridas em pouco tempo, como a velocidade em certo ambiente pode ser afetada caso não tenha a gravidade, como há ligações químicas, como o espaço-tempo é relativo, mas não estamos discutindo nada disso.

Sempre ouvimos sobre o tempo. Que o tempo cura, o tempo passa e ou fazemos alguma coisa da vida, ou ficamos para trás; ouvimos que o tempo é um ingrato que toma a nossa juventude e que tanto como ele pode nos curar, ele pode nos condenar. A verdade é que sempre usamos o tempo para justificar o injustificável ou aquilo que não queremos explicar.

O tempo não cura nada, ele simplesmente passa e ao decorrer desse espaço, você vai se acostumando, aceitando, se curando. Mas o tempo em si não te faz nada.

Ele não tem como ser um ingrato por tomar a juventude se nosso corpo já tem uma data de validade. As células humanas nascem, crescem, amadurecem e morrem, o tempo não tem como tomar algo que nunca foi seu, a vida não é um romance onde você pode congelar no tempo sua aparência.

Mas o fato que realmente quero chegar é que o tempo passa, as estações se vão, seus pensamentos mudam e suas prioridades também. A minha visão de tempo pode ser diferente da sua que por sua vez é diferente da de outra pessoa.

Mas porque eu estou falando de tempo? Porque desde ao nascer ouvimos a respeito dele, estudamos sobre, crescemos acreditando que ele curará nossos problemas. Crescemos pensando e falando de tempo, então nada mais justo que hoje, duas semanas antes da minha formatura e das férias de Luke, esteja eu, deitado no quintal de casa, pensando a respeito do que fazer com a minha vida agora e sobre o futuro.

O tempo passou consideravelmente rápido se pensar que quando comecei o meu curso, estava feliz me sentindo realizado, mas era totalmente degradante a forma como eu era um ser humano superficial. Nunca me orgulhei da pessoa que fui, cometi muitos erros, disse palavras que machucaram muitas pessoas, mas não significa que não era uma pessoa boa. Só queria provar um ponto e muitas vezes, isso me fazia chegar perto do ridículo. Era impulsivo e cheio de raiva que nunca soube extrapolar, essa era uma mistura totalmente volátil.

Então aconteceu o acidente. Perdi minha família, fiquei machucado, física, mental e sentimental. Tudo ao meu redor parecia desmoronar e eu fiquei sem chão, sem esperanças, em uma poça de culpa e com nojo e ódio de mim mesmo. Foi uma época terrível e eu não conseguia não ser hostil com as pessoas. A dor me cegava, por isso tudo que eu sentia que poderia me machucar eu fazia. A dor nunca seria maior do que eu já sentia dentro de mim de qualquer maneira.

Me afastei, decidi que o melhor a fazer era simplesmente me tornar invisível, não chamar atenção. Não tinha motivos e nem graça em conversar com as pessoas — meu segundo estágio do luto foi a autoconsciência, onde eu comecei a medir minhas atitudes e simplesmente comecei a me sentir mais enjoado comigo mesmo — comecei a rever as relevâncias na minha vida e as coisas que eram importantes e me defini como antes sendo artificial, alguém que nem mesmo sabia como era importante as coisas, porque eu aprendi a dar valor a eles somente quando as perdi.

How to Fix a Broken Heart ~ •Muke• Onde histórias criam vida. Descubra agora