Eu corria meu máximo assim que a noite caía sobre minha cabeça, se eu chegasse atrasada em casa novamente meus pais iriam começar a desconfiar dos meus supostos passeios à cavalo. A roupa de montaria que eu usava junto com um capuz preto me garantia um pouco de disfarce assim que atravessei a floresta de árvores altas antes de chegar aos portões do castelo. Fui ágil o bastante para desabotoar o capuz e subir em cima do cavalo que eu havia deixado do lado de fora antes de me encontrar com os guardas.
-Seja bem-vinda de novo, alteza. - Um deles falou. Apenas assenti a cabeça como cumprimento. Deixei o cavalo no estábulo e rapidamente subi as escadas. Ao chegar no meu quarto já me deparei Kaylor, minha empregada e também uma das únicas pessoas que eu realmente confiava.
-Conseguiu entregar tudo?- Perguntou a mulher de cabelos grisalhos com sua calma de sempre.
-Consegui. Todo o dinheiro agora está nas mãos de famílias que nem tinham o que comer. - Falei triunfante, enquanto colocava a bolsa vazia em cima da cama. Kaylor prontamente a pegou e a guardou.
-Viu o Sam?
Sam. Sam Cortland. O nome dele ecoa em minha mente e me faz abrir um amplo sorriso. Sam era filho de Kaylor e trabalhava no campo com o pai, ele foi uma das minhas motivações para roubar dinheiro do meu pai para dar aos camponeses que não tinham o que comer. Eu vivia mascarada, então eles me apelidaram de Libertadora. Apenas Sam sabia quem era a Libertadora, que no caso era a princesa herdeira de Velares.
-Vi. Está lindo como sempre. - Uma imagem de seu rosto com olhos amêndoas e cabelos marrons enrolados enquanto sorria humildemente para mim me vem à mente. E continuo sorrindo como uma boba.
-Me dói o coração de saber que terão de deixar esse romance em segredo... para sempre. - Kaylor terminava de dobrar as roupas e já estava se dirigindo a porta. - Aliás, seu pai está te chamando na sala dele.
Quando ela saiu do quarto, um vazio me preenche: "romance em segredo" não soava nada bem para mim, eu não gostava de esconder nada dos meus pais. Até por que eles tinham o direito de saber de tudo. Eram rei e rainha. Troquei de roupa antes de entrar na sala do meu pai. Ele estava cheio de papéis na mesa como sempre.
-Está voltando tarde demais do seu passeio a cavalo. Terei de colocar guardas ao seu lado deste jeito. - Foi a primeira coisa que ele reclamou quando eu coloquei o pé na sala.
-Não se preocupe, eu sei como voltar para casa no escuro. - Rebati sem paciência.
-Fale baixo comigo, princesa.
Princesa. Ele nunca me chama pelo nome Haevyn ou por "filha". Talvez ele nem me veja como uma. Tudo se resume em política. Desde pequena fui educada para assumir o trono, então nunca existiu afetividade.
-Posso saber o motivo pelo qual o senhor me chamou?
-Está com pressa? - Os olhos azuis frios se chocaram contra os meus.
-Apenas queria conversar com a minha irmã antes dela dormir. - Minha voz saiu trêmula.
-Então vá, ficará sabendo da notícia amanhã no baile de qualquer maneira. - Respondeu meu pai indiferente. E voltou a cuidar da papelada. Não ousei abrir a boca assim que um de seus guardas entrou no cômodo.
-Senhor, o cofre foi violado hoje mais cedo. Uma quantidade de 500 pratas foram embora.
A essa altura meus passos já estavam rápidos demais.
Parei em frente ao quarto de minha irmã mais nova, Audrey. Dei 3 batidas rápidas na porta e logo fui atendida.
-Entra logo! - Ela me puxou para dentro e cambaleei em direção a sua cama, onde me deitei na mesma.
-Seu quarto parece um cortiço. - Falei ao analisar o quarto dela.
-Quer que eu diga quantas coisas de seu closet?
-Nenhuma, obrigada. - Nós duas rimos brevemente. - Você sabe o que vai acontecer de tão importante amanhã?
Assim que perguntei, o sorriso desaparece do rosto de Audrey.
-Parece ser algo sério.
-Sério a que ponto?
-Sério a ponto de reunir todos os quatro reinos em nossa casa. - Doz Audrey e então eu engoli seco. Pisquei uma, duas, três, quatro vezes. E engoli seco de novo. Nunca fora feito um encontro como este.
-Pense por outro lado. O filhos dos outros reis são uns gatos!
Ri tão alto quando ela disse isso que quebrou toda a tensão que havia se formado no quarto.
-Você é terrível! - Digo como despedida saindo do quarto dela.
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-Você está ficando mais habilidosa a cada dia. - Disse Leon, capitão da guarda do castelo, assim que dei-lhe um golpe forte em sua perna.
-Eu ainda vou ficar melhor do que você. - Desafiei, dando outro golpe, mas desta vez ele se esquivou.
Leon riu e me atacou, logo em seguida desviei, mas acabei não calculando os movimentos e me choquei contra o pilar do estábulo. Caí de costas no chão violentamente. E as risadas de Leon se tornaram escandalosas.
-O que você tinha dito mesmo? - Provocou o capitão e em resposta levantei rapidamente e dei-lhe um golpe preciso com a espada de treinamento. Ele chocou a espada dele contra a minha, fazendo um barulho horrível. Resolvi apelar e chutei suas baixas regiões. O mesmo resmungou, se encolhendo como uma criança no chão. Não pude deixar de rir.
-Você é vingativa, Haevyn.
-Fique bem, tenho coisas para resolver.
Eu estava me referindo ao meu encontro secreto com o Sam. Entrei no meu quarto, coloquei minha roupa preta com o capuz e coloquei o dinheiro que havia roubado do cofre pela última vez e me despedi de Kaylor.
Peguei um cavalo e voltei a minha cavalgada pela cidade, entregando o dinheiro aos camponeses, até avistar a simples casa perto do lado amplo, onde o garoto de cabelos enrolados olhava para mim enquanto eu caminhava até ele. Tirei o capuz e sorri para ele.
-Olá Haevyn.
-Olá Sam.
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The Crown
FantasyThessália era um continente dividido e disputado por quatro reinos: Velares, Hansport, Greysand e Lorkland, que viviam em guerra há 14 anos. O conflito gerou consequências devastadoras, despertando a alma de uma criatura antiga e poderosa. Cri...