- Capítulo 30 - Ilusões

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   ~Matthew~

     Aquela biblioteca estava me deixando com uma séria enxaqueca. Não sabia se era por causa de Júlio que tentava, sem nenhum sucesso, pronunciar o nome dos feitiços do livro, ou de Mália que lia repetidas vezes a mesma frase para aprender a ler.

    A garota da Aliança Prateada aparentava nunca ter pego num lápis a vida inteira. Quando Haevyn a ensinou como pegar o objeto e praticar a caligrafia, Mália reclamara, dizendo não ter habilidade em escrita. Mas a mesma permanecia concentrada.

     -Como posso escrever "eu te odeio"? - Mália deu um sorriso maléfico, o que arrancou uma pequena risada de Haevyn.

    Não fazia ideia de quanto tempo passamos na biblioteca. Mas fora tempo o suficiente para que a rainha de Libertália e a sub-líder da Aliança Prateada estarem trocando piadinhas através de bilhetinhos escritos por uma delas.

    Aquela proximidade me deixava assustado. Será que eu estava dormindo? Parte de mim queria que tudo fosse um pesadelo, que a guerra lá fora simplesmente desaparecesse e tudo voltasse ao normal, por outro lado, eu gosto dos meus poderes, de quem eu me tornei, de minha proximidade com Haevyn… Isso me lembrava da primeira vez que conversamos e, consequentemente, discutimos.

     -O que faremos com esse livro? - Nora perguntou, a princesa permanecera escorada em uma das estantes o tempo todo, quieta.

     -Entregaremos para a Ruby. - Júlio respondeu calmamente. - Teremos de ajudá-la a recuperar o território, do mesmo jeito.

     -Isso é tão revigorante! É só entregar o livro para a Ruby e vencemos a guerra. - Nora estava feliz de verdade, fazia tempo que não via um sorriso sincero no rosto dela. No rosto de todos.

     -Por que não fazemos isso no dia seguinte? Eu estou morrendo de sono. - Resmunguei, esfregando os olhos.

     -Não deixe para fazer amanhã o que se pode fazer hoje, preguiçoso. - Agnes disse, arrumando a faca na cinta.

     -Matthew está certo, está de noite. Não é muito seguro sair voando com um dragão por aí.

     -Sem contar com o fato de que Trinity deve estar em um sono bem pesado. - Haevyn completou.

    Agradeci aos céus por isso, eu estava morrendo de sono. Não seria uma boa ideia acordar um dragão de um sono profundo, ainda mais comigo reclamando o trajeto todo, com certeza me atirariam de lá de cima.

     -Então vamos dormir e amanhã venceremos a guerra! - Agnes bradou.

     Cada um seguiu seu caminho ao longo do castelo de Greysand. Eu e Haevyn subimos as escadas, em silêncio, até acharmos um quarto vago, que por sinal ficava ao lado do de Nora.

     -Pronta para amanhã? - Perguntei, já me aninhando aos cobertores da cama de casal.

    A rainha de Libertália hesitou um segundo.

     -Talvez. Pelo menos esse inferno vai acabar, não é?

     -Ainda teremos de enfrentar o Sam.

     -Eu faço isso. - Haevyn se acomodou ao meu lado.

     -Admiro a sua coragem para isso. - Falei, sinceramente. Em seu lugar eu não seria capaz de lutar contra uma pessoa que eu amara a vida toda. Do que adianta ter milhões de poderes sendo que não tenho coragem para usá-los? Que fracasso.

    Silêncio preencheu o quarto. Haevyn se ajoelhou na cama, encarando-me profundamente.

     -Matthew. - Sua garganta tremeu. - Se eu morrer nessa guerra… - Sua voz saiu mais profunda do que o esperado. - Se acontecer alguma coisa comigo…

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