- Capítulo 15 - Cicatrizes

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    Matthew e eu não ousamos trocar nenhuma palavra depois que nos despedimos de Milo, talvez seja por que não tínhamos nada para falar.

    Quem eu estou querendo enganar? É claro que temos! Matthew é um poço de magia ilimitada e eu sou neta de Ruby e rainha de Libertália.

    Algo dentro de meu peito se apertou quando tentei imaginar-me dando a notícia para Kaylor e Audrey. Minha irmã era a verdadeira herdeira de Velares e acabei tirando isso dela, agora ela é rainha de um reino podre, envolvido pela magia negra de Sam e a culpa é toda minha.

     -Você está bem? - O príncipe de Hansport pergunta.

     -Sim. - Eu sabia que Matthew não estaria ligando se dissesse ao contrário.

     -Está mentindo. - Matthew e eu estávamos quase prontos para voltar ao castelo. Subi em Trinity e o dragão se moveu esperando o príncipe subir, o mesmo permaneceu parado no meio do lago congelado.

     -Nós não estamos bem. -Disse tentando encerrar a conversa. - Vamos para casa.

     -Não.

     -Matthew, pare de enrolar! Eu estou congelando aqui. - Envolvi-me com meus próprios braços na esperança de conseguir calor.

     -Eu estava pensando em testar todos meus poderes sozinhos, mas garanto que minhas falhas vão te fazer rir. Por que não ficar aqui?

     -Vá em frente, mostre o que sabe fazer. - O desafiei enquanto cruzava os braços sobre o peito.

    O príncipe se voltou para as árvores, esticou os braços e fez movimentos alternados com as mãos. Nada aconteceu.

    Por um lado ele estava certo, aquilo era hilário. Segurei-me para não rir.

     -É estranho. - Concluiu Matthew, ele não desistia de fazer os movimentos. - Eu sinto algo correr em minhas veias, não apenas sangue mas… você sabe o quê. Mesmo assim não funciona!

    Soltei um suspiro longo, desci de Trinity para chegar perto do príncipe.

     -Concentre-se primeiro em qual dos poderes você quer usar, veja sua forma, mentalize o ataque, veja quais danos causou e quanta destruição você quer que ele faça. E depois faça isso com as mãos. - A medida que fui descrevendo cada passo, Matthew fechou os olhos, os movimentos com as mãos cessaram. O silêncio tomou conta em nossa volta, e então, suas mãos se acenderam com uma luz azul. Matthew estendeu-as novamente e lançou uma rajada de vento e neve para as árvores em nossa frente, uma crosta de gelo se formou entre elas assim que Matthew acertou-as.

     -Como você sabia disso tudo? - Matthew me olha surpreso, não demorou muito para que suas mãos se acendessem novamente, prontas para mais um ataque.

     -Leon me ensinava estes truques de concentração, achei que fosse útil no momento. Calma e disciplina. - Refleti.

     -Isso é demais! - As mãos dele agora apresentavam raios azuis minúsculos e inofensivos. Fico me perguntando o estrago que ele poderia fazer se tornasse aqueles pequenos raios em uma tempestade. Poderia ser muito eficiente em uma guerra. Disperso meus pensamentos quando Matthew me cutuca. - Eu acho que os outros poderes requerem mais concentração.

     -Tem razão, vamos voltar ao castelo e tentamos treiná-los. Vou precisar muito da sua ajuda para falar com a minha… - A voz falha, eu achava que a palavra “avó” era muito estranha para se referir a uma Deusa. - Com a Deusa da Liberdade.

     -Não. Primeiro quero te mostrar uma coisa. - Matthew se agacha aos meus pés e rodeia as mãos em volta de meu tornozelo. Estava prestes a questioná-lo sobre isso, mas os meus sapatos de couros foram logo engolidos por uma grossa camada de gelo. O objeto em meus pés foram ganhando forma, as lâminas de gelo surgiram e cheguei à conclusão de que era um par de lindos patins.

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