- Capítulo 4 - Terror

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     -Não me chame de princesa, eu tenho nome. - Respondo, desviando o olhar de seu rosto. O Príncipe se move para voltar ao meu campo de visão.

     Ao parar na frente de um poste de luz, ele começou a fazer sombra na meu rosto, o que me fez franzir o cenho.

     -Ah me desculpe, princesa. - Matthew provoca. - Porém, não tenho a mínima ideia de seu nome.

     -Haevyn. Meu nome é Haevyn.

     -Que droga de nome é esse? - O Príncipe cruza os braços.

     -Se veio aqui só pra me irritar então pode voltar para o salão. Tem mais pessoas pra ficar ouvindo você falar. - Respondo grossamente recolhendo as pernas e juntando-as ao peito.

     -Foi uma ótima oferta, mas prefiro ficar aqui.

     -Péssima escolha.

     -Talvez eu me arrependa depois. - Comentou Matthew se sentando ao meu lado no banco, fiz questão de me afastar um pouco.

     -Ainda queria saber porque está aqui.

     -Quero saber por que quer que eu saia. - Rebate o Príncipe.

     -Eu quero ficar sozinha. - Informei-lhe. Talvez desse modo ele me entenda.

    Mas que iludida fui.

     -Tem o seu quarto pra ficar sozinha. Eu gosto de ficar no jardim e ver as flores. - Sugeriu ele colocando as mãos no bolso.

     Ri indignada.

     -Está me dizendo aonde ficar na minha própria casa?! - Ri novamente, ainda não acreditando na audácia do menino.

     -Estou apenas sugerindo. - Diz indiferente.

     Eu veria Sam. Ele me faria sorrir pelo menos.

     -Esquece. Você está certo, que os incomodados se retirem. - Digo me levantando e partindo em direção ao final do jardim, perto dos portões de entrada, que no caso estavam cheios de guardas. Virei-me pela última vez para Matthew. - Aliás, vá se ferrar.

    Matthew riu, diversão dançava naqueles olhos azuis. Comecei com péssimas primeiras impressões de menino bonzinho.

     -Abram os portões. Ordens da princesa. - Digo.

     -Perdoe-me Alteza. Mas o Rei bloqueou a entrada e saída de qualquer um, incluindo a família real.

     -Mas eu…

     -Princesa me perdoe, mas não podemos quebrar ordens do Rei. - Disse outro guarda.

    Decidi não responder de volta, conheço atalhos secretos que levam para o lado de fora do mesmo modo.

    Me dirigi para a biblioteca, saudei uma sacerdotisa que trabalhava arrumando pilhas de livro.

     -Precisa de algo específico, Princesa? - Perguntou a sacerdotisa.

     -Não, obrigada mesmo assim. - Peguei uma das tochas na parede e entrei na parte subterrânea da biblioteca.

    Meu pai nunca me deixava vir aqui quando pequena, talvez tivesse medo que eu me perdesse pois aqui era um verdadeiro labirinto sem luz. Desci alguns níveis da biblioteca abaixo do solo, até chegar em uma parte em que o chão não era piso, mas sim pedrinhas e terra, iluminei com fogo meus arredores. Celas. Haviam celas ali, talvez anunciando que as pessoas antigamente eram presas aqui.

    Iluminei a cela do meu lado e tomei um susto tão grande que pulei para o lado. Uma delas tinham um esqueleto humano preso por correntes, nenhum vestígio de carne em decomposição, apenas ossos.

     -Mas que…

    Um frio percorreu minha espinha, e logo em seguida o barulho de algo caindo atrás de mim ecoa pelos corredores estreitos. Viro-me rapidamente. Havia um copo de ferro no chão. De onde aquilo havia caído? Ao final do corredor, eu vi algo se mexendo, era a sombra de alguém.

     -O que você quer? - Digo andando em direção da sombra. Mas aquilo, a medida que eu fui me aproximando, foi se tornando mais torto. Até chegar em um ponto que aquilo não era uma sombra humana, ao chegar perto de virar o corredor. Escuto um barulho, como algum osso se rompendo. E então, pulo em frente da coisa com a espada na mão direita. Eu pensava que era um lobo, mas…

    Aquilo que olhou para mim assim que pulei a sua frente, aquilo não era real. Nunca vi na minha vida. Tinha um corpo totalmente negro, em forma humana, porém parecia desnutrido, magro demais, eu conseguia ver perfeitamente a forma de suas costelas. Os braços eram finos, longos demais e as mãos eram tomadas por garras pretas assustadoramente longas e afiadas. E a cara… a cara era realmente de um lobo. Mas com olhos vermelhos como sangue e dentes pretos e afiados que escorriam algo desconhecido. A coisa rugiu para mim.

    Eu não tive tempo para gritar. Nem lutar. O medo me fez correr.

    Correr para fora daqui. Da biblioteca. Mas aquele labirinto parecia totalmente diferente de antes.

    Um desespero tomou conta de mim a medida que eu ia correndo para a rampa para subir novamente.

    Olhei para trás assim que subi a rampa, a escuridão me mostrou olhos vermelhos que me observavam. Mas não parei de correr.

    Apenas parei quando me choquei violentamente com alguma coisa e caí no chão, sem ter tempo de me proteger.

     -Hm… - Escuto alguém resmungar.

    Olhei para o lado e o Príncipe do Jardim me observava, os livros que ele segurava caíram no chão junto comigo.

     -Quando eu disse para ir para o seu quarto, não imaginava que era na masmorra do castelo. - Matthew diz se levantando.

    Estava em choque demais para xingar ou gritar com ele.

     -Você não parece nada bem. - Matthew me ofereceu uma mão para sair do chão e eu não conseguia tirar os olhos daquela escuridão. -Quer ajuda?

    A coisa rugiu quando Matthew se aproximou de mim, e partiu em nossa direção, mesmo sendo um pouco mais iluminado que o nível em que estava.

    Matthew xingou e violentamente me puxou do chão, fazendo-me levantar e sair do estado de choque. Minhas pernas voltaram a funcionar e logo eu estava correndo tão rápido quando Matthew.

    Chegamos às portas principais da biblioteca e sem pensar duas vezes me joguei no chão novamente, o Príncipe passa pela porta e agilmente a fecha. Rapidamente me levanto do chão e o ajudo a segurar a porta para que ele pudesse tranca-la.

    A coisa parou de rugir.

    Assim, nos afastamos devagar.

     -Mas que por… - Matthew começou.

     -Nem me pergunte que merda foi essa.

     -Cadê seus modos, princesa? - Matthew ainda conseguia ser sarcástico.

     -Primeiro: meu nome não é princesa, segundo: dane-se os modos, quase fomos devorados vivos por aquela coisa!

     -Pensei que fosse seu animalzinho de estimação, não ficaria nada surpreso.

    Apenas o encarei, brava.

     -Agora falando sério: que merda era aquela? - Matthew diz.

    Eu não respondi, não sabia o que era aquilo.

    Um estrondo forte vem da porta. A criatura tentava abri-la.

     -Que diabos…

    Matthew me puxou pela capa do vestido e quase o amaldiçoei por isso.

     -Vamos fingir que isso não aconteceu e não contamos para ninguém. -Disse ele.

    Apenas assenti com medo.

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