~Haevyn~
Depois que a escuridão tomou conta da minha visão, o corpo inteiro se entregou a ela. Um cheiro adocicado no ar fez com que eu caísse no sono e acordasse com pequenos movimentos e burburinhos.
As minhas pálpebras pareciam panos molhados quando tentei abri-las pela primeira vez. Meu corpo entrou em estado de choque ao analisar o ambiente. Eu estava dentro de uma carroça, não havia nenhuma abertura no teto ou nas laterais, a luz do sol entrava pelos vãos entre algumas madeiras.
Então percebi que estava acorrentada dos pés a cabeça. A armadura que Kaylor havia me dado de aniversário sumiu, dando lugar a um conjunto de vestes de algodão, manchados com alguma coisa. Rezei para não ser sangue. Meu sangue.
Mas após uma boa análise, meu corpo continuava no mesmo estado. Sem nenhum arranhão.
Não conseguia ouvir nada do lado externo, nem mesmo o cavalo relinchando, apenas as vibrações de seus cascos no chão.
A carroça parou, e mais uma vez aquele cheiro doce meu levou ao sono profundo.
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Desta vez estava no chão de um lugar que eu nunca vira na minha vida. Era tudo escuro, construído com pedras negras e grades, uma delas me prendia em um cubículo. Mais uma vez, nenhuma entrada de luz. Não sabia por quanto tempo ficara desmaiada, se era dia ou noite. Para mim tanto faz, eu só queria sair dali.
As correntes não estavam tão abundantes quanto antes, mas ainda me mantinham presa. Uma espécie de coleira de aço fora colocada em volta do meu pescoço, era dali que saía todas as correntes que envolviam minhas mãos e meus pés, limitando os movimentos.
Ouvi passos pesados vindo em direção a cela, me encolhi em uma parede. Era Sam.
Estampava um sorriso tão doce no rosto que parecia inofensivo ao olhar de qualquer um. Fui percebendo aos poucos que não era ele de verdade, e sim mais uma de suas ilusões. Sua sombra se ofuscou quando chegou perto de uma tocha. O garoto segurava um prato de comida não mãos, empurrando-o por baixo das grades.
-Coma. - Ordenou.
Levantei-me com dificuldade, apoiando-me com as costas na parede. Eu fiquei tanto tempo desacordada que minhas pernas estavam fracas agora, e minha barriga roncava apenas em olhar aquele prato farto de comida. Mas eu não poderia aceitar.
Fiquei um passo do prato, e chutei-o de volta para Sam. As migalhas de comida ultrapassaram sua sombra, mas seu rosto continuava petrificado naquele sorriso.
-Não seja orgulhosa, ou você come ou morrerá de fome.
-Eu não quero nada vindo de você.
-Pensei que iria querer encher a barriga antes da tortura começar.
Meu corpo tremeu. Tortura? Era esse meu fim?
Eu preferia morrer de fome antes que começasse a urrar de dor. A garganta estava seca também, eu precisava de água. Mas não aceitaria nada vindo de qualquer um dali.
-Sorte sua que vamos pegar leve com você, graças ao livro que nos entregou. - Uma risada maléfica ecoou pelos corredores.
O livro de feitiços.
Não. Era a única forma de enfraquecer Sam.
Era nossa única salvação, agora o livro está nas mãos do nosso maior inimigo.
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The Crown
FantasyThessália era um continente dividido e disputado por quatro reinos: Velares, Hansport, Greysand e Lorkland, que viviam em guerra há 14 anos. O conflito gerou consequências devastadoras, despertando a alma de uma criatura antiga e poderosa. Cri...