-Trouxe mais dinheiro. Talvez eu não venha amanhã. - Informei assim que entreguei o saco de moedas para ele.
-Porque?
-O rei está começando a desconfiar do dinheiro que anda sumindo do cofre dele. É melhor eu dar um tempo… por enquanto. - Completei.
-E como está a minha mãe? - Ele me perguntou. - Ah, cadê meus modos? Entre princesa, eu estava fazendo chá. -Diz ele me fazendo um convite para entrar em sua casa de madeira. Ela era simples por fora, foi construída pelas mãos do próprio pai, mas por dentro era bem decorada, limpa e organizada. O cheiro das flores que vinham de fora inundaram meu nariz assim que entrei na casa.
-Obrigada. - Disse. - Sua mãe é minha maior companheira, está fazendo as tarefas diárias.
-Eu sinto falta dela às vezes. - Ele diz enquanto olha para o chão.
Passei meu braço em volta de seu pescoço, dando-o um abraço reconfortante.
-Eu imagino. E daqui uma semana vou sentir falta de você. - Falei. E ele sabia do que eu estava me referindo, assim que um camponês completa 18 anos ele era obrigado a participar das guerras nas trincheiras. E Sam já havia completado 18 anos.
Mas algo diferente brilhou em seus olhos. Ele não parecia tão preocupado quanto eu, na verdade ele se desvencilhou do meu braço e correu até uma escrivaninha próxima, voltando com um bilhete em suas mãos.
-A guarda veio entregar esta carta para mim assim que você partiu ontem. Eu não sei ler muito bem, mas pelo que meu pai me disse a carta dizia que foram suspensas as levas de soldados para as trincheiras. - Sam abre um sorriso de orelha a orelha quando pego a carta e leio.Li mais algumas vezes para ter certeza do que a carta dizia. Algo estava muito errado lá fora e meu pai não havia me informado nada. Então as informações do meu cérebro começaram a se ligar: soldados pararam de ser enviados para o campo de guerra, hoje a noite teria um baile para recepcionar os 4 reinos… a guerra havia acabado. A paz enfim começou.
Mas... como? Como uma guerra por poder poderia ter cessado tão rápido? Como estabeleceram paz de uma hora para outra? Por que? Eu conheço o rei que governa estas terras em meus 17 anos de idade, e eu sei que ele nunca guardaria a misericórdia de outros.
Meu coração gelou, pela primeira vez eu senti medo de um simples baile. O que aconteceria de tão importante em nosso castelo para que pudesse reunir todos os reinos de Thessália?
-Isso não é incrível?! - Exclamou Sam, com um sorriso no rosto. Mal pude parar de sorrir. - Eu pensava que você já sabia.
-Não, o rei me abstém de informações como esta. Mas hoje a noite terá um baile no castelo e reunirá todos os reinos.
-Isso é maneiro. Eu queria ser um Príncipe. - Diz Sam observando o nada. -Mas eu queria ser como você.
-Como assim como eu? Mimado?
Sam e eu demos boas risadas. Mas eu sabia do que ele estava falando.
-Vou ter que voltar mais cedo hoje, Leon antecipou o treino hoje por causa do baile.
-Ah. Mas amanhã você volta?
-Se tudo der certo, sim. - Sorrio.
Sam sorri junto comigo, e leva suas duas mãos a cada lado do meu rosto e damos um longo beijo.
-Eu te amo. - Sussurro.
-Eu te amo ainda mais. - Responde ele.
Voltei para o castelo o quanto antes.
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O treino com o Leon hoje foi um pouco menos pesado do que o anterior.
-Está cansado, Leon? - Provoquei vendo a lentidão de seus movimentos.
Não o deixei responder assim que me curvei por cima dele, passei a espada de treinamento por sua perna o fazendo cair de costas no chão e apoiei o joelho em seu peito, deixando a espada repousar sobre seu largo pescoço.
-Ou você que está eufórica demais. - Comentou o capitão tentando se levantar do chão. A frase dele fez sentido, Sam me deixava alegre.
-Eu serei coroada rainha daqui alguns meses, tenho que ser uma comandante que saiba proteger o povo.
-Já escolheu um Príncipe para se casar, então?- Leon me lembrou do pequeno detalhe que existia entre eu e a coroa.
Suspirei fundo, estressada. Desde pequena eu fui criada para ser uma governante, já que minha mãe não conseguia mais engravidar de outros filhos: existia apenas eu e minha irmã. E eu era a mais velha. Porém, uma rainha precisaria de um rei, para que no futuro pudesse gerar herdeiros. Então, eu precisaria arranjar alguém para me casar.
Eu já havia planejado tudo, mudando apenas alguns detalhes: amanhã eu iria escolher qualquer Príncipe daquele baile para que eu pudesse oficializar um falso romance entre nós dois, para que eu pudesse receber o título, e Sam… ele seria um bom amante. Ninguém iria desconfiar, por que eu seria rainha e todo o povo me ama sendo a Libertadora.
-Tenho uma lista até. -Menti. Mas Leon percebeu a carregada ironia da minha voz.
-Se acalme. Tem o baile de hoje para escolher.
-É por isso que eu estou ansiosa.
Era mentira. Tudo o que eu estava falando era mentira. Eu não estava ansiosa para ver homens hoje à noite. Eu estava ansiosa para que meu pai me apresentasse como a princesa herdeira durante o jantar de gala.
-Você está cheirando a peixe. -Disse Leon assim que passou por mim. - Vá tomar um banho, está dispensada por hoje.
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Pedi para Kaylor preparar um banho para mim, enquanto escolhia um vestido para usar hoje à noite.
-Tem alguma recomendação, Kaylor? -Disse enquanto olhava cada vestido no closet. Aquilo estava uma verdadeira bagunça. Tenho quase certeza que Kaylor me mataria se visse como deixei o quarto em questão de minutos.
-Você escolhe, alteza.
-Queria usar algo como…. Ah! - Minha mão repousou sobre o vestido perfeito.
Depois de um longo banho, coloquei o vestido preto cheio de brilhantes, ele era totalmente fechado na parte da frente, mas as costas eram abertas. Só não se tornavam tão vulgares por o vestido continha uma capa preta e transparente, também enfeitava com vários brilhantes.
Kaylor fez um coque simples em mim. E o toque final foi o melhor: uma tiara. Simples. Mas era uma tiara.
-Você está linda, Vossa Alteza.
-Tudo graças à você, Kaylor.
-Sam se apaixonaria em você se te visse assim.
Um sorriso envergonhado se abriu em meu rosto.
-Sim. - Respondi.
Do lado de fora, me encontrei com Audrey. Ela estava tão linda, ela era quase como meu oposto. Usava um vestido bege com alguns enfeites rosas, e os cabelos loiros como os meus foram deixados soltos e ondulados, ela também usava uma tiara cor de rosa e sorriu assim que me viu.
-Nem preciso falar o óbvio… - Eu disse assim que a vi. - Está radiante.
-Você também. - Audrey segurou minha mão. - Está pronta? -Nós paramos em frente às escadas. Pude ter uma ampla visão do salão lotado.
E neste momento, nunca vi tantos olhares se voltarem para a gente de uma só vez.
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The Crown
FantasyThessália era um continente dividido e disputado por quatro reinos: Velares, Hansport, Greysand e Lorkland, que viviam em guerra há 14 anos. O conflito gerou consequências devastadoras, despertando a alma de uma criatura antiga e poderosa. Cri...