- Capítulo 19 - Ruby

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     Mesmo sem nenhuma condição de andar, fui em direção ao Matthew, que continuava agachado ao chão. Nora esteve ao meu lado o tempo todo, oferecendo apoio para que eu não caísse.

     -Matthew vamos embora a guerra já acabou. - Alertei, tocando no ombro do príncipe.

     -Não, Haevyn. Você não está entendendo, a Ruby chegou, eu vi! - Os olhos do príncepe estavam presos ao chão.

     -Matthew se acalme, vamos para o castelo de Greysand e lá pensamos no que fazer. - Assobiei e logo uma figura azul vem planando pelos céus. Trinity nunca me deixa na mão.

    Nora e Júlio nos ajudaram a subir no dragão. Matthew ainda parecia estar em choque quando começamos a voar. Senti falta de seus comentários desnecessários, mas estou sentindo ainda mais falta do meu tornozelo saudável.

    As tropas de Greysand se acolheram ao castelo, enquanto as de Hansport e Lorkland permaneceram no campo, alertas. Ao aterrissar na parte mais plana das muralhas do castelo, pude notar o quão belo era. O castelo parecia ser pintado por vários tons de cores, mas na verdade, eram apenas flores que enfeitavam cada contorno de janelas e portas. Pousamos em um amplo jardim artístico, por sorte, Trinity não destruiu nada.

    Alguns curandeiros me levaram até uma sala de primeiros socorros, Matthew estava na maca ao lado. Preferi não ver o estrago feito em meu tornozelo, apenas tombei a cabeça para o lado. O príncipe invernal me encarou, estava silencioso demais.

     -O que você exatamente viu, Matthew? - Pergunto.

    O jovem príncipe esfregou as mãos, nervoso, nem pareceu notar que algumas curandeiras tentavam medir sua temperatura.

     -Foi aleatório, me pegou de surpresa. - Matthew diz, sua voz não passava de um sussurro.

    -Eu vi uma grande embarcação branca, alguns homens perambulavam pelo convés do navio, mas eles pareciam diferentes… - Parecia que o príncipe tentava encontrar as melhores palavras para descreve-los.

     -Diferentes?

     -Não eram humanos, posso ter certeza. - Os olhos azuis de Matthew se tornaram melancólicos.

   É claro que não eram humanos. Libertália era um continente dotado de magia por milênios. Kaylor me contava histórias sobre esse reino. Ele era protegidos por guerreiros mágicos, poderosos e bem mais fortes fisicamente.

   Comecei a ficar nervosa, para piorar observei meu pé sendo suturado. Tornei o olhar ao garoto do meu lado e ele continuou a contar.

     -Eles eram mais fortes do que um homem normal, a maioria de cabelos compridos e segurando armamentos pesados. Todos eles tinham uma tatuagem no braço de uma árvore com galhos graciosos e raízes poderosas. O mesmo estava grafado na ponta do navio, provavelmente o símbolo de Libertália. Eu… - A voz de Matthew falhou, dei tempo para que ele se recompusesse. - Eu vi uma mulher.

   Meu corpo se tencionou a ponto de sentir um formigamento na sutura.

     -Era a Ruby?

     -Com certeza. Era uma mulher bonita, daria no máximo uma aparência de 30 anos, mas muito bela. Cabelos vermelhos lisos e longos, maquiagem pesada, pele dourada e unhas extremamente afiadas. A coisa que me chamou mais atenção foi uma horrenda cicatriz que se estendia da sobrancelha até as bochechas da mulher, verticalmente.

     Matthew traçou em seu próprio rosto o tamanho da cicatriz que viu. Era assustadora. O príncipe continuou.

     -A visão que eu estava tendo naquele momento me lembrava a forma de um pássaro sobrevoando a embarcação.

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