~Haevyn~
O tempo não importava mais. Depois de algumas sessões de tortura, os encapuzados me transportaram de novo para a sala sem janelas, e eu não sabia quanto tempo fiquei ali no chão úmido, chorando, murmurando e rezando por ajuda. As costas pareciam estar em carne viva, mesmo depois de alguns curandeiros terem a curado de maneira mágica. Passei a mão levemente pelas feridas que agora davam lugar a grossas cicatrizes. Mesmo com os machucados totalmente curados e sem escorrer nem um único filete de sangue, a dor psicológica ainda permanecia, ela estava sempre ali.
Sam nunca mais voltou. Agradeci por isso. Rei Erick, entretanto, passava pelo corredor de vez em quando, nunca fazia contato visual comigo. Ele era um homem com a alma vendida, por quanto tempo estava desse jeito eu não sabia… Não tinha certeza de mais nada. Me esforçava muito para pensar no meu grupo de amigos sem que meu estômago se revirasse, sem que eu precisasse virar de lado e vomitar algumas migalhas de comida que havia conseguido comer.
Também não conseguia dormir, qualquer posição fazia com que os músculos das minhas costas se contraíssem de maneira dolorosa. Soltei um gemido quando um dos guardas bateu a lança no meio das grades, obrigando-me a levantar.
Eu já sabia o que esse som significava. Mais uma vez a salinha de tortura me esperava. E a cada chicotada, cada corte, meu corpo cedia mais para a escuridão. Mas nunca por completo. Não deixaria que ela me consumisse assim como fez com rei Erick.
Ao me amarrarem na mesa novamente, consegui ouvir a conversa abafada do lado de fora. O assunto girava em torno de um deslocamento em direção Sul, ao capitólio de Velares, ao castelo, à Sam.
Eles me levariam para Sam. E eu não estava preparada para me encontrar com ele pessoalmente, da última vez, tentei enforcá-lo enquanto dormia. Não conseguia imaginar o quão perverso Sam poderia ser ao me ver neste estado, totalmente incapaz e desolada. Quanta tortura eu ainda estava por sofrer.
Sem que me desse conta, lágrimas pingaram na mesa de metal, molhando minhas bochechas. Elas vieram a tona acompanhadas com soluços, minha respiração se tornou irregular.
Não desista, Libertadora.
Uma voz tão doce quanto as macieiras de Greysand soou no cômodo, ela estava ecoando por todas as paredes.
Mantenha-se forte. Vai acabar logo.
Fora a voz mais calma que já escutara em minha vida.
Virei o pescoço para o lado oposto, semicerrando os olhos assim que uma forte luz branca brilhou de volta. Uma mulher de cabelos loiros e armadura perolada me encarava com um sorriso meigo nos lábios. Ela estava de joelhos no chão, mantendo o mesmo nível que eu.
Não tema, minha filha.
Filha.
Mais lágrimas vieram quando me dei conta de que aquela mulher ajoelhada ao meu lado era minha mãe.
-Mãe. -Sussurrei com dificuldade. Minha voz não passava de um sopro.
Filha. Morgana respondeu de volta.
-Eu estou com medo. - Solucei.
Eu sei, minha querida. Até as pessoas mais fortes sentem medo.
-Eu não sou forte, mãe. Não sou forte como você era. Não foi forte como minha avó.
Não pense desta maneira. Você é a mulher mais forte e poderosa que eu já vira em toda minha vida.
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The Crown
FantasyThessália era um continente dividido e disputado por quatro reinos: Velares, Hansport, Greysand e Lorkland, que viviam em guerra há 14 anos. O conflito gerou consequências devastadoras, despertando a alma de uma criatura antiga e poderosa. Cri...