Subi as escadas tremendo. Eu estava branca e Matthew havia se despedido de mim no corredor antes de voltar para a festa. Entrei em meu quarto e olhei diretamente para a janela, caminhei até ela e me apoiei no parapeito. "Quanto tecido eu vou precisar para chegar até lá embaixo?".
Eu sabia que não era uma ideia inteligente, mas eu precisava sair do castelo.
Vou até meu closet e começo a vasculhar algumas camisolas velhas, algumas que estão curtas demais.
Comecei a dar nós nas pontas dos tecidos, crescendo cada vez mais a corda. Olhei para o tecido e achei o suficiente.
-Eu espero que isso segure. - Digo para mim mesma assim que amarrei no pé da minha cama.
Passei as pernas pelo parapeito da janela e segurei firme na corda de tecido que eu havia criado. Meu plano era aterrissar calmamente no telhado. Fui descendo aos poucos, eu não desisto fácil do meu destino e teria de contar para o Sam o que aconteceu. Eu estava na metade do percurso quando meu pé escorregou na parede de pedras lisas, fazendo com que me chocasse contra a parede. Resmunguei de dor, mas logo parei com o som de algo rasgando. E infelizmente era a corda.
Comecei a descer mais rápido, e a corda de tecido começou a balançar demais, algum nó estava se desfazendo.
-Merda! - Gritei quando a corda escorregou entre minhas mãos e caí diretamente no telhado, que era mais inclinado do que eu havia imaginado.
Bati as costas no telhado e gemi de dor, logo eu já estava deslizando para fora do telhado com uma queda ainda maior. Sem pensar duas vezes saquei a espada do cinto e raspei no telhado, diminuindo a velocidade. Chegando perto da porta a capa do vestido me salvou de uma alta queda.
-Merda. - Repeti de novo. Eu só precisava de um pequeno impulso para passar da muralha, então rasguei a capa e me deixei escorregar. Chegando à ponta do telhado do castelo flexionei as pernas e me impulsionei para a frente.
Consegui alcançar a parede de segurança do castelo, eu deveria ter pensado melhor em ter vindo de vestido. Pois o mesmo me fez escorregar para o lado de fora.
E eu caí.
De novo. Mas desta vez senti um grande ardor na minha perna direita. Eu havia conseguido cortar o vestido e a perna.
Saí correndo assim que ouvi passos se aproximando, não podiam me pegar nesta situação, neste momento.
Ao chegar na cidade, andei pelos corredores escuros para que não me reconhecessem como a princesa. Eu cheguei na estradinha de terra que chegava até uma casa mais isolada perto do rio que estava iluminada por lampiões. Dei 3 batidinhas na porta, levemente.
Sam atendeu à porta, estava com sono e os cabelos estavam descabelados.
-Haevyn? O que aconteceu? Está tudo bem? - Disse ele preocupado assim que olhou para o vestido rasgado e o corte ainda avermelhado na perna.
-Eu caí de uma altura de aproximadamente 10 metros. Mas eu não quebrei nada. - Disse simplesmente. Sam por outro lado me olhou incrédulo e me acolheu em sua casa.
-Diga que isso não foi só para me ver?
-Não se sinta culpado. Eu… eu tenho muitas coisas para contar.
-Era para você estar no baile. - Ele me disse me ajudando a sentar no sofá da sala, enquanto buscava alguns medicamentos e bandagens em uma caixinha branca.
-O baile foi um fracasso para mim.
-Por que?
-Sam… é tanta coisa. A que mais me abalou foi que minha mãe está grávida.
Sam abriu um sorriso inocente, ainda não percebeu a gravidade disso.
-Parabéns! Ficou feliz?
-Sam, eu perdi o trono.
O garoto viu minha preocupação e o sorriso sumiu de seu rosto, agora adotando uma expressão melancólica.
-A nossa vida, juntos… se foi. -Eu disse, meus olhos quase encheram de água.
-Não pense assim, Haevyn. Ainda é uma princesa.
-Mas eu não serei tão poderosa quanto meu irmão. O pior nem é isso, meu pai quer o representar na guerra em meu lugar.
Sam me deixou perder o controle enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto.
-Quando essa guerra começar ele vai ser uma criança. Uma inocente criança! -Eu disse.
Sam sentou-se em um banco na frente do sofá e pediu para que eu esticasse a perna.
-Não é justo. Com ele, com você, com ninguém.
-Reis e rainhas não sabem o que é justiça. - Anunciei friamente.
Sam começou a limpar o machucado, eu resmunguei.
-Você não merece isso. - Anunciou Sam depois de alguns minutos de silêncio atando meu machucado.
-A vida é um injusta, Sam. -Falei. - Você é uma pessoa boa demais para viver nesta situação, passando fome. Enquanto existem a minoria de pessoas mesquinhas que vivem no luxo e não se importam com outros seres humanos.
-Não fale assim… existem exceções. Você é uma. - Sam sentou-se ao meu lado e me aconchegou em seus braços.
-Por que então que as exceções não são ouvidas?
-Um dia serão, Haevyn. Um dia… - Ele diz quanto fazia um carinho em meus cabelos.
Do nada a imagem daquela criatura horrível surgiu em minha mente. Sam percebeu meu suspiro repentino.
-O que foi? - Perguntou ele.
-Você acredita que possam existir criaturas… que não sejam daqui?
-Como…? - Sam parecia confuso, nem tinha ideia do que passei nesta noite.
-Magia. Criaturas mágicas… você acredita?
-Eu não duvido de nada deste mundo. Meu sonho era explorar qualquer coisa.
Olhei para Sam, ele se curvou e depositou um beijo na testa, logo foi nas bochechas e então na boca.
-Você irá. - Prometi.
Ele me abraçou mais forte como se dissesse "eu acredito."
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The Crown
FantasyThessália era um continente dividido e disputado por quatro reinos: Velares, Hansport, Greysand e Lorkland, que viviam em guerra há 14 anos. O conflito gerou consequências devastadoras, despertando a alma de uma criatura antiga e poderosa. Cri...