- Capítulo 14 - O Mago dos Quatro Reinos

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    O caldeirão se acendeu com uma fumaça roxa, que oscilava entre tons de azul e verde. Às vezes até vermelho como lampejos. Primeiro o mago direcionou a mão para Matthew, o príncipe enrijece a postura disfarçadamente.

     -Sua magia é rara, garoto. Perigosa. Tem que tomar cuidado, não apenas em ser caçado, mas também pode machucar alguém ou a si mesmo. Cada traço de sua magia está ligada à um sentimento. - A medida que o senhor falava, as formas das fumaças do caldeirão mudavam de forma, congelando na imagem de um príncipe representando Matthew. - O nome desta magia é Transformante, pois nunca é a mesma. O fogo vem da raiva ou da paixão, a calma vem do gelo, a eletricidade vem da proteção, o medo é do teleporte e os Olhos do Mundo vem da curiosidade.

     -Eu tenho tudo isso?! - Matthew encara as próprias mãos, talvez ele tenha percebido que será uma ótima carta na manga na guerra contra Sam e Ruby.

     -Sim. E apenas você consegue fazer com que o poder fique à seu favor. Treinamento é o que precisa. Lembre-se destas palavras garoto: calma, disciplina e concentração.

     -Eu diria… obrigado. Agora eu sei o que… preciso fazer, eu acho. - Matthew guardou as mãos dentro do bolso de seu grande casaco. O príncipe ficou quieto o resto da conversa.

     -Quanto à você, rainha, tem que entender de onde você veio.

     -Eu vim de Velares e eu preciso salvar meu reinado e meu irmão. - Minhas costas se tencionam quando me apresento.

     Tinha a impressão que nem eu mesma sabia de minha própria origem. Depois de tantas falhas, quem sou eu agora?

     -Não. Você não veio de Velares. - O mago passa a mão por cima do caldeirão, a fumaça se transforma.

    A cor do caldeirão mudou de forma brusca. Um azul calmante se transformou em um vermelho gritante. A imagem da fumaça representava uma mãe segurando uma criança.

     -Sua mãe foi uma mulher temida, tanto por este continente como por vários outros. - Minha respiração acelera quando percebi que o senhor me encarava mesmo por baixo do capuz.

     -Quem foi minha mãe? - Tive o receio de perguntar.

     -Nunca foi rainha de Velares. - O mago fez uma pausa dramática. - Sua mãe era filha da Deusa da Liberdade.

     -Espere aí… quê? - Eu havia recebido tanta informação de uma vez que me dispersei. - Como? Mas eu sou a herdeira de Velares!

     -De sangue você não é. Você governa algo bem maior do que Velares, bem mais poderoso. O reino de Libertália é todo seu.

    Libertália. Aquele não era um nome estranho para mim, na verdade, Kaylor me contava histórias quando eu era pequena sobre este lugar… ele era descrito como um paraíso, bem mais colorido do que Velares, o povo vivia feliz e a comida era farta para todos. Para mim, Libertália não passava de um conto de fadas. Agora descobri que ela existe e me pertence.

     Mas Libertália era um continente do outro lado do oceano, como eu poderia ser dona de tudo aquilo?

     -Quem era a Deusa da Liberdade?

     -Ruby. - O mago não fez questão de transparecer minha surpresa.

    Matthew engasgou e minha boca abriu com uma grande expressão de pavor. Pavor, não medo.

     -Impossível! Ruby é a Deusa do Mal.

     -Isso é o que eles fazem vocês pensarem. Ruby por muito tempo foi uma guerreira poderosa, batalhadora e sempre buscava por liberdade, pois este era seu maior dom. Não importava como ela chegaria até essa liberdade, mas já chegou a derrubar continentes inteiros em guerras. Ela é considerada a maldição de todos os reis e rainhas, pois estes sabem que o nosso sistema é desigual e totalmente desumano. Sua mãe, Morgana, não deixou de ser uma guerreira, se tornou ainda melhor. Mas ela era metade humana, o poder não corria diretamente em suas veias, mas ela nunca precisou deles para alcançar o que queria, até chegar em Velares…

    O caldeirão mudou sua cor para um azul escuro e as fumaças foram oscilando de movimento como se fossem ondas, na verdade estavam representando o mar. Havia uma embarcação minúscula no meio daquelas ondas selvagens e então o navio sumiu.

     -O barco em que ela estava era protegido com magia, mas ao chegar perto de Thessália, o continente sugou toda a proteção. O navio afundou antes mesmo de chegar perto do litoral. Sua mãe saiu viva e buscou refúgio no castelo, estava uma tempestade forte lá fora e sua mãe…estava grávida de você. Ao ser acolhida pela rainha, Morgana deu à luz. Mas ela viu em seus olhos que não sobreviveria sozinha. Morgana utilizou seu último suspiro de vida para enfeitiçar toda a população de que haveria uma princesa corajosa e herdeira que assumiria o trono de Velares… e o nome dessa princesa seria Haevyn, a Libertadora.

    Por um breve momento achei que iria desmaiar. Matthew até me ofereceu apoio com um dos braços, mas voltei a postura novamente.

     -Não foi apenas uma coincidência, rainha. Foi uma profecia. - O senhor continuou.

     -Mas como ela enfeitiçou todos sendo que não existia magia aqui?

     -A magia dela era rara, assim como a do garoto ali. - O mago apontou para Matthew, que voltou a prestar atenção à conversa. - Mas era escassa, demandava muita energia e como ela estava fraca… Ruby está a caminho agora. Ela está procurando Morgana, mas mal sabe que ela está morta. Então, rainha, aconselho você de falar com Ruby antes que ela chegue aqui e sua raiva destrua todo o continente de Thessália.

     -Como falarei com ela sendo que nem sei onde ela está?

     -Utilize a ajuda de seu amigo. - O príncipe de Hansport foi mencionado novamente. - Um de seus poderes são os Olhos do Mundo. Ele pode ver o que quiser e quando quiser.

     -Eu posso? - Matthew já estava branco àquela altura.

    Todas as informações daquele mago eram verdadeiras e dolorosas. Para Matthew, descobrir que tem um poder raro em um continente que abomina a magia é assustador. Para mim, descobrir que minha vida foi uma completa mentira desde que nasci e que Sam não é meu maior problema agora... Prefiro não concluir o pensamento.

     -Eu não sei como te agradecer por tudo isso, Senhor… - Tentei procurar algumas moedas no bolso, mas eu tinha deixado todas em cima da cama antes de sair, poderia oferecer qualquer quantia em dinheiro por tudo o que ele nos alertou. O mago andou por volta do caldeirão e puxou minha mão do bolso, por uma ironia do destino o cabo da minha espada destruída por Sam caiu no chão. O barulho chamou atenção do homem mais velho que pegou o objeto do chão.

     -Era sua espada? - O mago analisava cada traço do cabo que permaneceu intacto, e voltou ao seu lugar no caldeirão. Apenas pude afirmar. - Criarei uma nova para você. - E então o cabo foi mergulhado na densa fumaça que saía do caldeirão. A medida que o objeto foi sendo retirado, pude ver que sua lâmina estava intacta, mas feita de um material diferente, azul. O mago jogou a espada para mim e a peguei com a maior precisão. O azul da lâmina refletiu quando virei a espada para analisá-la por completo.

    O homem colocou as mãos novamente no caldeirão e puxou um poderoso escudo feito do mesmo material. Em sua frente estava grafado a palavra “Libertália”.

     -Os objetos são feitos de diamante e ouro, não desperdice-os. A espada se chama Diamantina, é o objeto mais afiado já feito, tenha cuidado. E o escudo é revestido por camadas de ouro, diamante e magia… ele é inquebrável.

     -Senhor, eu...

     -Me chame de Milo. Sou o Mago dos Quatro Reinos. Não precisa me agradecer, Haevyn…

    Preferi não perguntar como Milo sabia meu nome.

     -A única forma de você me agradecer será salvando este continente. - Diz Milo enquanto me entregava o escudo. - Liberte-nos, rainha.

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