Capítulo 5: A pior melhor parte

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Os dias seguintes foram de muito trabalho. Querendo ou não, eu era a líder da equipe e era meu dever elaborar uma bela campanha. Apesar do projeto envolver o homem que eu mais desprezava, eu precisava ser profissional. Era o que Steve e todos os outros esperavam de mim. Jurei para mim mesma, que não era aquele tal de Timberlake que iria atrapalhar meu trabalho. Não era à toa que eu ocupava o cargo de diretora e eu iria fazer valer o meu posto. Felizmente publicitários não precisam, necessariamente, manter contato com "garotos propagandas". Todo o material envolvido na campanha, como fotos e vídeos, nos eram enviados pela equipe técnica. O que cabia a nós, da agência, era a edição desses conteúdos, bem como a elaboração dos textos publicitários.

Foram aproximadamente três semanas desde o início até o final do projeto. Era pouco tempo para botar a mão na massa, mas muitos dias para conviver com a fuça daquele homem. Dezenas de ideias foram jogadas à mesa. Muitos "nãos" e muitos "sins" que depois tornaram-se "nãos" novamente. Muita coisa foi bloqueada senão alterada. Queríamos somente aquilo que fosse fantástico.

Foi um período extremamente exaustivo para mim. Eu mal tinha tempo de falar com Melissa e nossos almoços juntas foram todos adiados. Era impossível ter uma hora inteira para descanso. Os saborosos pratos do restaurante foram substituídos por lanches rápidos. Além de ter que aturar meus colegas de trabalho alucinados pela estrela da campanha, fui obrigada a levar aquilo para casa.

Eu vivia cercada por fotos do Justin. Hora ou outra encontrava alguma embaixo do meu travesseiro. Também perdi a conta de quantas vezes tive de assistir à esquetes dele falando o slogan com um sorriso estampado no rosto. Com o tempo tudo aquilo tudo foi ficando habitual. Habitual até demais. Os dias foram passando e seus traços foram se tornando familiares para mim. E essa foi a pior - ou melhor - parte. Comecei a vê-lo com outros olhos, com os olhos dos outros.

É quase inacreditável como aquela imagem ruim se desfez em minha mente. E por mais que eu lutasse contra aquilo, os sentimentos bons me dominaram por completo. Houve um dia em que, enquanto revisava os vídeos na TV de casa, acabei encontrando um arquivo com erros de gravação. Quando dei por mim, já estava rindo junto com ele. Justin conseguia ser engraçado e charmoso ao mesmo tempo. E eu não conseguia. Não conseguia compreender como seu par de olhos azuis foi capaz de fazer uma lavagem cerebral em minha pessoa.

Todo o ressentimento causado pela terrível experiência que vivemos juntos foi rapidamente amenizada. De repente, eu comecei a me identificar com ele, a simpatizar com seu jeito de ser e, desse momento em diante, foi ficando mais prazeroso trabalhar. Todos notavam o meu bem-estar na agência, diziam que era mais agradável conviver comigo assim. Embora eu mesma não soubesse o motivo de estar mais alegre. Até mesmo Melissa, nas poucas vezes em que nos encontramos, começou a notar algo diferente em mim. Algo diferentemente bom. E eu simplesmente não contei nada a ela. Não faria sentido.

Nem eu mesma tinha certeza de que minha mudança de humor tinha ligação com Justin, mas se tivesse, acho que Mel não seria a melhor pessoa para eu conversar sobre o assunto. Portanto, permaneci, assim, calada enquanto sentia aquela afeição prender-se cada dia mais a mim.

Comecei a acreditar que Justin não era uma má pessoa e que, provavelmente, aquela noite aconteceu por um infeliz momento de fraqueza. Afinal, todos nós erramos em alguma ocasião da vida. Às vezes nos desviamos do caminho correto, porém, isso não significa que somos pessoas ruins. E eu aprendi que se aprende errando. Alguma coisa mais forte que eu, me fazia achar que ele havia se arrependido do que fez. Mas se isso realmente aconteceu, eu não iria saber.

O apreço que eu sentia por ele era só um mero devaneio. Eu sabia que seria quase impossível nos revermos um dia. Por mais que agora eu preferisse ouvir suas músicas ao invés de lembrar da noite no motel. Com esses pensamentos positivos, a jornada de trabalho passou mais depressa do que eu esperava e quando notei, todos da agência já estavam novamente reunidos à espera da aprovação da campanha.

A História de Anny Scrooballs [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora