Recomeço

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Domingo:

E aqui estou eu, outra vez, bem aonde começamos, comendo pipocas. Não é que eu não goste de pipocas, é só que, eu sinto que não deveria comê-las. E por isso, elas não têm gosto nenhum.
Parece que cada uma que como agarra em minha garganta, criando um nó. Sinto como se o óleo já escorresse em minha pele, não quero nem pensar o quanto ainda vou engordar por causa disso.

Lance e eu estamos assistindo filme no meu quarto, porque fica mais escuro do que na sala.

Ele esta preocupado com eu ser antisocial, depressivo, anoréxico, sensível, frágil e completamente apaixonado por ele.
E o fato de eu não estar muito afim de sair de casa não foi o suficiente pra parar ele.

Ele veio pra ver filme. Star Trek, é o meu favorito e todos sabem.

Parece tão constrangedor  quanto é: meu crush se ofereceu pra vir ver meu filme favorito e comer meu sabor de pipoca favorito, na minha casa, porque ele está preocupado.

Não me leve a mal, eu sou muito grato. E eu realmente amo ele, e amo a idéia de que ele se importe. Mas a vontade de morrer simplesmente não melhora quando penso que o único motivo pelo qual ele está aqui é pena.

Sinto no ar o quão nervoso ele está, como se qualquer coisa pudesse me ferir. Ele está pisando em ovos, tenando cuidar do pobrezinho do Keith, tão problemático.

Não é que eu não queira ele por perto.
Eu só não quero ter que aturar todos os olhares em mim toda vez que passo, ou sentir a insegurança que surge toda vez que penso que vou ver ele. Não quero ouvir nenhum elogio falso, sabendo que não sou bom o bastante para estar com ele.

Não quero ter que me olhar no espelho mais do que uma vez por dia.

-Keith, está tudo bem?- Lance sussurrou do meu lado - Vocês parece distante.

Merda! Eu tô tão cansado dessa pergunta. Não é  como  se eles realmente quisessem ouvir a resposta, que se fosse honesta seria "não", mas permanecem repetindo a perguntando. Não param de me encher o saco com isso "Você está bem?", "Como você está?", "Você está muito quieto!", "Você precisa sair mais!", "Keith eu estou preocupado!"

-Quase... - respondi me virando para ele, esbarrando meu nariz no seu por causa da proximidade

E que proximidade maravilhosa!
Ficamos assim por alguns momentos, minutos provavelmente, antes de eu o beijar.

E que beijo maravilhoso!
Ainda me sentia nas nuvens quando Lance nos separou, me olhando confuso.

-Mas você disse que...

-Eu mudei de idéia. Droga Lance, para de deixar as coisas complicadas e me beija.

-Agora eu que estou complicando as coisas? - ele começa a dramatizar, mas então apenas balança a cabeça em negação rindo - Por mim tudo bem.

E é minha vez de ficar surpreso com ele me beijando, mas não existem motivos pra reclamar.

Quase três horas depois, Lance vai embora e eu subo pro meu quarto. Sinto um nó apertar minha garganta, eu comi pipocas de mais. Consigo sentir meu estômago contraindo, em desespero, corro pro banheiro para vomitar mas me paro na porta.

Não, não, não, não.
Mordo a língua, sentindo o gosto ruim espalhar pela minha boca, mas me contenho. Respiro fundo e parece que meus pulmões também pesam.

Eu ainda não estou acostumado com isso. Cambaleio até meu quarto e pego uma garrafa de bebida que mantenho escondida no guarda-roupa. Vai servir por hoje.

Pouco depois me encontro nesse ponto, aonde não tenho mais certeza de nada. Me deito no chão, fitando o teto. É como se eu não fosse eu mesmo nos últimos segundos, mas outra coisa fosse eu.

Será que estou enlouquecendo?
Será que eu divido meu corpo com outro espírito, e é ele que vive os momentos que eu esqueço durante o dia, os lapsos de tempo que perco, e as memórias nas quais não me reconheço?

E se eu estiver possuído, será que eu sou o espírito desse corpo, ou o espírito invasor?

Durmo fácil e acordo cansado.
Os mesmos pensamentos passam por minha cabeça quando vejo meu reflexo, quando estou nu em meio ao banho, quando penteio meu cabelo - que agora se encontra demasiado longo, quando escolho minha roupa, e quando meu olhar encontra o dele no corredor da escola.

Mas deixo todos os pensamentos de lado e o beijo, chamando a atenção de alguns olhares curiosos.

-Uau Kogane, em público? Por essa eu não esperava!- Pidge se aproxima implicando, seu irmão ao seu lado sorrindo

-Shhh... - Lance tapa meus ouvidos, como se isso pudesse abafar o que já foi dito

-Então, vocês estão juntos sério agora?- Matt pergunta, tornando a situação estranha- Vocês ainda não conversaram sobre isso e agora eu deixei tudo desconfortável? Aposto que vocês querem me bater.

-Acho que eu vou. -pidge ameaça prendendo os lábios em uma linha e eu começo a rir

-Não tem porquê...- seguro a mão de Lance sem olhar pra ele- Não tem desconforto Matt, eu to só iludindo o Lance um pouco.

-Ouch!- o moreno finge ofensa levando a outra mão ao peito e depois da de ombros - Tudo bem por mim!

Beijo-o de novo, um simples celinho, e ele murmura "como você quiser" me fazendo corar e tirando um resmungo de nojo de pidge.

-Vocês são terriveis. Vamos pra aula!

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Feeling Bad By Being FatOnde histórias criam vida. Descubra agora