Esforço

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A idéia de estar em um pisicologo parecia a coisa mais absurda do meu dia. E olha que não foi um dos meus dias mais normais.

Eu simplesmente não consigo entender o que estou fazendo aqui! Estou sentado sozinho em um sofá pra três pessoas, enquanto esse homem ruivo me observa mexendo em seu mustache.

-Então, doutor...

-Coran!- ele respondeu com uma voz mais aguda do que eu esperava- Você deve estar se perguntando como um homem tão jovem quanto eu já tem o seu diploma de doutor, não é?

-Na verdade não...- franzi a sobrancelha, tentando imaginar de onde vinha esse sotaque

-Oh...-ele pareceu desapontado- É uma história legal, se você quiser ouvir qualquer dia.

Concordei com a cabeça, desviando o olhar para ver melhor a sala, que, por sinal, é branca de mais pro meu gosto.

-Bem...- ele voltou a dizer, ainda em um tom um pouco magoado- Então deve estar se perguntando se essas consultas não são uma perda de tempo.

-É...- fiquei um pouco constrangido ao admitir, e muito surpreso por ele saber- Não é nada pessoal, eu só...

-Não se encaixa no perfil? - ele deduziu- Pois bem, senhor Kogane, se você soubesse ver sozinho o seu perfil, talvez não precisasse estar aqui.

-Eu não entendo, eu não...

-Você acha que não pode ter anorexia porque é "gordo", diferente da Lindsey. Estou errado?- segurei a respiração por uns momentos, e então respondi, sim, com um gesto de cabeça- Acontece que, pessoas "gordas" também tem anorexia.- senti um se formar na minha garganta- Mas eu não estou aqui pra te explicar os rótulos. Você só precisa concordar comigo que está no fundo de um poço!

Concordei com a cabeça, virando meus pulsos para baixo por precaução, mesmo que estejam cobertos com o casaco.

-Se você está no fundo do poço, não importa qual poço seja, você tem que escalar pra luz, você tem que sair. E eu vou tentar te ajudar, todos vão. Mas a verdadeira luta é com você, dentro de si mesmo.

-O que eu deveria fazer?- sinto a raiva no meu tom de voz, mas não tento disfarçar- Porque eu passei os últimos meses dando tudo de mim para concertar o que está errado, o que eu sei que está errado. Fiz tudo o que podia pra não atrapalhar ninguém! Para ser quem eu quero ser, e tudo o que eu ouço é que estou errado! Todo mundo continua vindo atrás de mim!

-Comece fazendo exatamente o contrário: atrapalhe. Não se afaste dos seus amigos Keith, eles se preocupam com você.

-O problema é que no meio de tanta gente que se preocupa, não tem uma que entende.

...

A sensação que eu tinha era a de que estava correndo, e ao contrário de todas as vezes em que estive realmente correndo, agora eu estou indo a algum lugar.

Não é a minha primeira vez em um pisicologo. Quando eu era órfão, e até mesmo um pouco depois de estar na casa dos Shirogane, eu tinha consultas frequentes.
Mas quando criança eu já sabia que isso não serve pra nada. Eu só dizia o que tinha que dizer para conseguir o que queria.

Mas agora é diferente, porque eu não sei o que quero. Não é mais um prova pela qual que tenho que passar para ganhar uma família.
É um cara engraçado, que aproveita cada oportunidade que tem pra se gabar de si e contar histórias da sua cidade.

A consulta acabou, ele me deu um diário para que eu escrevesse tudo que sentisse e o andamento do meu "dever de casa", que hoje é comer.

Saio da escola um pouco perdido. Tom e Marco já foram, e é claro, todos os outros também. Já passou bastante do horário normal do fim dos treinos, só sobrei eu. E pela primeira vez, em muito tempo, eu não tenho um plano.

A escola deve ter ligado para casa dos Shirogane, ou pro telefone do Shiro, e a essa altura, eles já devem todos ter uma idéia do que estava acontecendo. E devem estar preocupados.

Me deixe ser egoísta mais uma vez, eu não estou pronto pra ir pra casa, ainda.

Não aguento mais meia hora de preocupações, conversas, bronca e castigo. Eu nao estou pronto ainda.

Envio uma mensagem pra shiro, resumindo que estou bem, e que vou sair com uns amigos mas que chego em casa para jantar.

K: Tom?

T: Ois, Já te liberaram da escola?

K: Aham. Você tá atoa?

T: Teoricamente...

K: Como assim?

T: Estou na garagem da Pidge. Ela é bem mandona, não? Seria uma ótima treinadora pro nosso time.

T: Ela quer que eu convença você a vir aqui.

T: Keith?

K: Oi?

T: Vem aqui.

Respirei fundo, tentando clarear a cabeça. Eu quero voltar para a banda, então mais cedo ou mais tarde vou ter que ir até lá.
Pelo menos Tom está lá, se alguma coisa der errado eu posso simplesmente sair de lá com ele. Sem falar que, só terei que ver qualquer um deles deles de novo na segunda. Tenho o fim de semana todo pra organizar as coisas.

K: O que eu ganho com isso?

T: Gosta de Açai?

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Feeling Bad By Being FatOnde histórias criam vida. Descubra agora