Confissões

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[Pidge]

Eu era a única na garagem quando ouvi a tão familiar confusão. Mesmo que já houvesse algum tempo desde a última, essas brigas são tão comuns para mim que é extremamente fácil reconhecer, Keith e Lance.

Sai até o quintal encontrando ambos extremamente vermelhos e irritados. Observo enquanto Lance diz alguma coisa e revira os olhos, e Keith responde o empurrando e o chamando pra uma briga corporal.

-Da pra parar com a palhaçada! - eu digo em tom de ordem e os dois param, se virando pra mim e pedindo desculpas - Não quero nem saber o que está acontecendo, vamos ensaiar. Anda! Anda!

[Lance]
[Depois do Ensaio]

Eu e Keith saímos rindo do ensaio, só lembrando da briga que tivemos depois de estarmos sozinhos, já andando para casa.

-Olha, eu sinto muito. - quebro o silêncio sem olhar para ele, apenas continuando - Para ser honesto eu nem lembro sobre o que era a briga, mas sei que a culpa foi minha.

-Não, tudo bem, eu entendo.

-Não, não tá tudo bem. Eu queria muito que estivesse tudo bem, mas aparentemente só fingir que está tudo bem já não funciona mais. Quer dizer... - respiro fundo, tentando organizar minhas palavras, e eu sei que não deveria as dizer, mas já não aguento guarda-las - Eu quero ser seu amigo, eu juro que quero, mas era muito mais fácil quando eu escondia meus sentimentos.

-Certo. Sim. É. Eu me sinto da mesma forma. Quer dizer, não exatamente. Eu também sinto que estou constantemente me esforçando pra fazer parecer que as coisas são como antes, mas ninguém vai me tratar como antes mesmo que eu já esteja melhor. Então eu meio que entendo o que você quer dizer.

-Vê, outra coisa na qual eu estou errado. Eu realmente não queria te deixar desconfortável assim.

-Não Lance, está tudo bem. - ele me para, me segurando pela mão e sorrindo - De verdade. Eu que estava errado, e agora estou lidando com as consequências. E eu não queria... Porra Lance, eu não queria friendzonar você ou qualquer coisa assim, eu só... eu gosto de ter você na minha vida.

-E eu também!- levantei a voz sem querer, movido pelo pânico de mais uma vez ter me expressado errado- Eu não estou reclamando e nem tentando impor nada, eu só estou me desculpando. Eu fico ansioso quando estou do seu lado e por isso acabei causando a briga de manhã.

-A gente resolveu o problema com... com os meninos, o Edu e tudo o mais. - ele desvia o olhar, envergonhado, e eu sinto meu coração apertar - E eu tô indo ao psicólogo, eu tô me alimentando direito, tomando remédio e todas essas merdas. Mas eu não... Lance eu não sei se tô melhorando, eu não acho que estou, nada mudou pra mim.

-Eu só não entendo por quê você me afasta. Por que eu não posso fazer parte disso com você? Tudo o que eu queria era poder te abraçar nessas noites difíceis e te mimar muito.

-Só que... Lance, eu sou apaixonado por você. - ele diz como se não fosse nada, soltando minha mão e voltando a andar, e eu o sigo tentando manter controle dos meus pasos, enquanto sinto que parte de mim está flutuando - Não tem ninguém que me importe mais, e por isso é muito difícil de aceitar que você me veja de uma forma que eu me odeio.

-Mas eu não odeio!- protesto- Eu amo cada detalhe seu!

-Não é isso que importa. - ele diz revirando os olhos, mas também sorrindo - É como se.... bem, deixa pra lá.

-Não! Não, não, não... - paro ele, o segurando pelos ombros, de frente para mim -Quer dizer, tudo bem, claro. Se você não quer falar, não precisa, eu entendo.

-Aham, sei, deu pra perceber.

-É que eu posso entender se você falar também.

-Okay...- ele fecha os olhos e suspira, demorando alguns segundos antes de começar a falar, ainda de olhos fechados - Eu sei que você me conheceu primeiro, mas pouco depois nós tivemos um momento de conexão, e eu sou apaixonado por você desde então. Não me incomodava tanto, porque eu pensei que você era hetero.

Eu? Hetero? Segurei a respiração tentando não rir, mas ele mesmo fez uma pausa prendendo os lábios em uma linha.

-Certo, eu não sou hetero, e também sou apaixonado por você há muito tempo, então, até aí, tudo bem.

-Mas aí você assumiu que era bi, e estava sempre com os meninos do time de futebol e as líderes de torcida. E eu só conseguia pensar, porra, por que você não me via desse jeito?- ele parou por um segundo, franzindo a testa, e então tirou minhas mãos de seus ombros e virou as costas- Isso não foi uma boa idéia, foda-se quem disse que a comunicação é um coisa positiva.

Me aproximei em um reflexo, abraçando ele por trás e o segurando.

-Keith, você é a única pessoa pra qual eu sempre olhei. Continua.

-Eu ficava no vestiário até você sair, só pra ficar mais tempo perto de você. E os meninos perceberam isso, e bem, eles acharam graça... - lágrimas atingiram meu braço, que envolvia seus ombros, mas a voz dele permanecia calma - E como Edu também gostava de você, as coisas continuaram de forma violenta. Eu não tinha como falar com ninguém.

-Por que não? Eu devia estar só a alguns passos do lado de fora.

-Eu estava humilhado. Quer dizer, o que você esperava que eu falasse? "Hey Lance, eu preciso de ajuda pra me defender porque virei vítima de bullying por estar apaixonado por você quando é mais que evidente que você é areia de mais pro meu caminhãosinho".- ele riu de forma seca- Não é exatamente uma declaração romântica.

-Eu imagino que esse não seja um bom momento pra eu tentar explicar como você que é areia de mais pra mim, ou como qualquer coisa que você tivesse dito teria sido a declaração de amor mais linda de todas.

-Não, não é. Mas enfim...eu não sei quando tudo piorou, mas foi definitivamente por aí. Eu ainda não acredito nessa merda toda de anorexia e sempre me entendi com minha depressão.

-Parece muito saudável.-debochei

-Tanto faz. A questão é que eu fiz de tudo pra viver comigo mesmo, e aí tudo se expôs. E agora eu me sinto constantente exposto e humilhado. Se eu estou sozinho no meu quarto, eu posso fingir que não aconteceu. Mas se eu vou sair e encontrar você, aí eu quero me arrumar, pentear meu cabelo, arrancar minha pele fora e morrer.

-Então o problema sou eu? - afrouxei meus braços ao redor dele, confuso, mas ele me segurou - Desde sua insegurança ao bullying.

-Não! O problema sou eu!

-Você acabou de dizer que fica bem quando está longe de mim.

-Não! Eu não fico! Lance, eu sigo você, o tempo todo, pra todos os lugares, e isso definitivamente não é saudável. Mas eu tenho vergonha de mim mesmo.

-Então o que a gente faz?

-Eu não sei.

-E se a gente fizesse uma sessão de filmes na sua casa? Não precisa sair, e vai estar escuro, então nada com o que se preocupar!

-Parece horrível.- ele resmunga, saindo dos meus braços e voltando a andar

-Pode ser Domingo a noite? - caminho a seu lado

-Claro.

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Feeling Bad By Being FatOnde histórias criam vida. Descubra agora