Inevitável

627 76 9
                                    

[Lance]

-...ai tipo, eu não sei cara.- Matt bagunçou o próprio cabelo mais uma vez- Eu tenho que pensar no que vou fazer quando me formar. Não é como se ficar por aqui fosse uma opção.

-Engraçado, acho que eu já ouvi essa antes!

-Certo, me julga, julga o Adam por ir para a faculdade, julga o Shiro por ter ido para o intercâmbio, como se você estivesse muito melhor.

-Ei! Ele precisa de espaço, o que eu posso fazer além de esperar? Além disso, Adam está na cidade.

-Oi?!

-Ah! Que bom que vocês estão aqui.- Pidge interrompeu me segurando pelo braço- A gente estava resolvendo umas coisas sobre a banda, assim Keith pode te explicar no caminho para casa.

-Ah, bem... - fitei o garoto, que sorriu sem graça, quase que se escondendo atrás da baixinha - Na verdade, eu estava pensando em ir direto para a casa de vocês hoje, eu e Matt...

-Claro,- ele revirou os olhos- agora você vai ficar me evitando. O que mais eu poderia esperar?

-Que? Eu não...

-Não se de ao trabalho Lance, você é péssimo em inventar desculpas, então só some de uma vez.

Keith saiu andando, correndo. Olhei para os dois Holt ao meu lado e eles pareciam tão confusos quanto eu, e são as duas pessoas mais inteligentes que conheço.

Dei de ombros e corri atrás dele, o segurando pelo braço duas esquinas a frente.

-Eu não estou te evitando. Quer dizer, eu estou, mas só porque eu achei que era o que você queria.

-Agora a culpa é minha?- ele soltou seu braço, e o apoiou na cintura em uma pose irritada

-A última coisa que eu quero é ficar longe de você. Sério. Olha, isso é tudo culpa minha. Eu não queria ter te sufocado com tudo isso, a declaração cafona, o primeiro encontro hiper romantizado, eu só... eu queria que fosse tudo perfeito, porque eu queria que desse certo.

-Como assim "desse certo"?

-Eu não queria que acabasse.- sorri sem graça, levando a mão a nuca por força do hábito- Mas tudo bem, sabe, eu entendo que eu exagerei e...

-Foi tudo perfeito Lance, você não fez nada de errado, merda, por que você tem que fazer isso ser tão difícil?

-Eu não...- respirei fundo, tentando recompor meus pensamentos empolgados e meu coração acelerado por suas palavras- Eu não quero deixar nada difícil. Eu entendo e eu aceito a sua decisão, eu sei que você já está passando por muita coisa. Eu estava só mantendo distância, tentando de dar espaço e tempo.

-Eu não preciso de tanto espaço. Quer dizer, sempre fomos Lance e Keith, neck and neck, não dá pra continuar assim?

-Claro! Claro... - tentei soar empolgado, mas apesar de sentir um certo alívio, afinal nossa amizade sempre significou muito para mim, também me sinto... quebrado- Então, a gente pode andar juntos para casa?

-Aham, - ele fez um gesto de cabeça indicando o caminho e começamos a andar- Me atualiza das coisas.

-Que coisas? Não era você que tinha coisas para me dizer sobre a banda?

-Ah, é simples. Você sabe, pidge inscreveu a gente em um festival de bandas, ainda antes de você entrar, porque ela acha importante a gente criar essa memória juntos antes de formarmos e crescermos. - concordei com a cabeça, até agora nada novo - Acontece que ela quer escolher o que cada um de nós vai vestir, e é isso. Agora me atualiza das coisas.

-Que coisas?

-Fala sério Lance. Todas as coisas, notícias, eventos, fofocas, o que anda acontecendo?

-Ah, bem, eu não tenho muito sobre o que falar hoje, quer dizer...- desviei o olhar constrangido, como eu posso falar alguma coisa se tudo que tem acontecido ou é sobre nós dois ou sobre o irmão dele?- O Adam está na cidade.

[Adam]

Eu não estava planejando encontrá-lo, apesar de passar boa parte do tempo imaginando como seria se isso, por acaso, acontecesse.

Tão pouco estava tentando evitá-lo, apesar de ter sentido muita vontade de o fazer quando o vi.

Poucos cenários poderiam ser pior do que este no qual me encontro, parado na beira da calçada, esperando o sinal fechar para atravessar a rua, de frente para meu antigo futuro.

Contato visual, constrangedor.

Eu deveria ir embora, em outra direção, me esconder em uma padaria e esperar ele sumir.

Não, eu deveria falar com ele.
Não posso atravessar, devo esperar para falar com ele.

Não, se ele quisesse falar comigo faria a mesma coisa, então eu teria que atravessar para falar com ele. De qualquer jeito eu acabaria fazendo papel de idiota.

O melhor é atravessar, acenar com a cabeça e seguir em frente.

A luz amarela interrompeu meus pensamentos, disparando meu coração e deixando minha respiração descompassada.

Eu devia ter tentado evitar ele.

O sinal fechou, a luz vermelha parecia brilhar como um holofote, como se esperasse empolgada para me ver ficar de sua cor.

Com meus pés ainda presos no chão, direcionei meu olhar as pessoas que atravessavam, e como se nada mais tivesse relevância, um unico sorriso no meio da pequena multidão prendeu toda minha atenção.

Não tentei evitar sorrir de volta, feliz, para o garoto ainda parado do outro lado da rua.

___________

Feeling Bad By Being FatOnde histórias criam vida. Descubra agora