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Jaqueline

Olho as minhas unhas, pensando como seria bom não ter vida agora, não pensar, não escolher, sofrer, chorar ou se frustar. Droga, como sou inútil, chorando por nada e sendo o peso na vida dos meus amigos, que já tem seus próprios problemas.

- Olha, você pode ficar assim o dia todo ou me contar como foi seu dia, se tomou seus remédios, se já tentou sair de casa - Esther comenta olhando para mim, mas não tenho coragem de olhar para ela.

  Poucas pessoas se importaram comigo como a Esther, sempre do meu lado, ignorando os próprios problemas quando estava comigo, isso não era certo, eu sempre ser a prioridade, eu vejo no seu olhar a tristeza, não suporto ver teus olhos cheios de boas intenções, enquanto pareço nem mesmo me importar em continuar vivendo.

- Jaqueline, sei que está triste, mas estou aqui agora, pode olhar pelo menos nos meus olhos e fingir que esta tentando? - Meu corpo arrepia ao ouvir seu tom triste e cansado.

- Você não merece tudo isso Esther, é muita barra para você carregar - Falo o mais alto que consigo e ela ri, mas sei que não achou graça.

- Pare de achar que estou perdendo meu tempo aqui bobinha, quero te ver bem, estar aqui sempre do seu lado, talvez essa seja uma das poucas coisas que eu sinto prazer em fazer - Sinto meu olho molhar e sorrio ouvindo meu coração.

- Poxa amiga, você faz tão bem pra mim - Falo olhando no seu rosto, e vejo ele se iluminar.

Ela me abraça e ficamos um tempão lá. Comecei a me sentir mal por não tentar sair de casa, ver outras pessoas, tomar meus remédios no tempo certo. Desde aquele encontro que a maioria faltou e eu tive um ataque de pânico no meio da rua com Esther, tenho medo de sair de casa e causar mais problemas, na verdade, como já disse, não estou com vontade para mais nada.

- Tia disse que você não ta tomando todos os remédios - Ela solta e sinto minha bochecha pinicar.

  Merda, ela já sabia disso. No fundo eu sabia que ela sabia disso, mas agora ouvir da boca dela parecia ser bem mais sério do que imaginava, agora me sentia uma criança de 7 anos protestando por ter que comer legumes.

- Eu simplismente não consigo, eu esqueço - Falo, tentando acreditar nas minhas próprias palavras.

- Esquece nada, você ta jogando tudo para o alto esperando o pior acontecer! - Ela exclama, consigo ver a angústia nela, com seus movimentos rápidos e músculos tensos.

- Ta tudo bem Esther, um dia eu vou melhorar - Faço esforço para convence-la que estou bem, mesmo estando claro que não.

  A loira suspira e se levanta da cama, me deixando com o coração acelerado, tinha medo das broncas dela, Esther pode ser um amorzinho a maioria do tempo, mas quando ela se chateia ou se estressa, pode ser bem fria e calculista.

    Observo seus olhos se focarem em mim, ficando um brilho fraco em seus olhos, indicando seu cansaço, mas sua expressão era esperançosa de tudo acabar bem, como ela podia ser assim? Ter tanta esperança na vida? Em mim?

- Eu sei o que você passou Jaque - Ela começa passando a língua entre os lábios - foi sequestrada, sofreu abusos, morte do... - Ela não termina, é transparente sua tristeza com as lembranças.

SECRET: Pregnant Onde histórias criam vida. Descubra agora