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Leila

   Abro meus olhos tendo a impressão que estava desacordada por dias, meu corpo todo estava cansado e indisposto, percebo que estava no hospital ao olhar para meu pulso e ver uma seringa nele, também ouvia um bip, indicando os meus batimentos cardiacos, que estavam calmos, por enquanto, porque nestante ia começar a surtar com o cheiro insuportavel de remédio, será que me doparam com isso?

- Leila! - Uma voz conhecida me fez perder o foco na confusão e desconforto.

- Esther - Percebo que não tenho muita força nas palavras ao pronunciar seu nome.

- Calma, relaxe, ta tudo bem, eu to aqui amiga - Fala pegando na minha mão com carinho.

     Comecei a chorar, claro, não estava surpresa, esses dias chorava por tudo, mas pelo menos agora teve um motivo, saudade, preocupação, problemas, gravidez...; meu coração começou a doer quando lembrei que meu bebê corria risco, pousei a mão que Esther não segurava em cima da minha barriga, sentindo uma preocupação que nunca achei que ia passar.

- O seu bebê esta bem - Ela fala depois de me ver lamentar por alguns segundos, olhei para ela com confusão, ela sabe - É, eu sei, até agora parece surreal - Fala com um sorriso de empatia.

     O bom da Esther é que ela tem muita empatia e um coração muito aberto, nunca teve preconceito com ninguém e sempre entendeu o lado das pessoas, um dos motivos deve ter sido tudo que passou na sua vida, tantas aflições e falas que muitas pessoas não suportariam, ela superou. Aposto que ela entenderia se pedisse pra manter segredo da minha gravidez indesejada, mas não deixei o pavor das notícias estarem correndo tão rápido, quanto mais tempo passada, concluia não estar preparada para contar para meus amigos, tenho medo deles ficarem contra mim.

- Não conta a ninguém, por favor - Olho pra ela, tentando não piscar meus olhos para a lágrima não cair, a última coisa que queria era me fazer de coitadinha, não sou uma coitadinha, procurei por tudo que está acontecendo.

- Essa opção esta descartada, não sou mais aquela vadia de antes Leila, pode confiar em mim - Ela diz mostrando seu arrependimento por tudo que falou de mim, sorri com carinho confirmando que ela ainda era uma das pessoas que mais confiava - mas quem sabe? - Ela pergunta e ajeito meu corpo na maca, um pouco desconfortável com a resposta que ia dar.

      Depois que contei aquilo para a familia toda, mesmo querendo que só meu pai soubesse, não deixei de notar como me olharam depois de mais alguns dias passados em minha casa. Depois que voltei do hospital, apenas tio Alex, minha tia e meus dois primos realmente se preocuparam comigo, o resto me olhava de longe e ignorava como se eu fosse um tipo de doença contagiosa, muitos olhares de nojo, critica e deboche, de muitos outros que não acreditavam em mim; ate as que tinham ficado animadas quando viram Daniel, me ignoraram e ficavam falando entre si, provavelmente mal, so disfarçaram quando minha falecida mãe ainda estava lá, falecida, uma palavra que me deixa desacreditada ainda.

- Só queria que meu pai, Jack e Daniel soubessem - Deixo minha mãe de fora, não queria falar dela, ainda não estava preparada, e nem dei a chance, pois antes dela perguntar sobre ela cortei devolvendo uma outra pergunta- E Daniel? - Pergunto me lembrando que ele foi uma das últimas coisas que vi.

- Ta lá fora - Fala depois de olhar bem nós meus olhos, como se estivesse lendo minha alma.

      Depois da Esther responder, corri meus olhos pelas janelas, não tardou para avistar meu amado sentado desajeitadamente na cadeira, enquanto dormia, sua face estava em direção ao chão, me empedindo de ver a situação da sua expressão, mas senti seu cançaso da cama que estava deitada, pelos seus cabelos bagunçados, mesmas roupas e respiração pesada. Por puro impulso tento me levantar, sentindo uma dor terrivel na barriga imediatamente, segurei minha barriga com as mãos na intensão de acalma-la, me sentindo arrependida por não pensar nele, desculpa a doida da mamãe.

- Leila, se acalme, seu filho quase morreu com poucos meses, não se estresse e nem faça movimentos bruscos - Esther fala em um tom autoritário e me encolho como se tivesse recebendo um sermão, até porque eu tava.

- Desculpa, mas ele parece tão cansado, me preocupei - Falo arrependida, mas ainda preocupada com Daniel.

     Esther olha para o teto, como se tivesse recuperando a paciência, e ao voltar a atenção para mim, abriu um espaço e sentou na cama do meu lado, ficando mais perto de mim, sua expressão estava neutra, mas sabia que tinha um milhão de coisas sentindo agora, ela é o tipo de pessoa que requer pratica para entender, pois nunca demonstra.

- Ele ficou aqui desde que você chegou, ta ali se negando a comer e a tomar banho, ja ta a sete horas ali mofando, aproveitei para entrar aqui, porque o cheiro de desespero e sovaco não combina comigo - Fala e não seguro uma risada sincera, a primeira do dia, mas na verdade não fazia nem ideia de que horas eram, mas para mim, tinha passado uma eternidade - A é, ele pediu pra te entregar isso se você acordasse e o mesmo não estivesse perto, o qual ele nunca se afastou, mas... - Ela fala do nada, e pega uma caixa em um canto que nem tinha percebido, não deixei de sorrir - É sério que você entendeu o que ele te deu? - Pergunta confusa.

      Pego o biscoito e expremo o liquido do limão por grande parte do doce, reviro os olhos ao sentir a mistura do seu sabor na minha lingua, uma das melhores coisas que já provei. Ao voltar minha atenção a Esther, ela me olhava com pavor, como se tivesse uma alienígena na sua frente, sua boca estava semi aberta e seus olhos arregalados, suas sombrancelhas formava um V com sua indignação com o que via.

- Leila, isso é uma das coisas mais nojentas que ja vi, e olha que eu vi o pau do Rodrigo - Lembra e quase me engasgo.

- Você transou com aquele lixo humano? - Agora eu que me mostro apavorada ao saber da intimidade da minha amiga com um estrupador.

- Não, Deus me livre, eu era uma babaca, mas ainda tinha senso, ele tirou a roupa na minha frente e queria me obrigar a transar com ele, mas como nessa época ja andava esperta, joguei um spray de pimenta naquela cara de cu e sai correndo, por qual motivo você acha que ele se afastou por certo tempo? - Ri com a própria vingança e mordo os lábios ao lembrar que ele ja foi namorado de Daniel.

- Você acha que se a gente... não descobrisse quem ele era de verdade, Daniel ia escolher ele? - Pergunto temendo a resposta.

-  Não, ele não é tão gostoso quanto você - Brinca e sorrio com o comentário.

- Acha que ele pode voltar? - Faço outra pergunta e ela solta o ar fortemente.

- Não, ele morreu depois de 6 dias lá - Fala e fico chocada, não fazia ideia, porém já esperava que ele fosse morrer lá, estupradores não duram muito tempo em prisões.

      O assunto tinha deixado o clima pesado, em uma tentativa de esquecer da conversa pego mais um biscoito e expremo o limão sobre ele. Sinto um calor de não sobre meu ombro e olho para Esther, que tinha uma expressão de decepção.

- Amiga para, é sério - Pede como se estivesse pedindo a uma criança mimada e reviro os olhos.

- Vocês são todos chatos, puta que pariu - Resmungo enquanto coloco a caixa longe de mim e me acomodo na cama.

SECRET: Pregnant Onde histórias criam vida. Descubra agora