31📝

95 6 0
                                    

Esther

- Amor? - Ouço uma voz familiar.

   Estava no banheiro, ja em desespero, não achava ele, eu precisava! Não tinha nada aqui que pudesse me machucar, estava tendo uma crise e reconhecia isso, mas sou fraca de mais para aguentar isso, sou uma pessoa horrível e merecia o que estou passando.

- Esther, eu sei que você esta ai - Berto bate na porta.

    Vou caindo no chão lentamente,  como se minhas pernas tivessem virado gelatina, minha sanidade tinha sido substituída por uma enorme dor de cabeça e ardor na minha pele, era como se estivesse no meu inferno pessoal, não quero que Berto me veja assim.

- Vai embora! Quero ficar sozinha - Clamo que minhas vocais não falhem, isso só o deixaria mais preocupado.

- Amor, você sabe que não irei sair daqui, abra a porta - Ele pede calmamente.

    Eu odiava isso nele, e o amava por causa disso, ele tinha o que em mim nunca existiu; Paciência. Mesmo que quisesse abrir a porta não tinha forças pra mais nada, nada mais importava, lembrei de tudo que ja fiz ou planejava fazer, só consigo sentir nojo do que sou, hoje foi apenas um choque de realidade.

- Esther? - Ouvi a voz dele me chamando um pouco mais desesperado.

   Não respondi. Estava cética e paralisada, meus pensamentos brincavam comigo, minha insegurança dançava brake e minhas paranoias faziam passinho de brega funk. Eu estava condenada a minha insanidade, comecei a rir de desgosto, eu era um lixo humano, um molde que veio quebrado.

    Acordo dos meus pensamentos maldosos, pois meu coração tomou um susto memorável. Enquanto meus batimentos estavam descompassados e minha respiração desregulada, Berto me olhava assustado, a porta tinha sido arrombada por ele, não conseguia ouvir nada além de um som agudo preso na minha cabeça.

   Berto andou rapidamente e se ajoelhou na minha frente, seus olhos observavam todo meu rosto enquanto os segurava com as duas mãos, ele movimentou os lábios, mas não ouvi nenhum som deles; ele passou a mão abaixo do meu nariz e de lá tirou um pouco de sangue, droga, meu nariz não sangrava a muito tempo!

********************

   Minha cabeça, nunca a odiei tanto como agora, parecia um peso ter ela no corpo este momento, doia mais que o resto  de todo meu corpo, uma desgraça. Abro e fecho os olhos várias vezes antes de minha visão me dar resultados de onde estava, parecia ligar uma tv de 2000, eu só ouvia um som agudo e via lentamente o breu resultando em um cenário; paredes um pouco rabiscadas, pintadas de branca e com um calendario colado, uma figura de Jesus na cruz logo em cima do relógio redondo e barulhento.

     Mais para o lado tinha uma cadeira aconchegante, meus pensamentos ficaram mais leves ao ver uma figura com os cabelos bagunçados e os olhos fechados, respirando pesadamente, como um soco ouvi a máquina dos meus batimentos, não estavam rápidos, estavam até muito tranquilos. Droga, eu tava na porra do hospital de novo! Reviro os olhos violentamente, preferia estar na casa da minha tia, era chata e sabichona da mesma forma, mas pelo menos tinha uma sopa muito gostosa.

- Olá Esther, aqui de novo minha flor? - Uma voz familiar e icônica de máscula me da um susto.

- Caralho José, você de novo não! - Digo olhando nos seus olhos pretos e ele sorri mostrando seu smile.

- Amor, eu sei que você me ama, é a terceira vez neste mês que vem aqui me visitar, to quase dando meu endereço - Ri da própria piada e apenas sorrio de lado.

     José é um médico novo aqui, Berto que provavelmente me trouxe deve ter ficado muito tranquilo em questão de conseguir ser atendido, meu namorado escolheu logo o hospital que sempre venho. Conheço quase todo mundo aqui, dos piores médicos aos que mais amo; José é um deles, mesmo com suas piadas que não são piadas porque não tem graça, ele sempre me tratou com amor e é carinhoso, a parte ruim dele? Não é nem um pouco negociável, ou eu tomo o remédio ou tomo o remédio.

- E cade Mathias? Nunca mais vi ele - Pergunto enquanto o homem checa minha pressão, nem vi ele colocando, é extremamente eficiente e rápido.

     Olho para seu rosto para ter certeza que ele ouviu a pergunta, e sorrio ao ver ele fazer uma careta, como se quisesse lembrar de alguma coisa, sua pele negra quase não tinha espinha, filho da puta, ele nunca me diz o produto que usa, na cara e no cabelo, tem um dos cacheados mais bem cuidados que ja vi, não precisa ficar muito tempo com José pra saber da sua vaidade.

- Mathias foi suspenso, pegaram usando maconha - Fala seriamente e gargalho.

   Mathias sempre foi meu preferido, desconstruido e super companheiro, amava quando ele era o responsavel por mim, ele fazia seu trabalho, mas digamos que era um tanto pouco quanto doido. Loiro e branco, com a barriga ja visível, mas não gordo, olhos castanhos claros e piercing no nariz, quem olhava de longe nem imaginava como ele era sem noção. Lembro da primeira vez que ele foi meu médico.

                21/08 (2017)

- Pronto, terminamos aqui, tem que tomar este remédio duas vezes ao dia e o azul apenas uma vez ao acordar - Diz anotando e me mostrando.

    Reviro os olhos quando ele me entrega os dois remédios e a listinha idiota dele, esses remédios não funcionam. Esse tal Mathias não se importou com minhas expressões de ódio e foi pegar algo no armário.

- Olha cara, eu não vou tomar isso! Esse remédio é pessimo e causa muita dor de cabeça - Digo reconhecendo o remédio que me deu.

- Mas você tem que tomar criança, deixe de ser teimosa - Diz me zoando e me seguro para não enfiar o remédio na guela dele.

- Não sou criança otário, tenho 17 anos - Digo cruzando os braços.

- Olha aqui, se comporte por que se não... - Fala ameaçadoramente.

- Se não o que? - Pergunto me mostrando pouco interessada.

- Não vai ganhar pirulito - Revela um pirulito de maça verde e arregalo os olhos.

- Eu quero, eu quero - Estendo as mãos animada e ele ri.

**************

     Desde então eu ganho pirulito com Mathias.

- Não me surpreendo, ele sempre foi o mais doido aqui mesmo, mas ele não foi demitido não ne? - Pergunto realmente preocupada.

- Não, apenas recebeu um aviso, ele não pode fumar em local de trabalho - Afirma e concordo rindo - seus batimentos cardíacos estam normais e sua pressão ja normalizou, agora é só não se estressar por pelo menos uma semana - Diz e não seguro a risada com sua piada, José franze a testa confuso.

- Querido, só nessa meia hora já passei por dois estresses diferentes, ta achando o que? - Pergunto e ele faz uma pose digna de foto.

- Minha filha tome um chá, faça crochê, desenhe, assista séries, dê seus pulos ai - Diz e reviro os olhos - agora me responda um negócio, ele dorme assim mesmo? - Pergunta apontando para Berto que dormia como um anjo.

- Nada pode acordar ele agora, NADA! - Dou ênfase a ultima palavra e ele da um passo pra trás assustado.

SECRET: Pregnant Onde histórias criam vida. Descubra agora