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  Leila

- O que aconteceu? Onde esta a Raquel? - Pergunto e sinto a mão de Daniel no meu ombro, ele estava la, tão preocupado quanto eu.

- Raquel ta sendo interrogada, pela terceira vez essa noite, uma quando chegou, outra depois da de William e agora a de depois do... - A loira não consegue terminar e fico tão aflita quanto ela.

    Olho para Esther, que esta abraçada com Berto, ambos não deixavam na cara uma expressão triste, mas sim uma raivosa, Esther parecia querer agredir alguém. Fica um silêncio constrangedor, porque Juliana claramente não consegue terminar a frase, e estou curiosa para saber o que aconteceu, mas acho muita falta de empatia perguntar para uma pessoa tão vulnerável.

- A do agressora, aquela racista filha da puta causadora do minha sede por sangue de barata - Afirma Esther, e Berto sussurra algo no seu ouvido, claramente mais calmo que ela, mas a mesma faz uma careta de raiva para o namorado - olha aqui Berto! Eu não preciso ter empatia com pessoas que não deveriam nem ter nascido para começo de conversa - Fala como uma leoa e até o próprio policial que estava proximo da gente se afastou um pouco.

- Amor, entenda, isso não vai resolver nada - Berto diz ainda tranquilo, parece estar acostumado e equilibrado para lidar com a personalidade da loira.

-  Você tem razão, agora se ela morrer vão saber que fui eu, desgraça! - A atenção das poucas pessoas que estavam lá logo cedo, foi para Esther que pouco ligou para os olhares.

     Tento acompanhar as palavras da sua boca com meus pensamentos turbulentos. Mas logo minha atenção vai para o barulho da porta abrindo, ali se revelou William, coloquei a mão na boca tentando conter minha expressão assustada, seu rosto estava cheio de marcas de faca e ferimentos perto do lábio, olhos e queixo; ele parecia sem alma, mas quando seus olhos se encontraram com os de Daniel e depois com os da gente, as lágrimas começaram a cair, e derrepente nós estavamos todos abraçados, sem dizer nada, apenas sentindo a dor um do outro, como pude pensar que ele agrediria Raquel? Ele vivia por ela!

- Ele quase matou ela, se eu não tivesse lá - Soluça com a voz emburgada - se eu não estivesse lá, ela não estaria viva, Raquel ia morrer por ser negra, porque? Porque isso importa tanto? É a minha nega, o meu amor, eles não tinham o direito de tocar nela, eles não tem o direito de tocar em ninguém, desgraçados - Continua com dificuldade.

        Meu coração estava se quebrando, lentamente, eu queria chorar, mas não consegui, estava muito aflita e assustada com tudo isso, o racismo quase matou a Raquel? Aquela garota incrivel e cheia de amor?

       Não percebo quando sou afastada aos poucos, sendo guiada por mãos leves e fortes, tudo estava acontecendo rapido de mais, eu estava em transe, não, meu bebê,  meu bebê! Tenho que ficar calma pelo bebê. Minhas perna fraquejaram e quase cai, mas a pessoa me segurou, não tive forças para olhar quem era, até porque minha visão estava ficando turva, mas reconheci a voz distante, Esther; Meus olhos foram ficando bondosos novamente, consegui vi a rua e a movimentação dos carros, sem aviso prévio, quase vomitei nos meus próprios pés, estranhei, isso acontecia mais quando descobri que estava grávida, depois quase nunca acontecia.

- Calma, foi só uma queda de PRESSÃO Leila, fica calma e respira - Esther tenta me acalmar, mostrando um incrivel controle das suas emoções, sua expressão estava aparentemente calma, mesmo depois de tudo que aconteceu.

- O bebê, a Raquel, eu quase perdi minha amiga - Sussurrei para mim mesma, presa nos meus próprios pensamentos.

- Leila, respira, puxa o ar e solta - Ouço uma voz distante, era a Esther ainda?

- O bebê, a Raquel, eu quase perdi minha amiga - Repeti esta frase, sem controle algum dos meus pensamentos, céus! eu era uma grávida louca.

      Ouvi algumas outras frases desconexas, mas eu me ouvia repetindo a mesma frase, e eu não parava de falar, porque eu não parava? PARE LEILA! PARE! NÃO SEJA FRACA ASSIM!

        Chacoalharam meu corpo, eu senti, mas não vi, eu só consigo ver a rua, carros passando, pessoas felizes e tristes, algumas apressadas, e uma mãe e uma filha, elas estavam de mãos dadas, sorrindo, un algodão doce a garotinha segurava e a mãe ria com a felicidade da filha, mãe, minha mãe.

- O que tem a mãe dela? - Eu escuto Esther perguntar.

      Derrepente tudo volta ao normal, vejo Daniel e Esther na minha frente, preocupados, meu coração doeu, como nunca doeu antes, minha mãe morreu, minha mãe foi embora.

- Ela foi embora, minha mãe... - Não término, porque as lágrimas desceram, e não pararam de cair, mas ai percebi, eu ja estava chorando, antes de eu perceber, as lágrimas transbordaram.

       Vejo Esther olhar confusa para Daniel, que me abraçou fortemente, murmurando que estava tudo bem, que ele estava ali, mas me senti uma grande desgraçada, porque queria outra pessoa, a única que ninguém no mundo ia substituir.

- Daniel? O que esta acontecendo? - Pergunta a loira ja alterada com a travessia da conversa.

- Ela morreu Esther, dona Rosa morreu, ela foi embora - Revelo mesmo sem querer, parecia que estava confirmando para mim mesma, como se precisasse disso para entender o que aconteceu.

      Vejo Esther mudar o semblante em questão de segundos, como se nada mais fizesse sentido, ficou estática, mas não conseguia sentir o que ela estava sentindo, por que a mesma ainda digeria a situação como se tentasse entender um filme dramático, e eu estava sendo esmagada pela minha bola de neve que fiz com todos os acontecimentos desses ultimos meses.

- Eu... - Começa mas desiste, olhando para o chão se apoia na primeira parede que encontra.

     Daniel beija minha testa, me dou conta que ele estava me segurando, porque não estava fazendo a minima questão de ficar em pé, o meu moreno tenta me consolar, mas suas palavras saiam apenas como frases desconexas, ou talvez estivesse pouco me lixando para tentar me sentir melhor.

- Vocês sumiram - Diz Berto aparecendo do nada com a respiração pesada, como se estivesse correndo - Loirinha? - Pergunta após perceber sua namorada encostada na parede.

       Eu e Daniel olhamos para os dois, pois Berto e Esther começaram uma conversa silenciosa, e magicamente a loira levanta a cabeça e força um sorriso, seus olhos estavam vermelhos, fazia muito tempo que não via ela chorando; ela limpa a pouca umidade que tinha de baixo dos seus olhos, e falou algo no ouvido do Berto e pegou a chave do carro, deixando todos nós confusos.

- Esther... - Ele tenta chamar a mesma, mas ela entra no carro com rapidez e sai dali velozmente.

        Ficamos todos em silêncio olhando para a rua que ela tinha saido, todos estavam pensando a mesma coisa, que ela poderia fazer qualquer besteira sozinha com vulnerabilidade. Berto olha para nós e vem em nossa direção, ele percebe minha situação e abre a boca para perguntar, mas derrepente desiste, solta um ar pesado antes de finalmente olhar nos nossos olhos.

- Raquel acabou de sair do interrogatório - Afirma e nos entreolhamos.

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