Anjo Ocioso

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I

Sou o Anjo Ocioso,
Volátil, a preambular
Pelo Inferno, desorientado:
Atarantado e penalizado
Com toda dor e horror
Que me cercam;
Com todo terror
Que meus olhos atestam!

Sou o Anjo Ocioso,
Imune fisicamente
A toda destruição,
Mas não incólume
Aos seus sentimentos.

Eu sou o Anjo Ocioso, 
Que sente o tormento,
A agonia lancinante,
Toda pungência e aflição!


II

Meus olhos, Celestes,
Veem o fogo ardente,
Tristemente consumir
Corpos de ledos condenados.
Já descrentes no porvir,
Jazem extenuados,
Inanimados!

Meus olhos, tristes
À barbárie miram:
Mulheres de casa
Que se feriram;
Muitas ruínas
E vários destroços:
Meninos e meninas
Andando ali, descalços;
Uma gente doente, sentida,
À beira de lhes expirar a vida!

Eu sou o Anjo Ocioso,
No Inferno andando,
Por cima de cadáveres, passando;
Contemplando melancolicamente
A severidade social pungente!


III

De capa preta, tranquila, a Morte
Aguarda aos desesperados
Abandonados à sorte.
A Fome, amiga da Morte
E sua companheira,
Engendrando vai seu Pão, ligeira.

E tantos outros Soldados da Morte
Ali soturnamente estão,
Levando tantos
Para a Incógnita Escuridão.
O medo, dia a dia prospera,
E dia a dia, o caos impera!


IV

Quero fechar meus olhos,
Mas não me é possível
Ante o clamor, todos os dias audíveis:
O choro, o desespero, a lamúria;
A dor em coro, em berros mudos;
Ante a perfídia e a covardia
De seus próprios irmãos, surdos.

Mais dilatados meus olhos ficam
Ante a devastação infernal.
Meus olhos abrasados suplicam
Por uma atitude profunda,
Por um definitivo final.
E meus olhos já em chamas,
Inteiramente consumidos,
Vendo vão muito mais
Desse Inferno dolorido:

Mães na rua, na estrada,
Desesperadas chorando
Por suas filhas amadas;
Estas na escola ― estudantes ―,
Dizimadas de forma chocante;

Pessoas mutiladas,
Horrivelmente desfiguradas
Pelo terror vindo do céu
E cadente em seus prédios,
Em suas moradas;

E sangue
Por toda parte existente:
Em casa, na praça,
Nas lojas abandonadas;
Nas trincheiras, nas fronteiras;
Nos olhos dos combatentes!


V

Eu, Anjo Ocioso,
Me vou embora
Desse submundo,
E regresso a terra,
Para o meu mundo ―

Mas esse submundo
Sede aqui na Terra:
Um mundo de horror
Causado pela guerra!

Os sentimentos são reais!
As pessoas são reais!
A dor, ambas, é verdadeira!
Há ferimentos e clamor
Em comunidades inteiras:
― Pede-se amor?
Não! Pede-se Paz!!!

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora