Cupins

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A pobreza assola tantos
No mundo e em si já se diz!
Mas se não a compreendemos,
Tentemos escutar o que ela nos conta:

Em sua casa, o pai, sentado,
Desempregado e já desanimado,
Observa os cupins a devorarem
Com voracidade sua decrépita casa.

Não conhecem a pobreza!
Têm a riqueza em meio a esta decrepitude;
Uma só destas tábuas já garante
Tanto alimento para tantos em tantos dias
― Pensa o pai acerca dos cupins!

Estes nada pensam, nada indagam;

Nada compreendem o que se pensa deles!
Devoram puros e simplesmente a madeira,
Indiferentes, com apenas
Um propósito: comer!

O pai continua
Abstraído e se esquece
De sua esposa moribunda
Que geme cada vez mais alto!
Mas este não a escuta.

Se esquece de suas crianças!
Duas na escola (futuro talvez);
Uma com a tia, madrinha, cunhada
O diabo que seja! ― mas a criança
Está sendo criada por esta.

Se equece de seu outro filho
Precocemente lhe furtado
Por Tânato ainda em feto,
Somente há três dias!

Comam malditos cupins, comam!
Alimentem-se da minha desgraça!
Alimentem-se da minha dor, malditos!
Nem sabem que são mal ditos por mim!

Só se importam em comer!
Não conhecem os problemas da vida!
Não têm ciência da inanição;
Não obstante, comem!
Benditos os homens se vós fôsseis.

E o pai suspira profundamente,
Desejando ser um daqueles cupins...

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora