Morte do Poeta

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I

Na rua uma porção
De pessoas se aglomeram
E observam curiosas
E desdenhosamente
Ao corpo daquele
Mísero ser inocente,
A machado, apunhalado!

Tão nobre ser!
Contava ao menos
Oitenta anos serenos...
Oitenta anos em repouso!
Tão covarde, e bárbaro,
E fútil, e ganancioso ato!!!

Tanto vivesse ajudando,
E no fim acabaram
Tão vilãmente te apunhalando!
Covardes!
Estúpidos!
Ingratos!
― Teus próprios Filhos...!

Ante o bárbaro espetáculo,
As pessoas ali tiram fotos
Daquele que lhe tiraram
Sua longa e calma vida.
Há muitos flashes, mas
Poucos sentimentos!

II

― Lembra-te
De nossas brincadeiras:
Esconde-esconde,
Pega-pega?
De nossas conversas
Que em silêncio só
Nós entendíamos?!

― Lembra-te
De como sempre
Me desafiavas
A subir mais alto?!
― Já não podeis mais
Lembrar, estás exangue...

Mas me lembro de muito de ti:
Como adoravas os pássaros;
― Mostrasses-me vários deles!
Como era sensitivo e gentil;
Um verdadeiro Poeta!

Contigo muito aprendi!
Aprendi amar a Natureza!
Aprendi a sentir!
Aprendi ser poeta,
Mesmo ainda sem saber ser!

Adorava o teu esguio colo;
― Tanto me acalentou
E me protegeu também!
Ah que saudade do teu hálito!
Ah que saudade do teu alento!
Ah que saudade...!

III

Tão estúpido ato...
Já não mais te tenho...
Já não mais me contas...
Já não mais respiras...
Saudades...!

Oito décadas tuas,
No mínimo, vividas pacatamente
Sem qualquer desassossego,
No mesmo lugar...
Tranquilamente estático,
Sem mal algum
A ninguém, fazer...!

IV

E agora, devido a uma
Construção, a machados
O apunhalaram!
Futuro aqui construído?!
― Não, não creio!
Não enquanto seres tiverem
Que ser extirpados!
Não enquanto não houver
Harmonia entre ambos!

De quem pra quem futuro?!
― Com certeza não para
O Poeta Jambolão, caído
Com alguns fios elétricos
Que trouxe junto com sua queda,
E que despertou atenção
Das pessoas por lhe tirar
A energia, tão somente.

V

Os Pássaros cantam um canto
Lúgubre e de tristeza,
Mas muito, muito lindo,
Num cortejo ao Poeta!

O Vento decide ajudar
Nessa composição sinfônica
E vai assobiando, baixinho,
Criando um triste ritmo!

As Borboletas dançam
Para e sobre o Poeta,
Num balé belíssimo!

E o Céu, põe seu manto negro,
E pesaroso e comovido
Com o soturno espetáculo,
Estronda em aplausos ―
Entre estrépitos e clarões,
Lágrimas lhe caiem...!

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora