Sombras e Luzes

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I

Há um mundo mágico e desconhecido
Chamado realidade, mas é trágico e tido
Com asco e repulsa por muitas pessoas.
Há por ali coração que pulsa e gente boa

Vivendo à mercê da violência e bandidos;
Melhor, na sobrevivência, triste e abatido.
Quando pior sofrendo a mágoa que magoa
Seu seio, doendo com a fome que o povoa.

Essa realidade podemos ver ela nas ruas.
Mas só vê quem tem a alma singela, nua
De preconceito. São eles entes moradores

De rua. São gentes, humanos; são sofredores
Marginalizados esperando, ou ao fado ou a sorte,
Ou ajuda que lhes reverta seu estado antes da morte.


Penumbra

Sou aquele que o Mundo não vê, desconhecido.
Sou neste mundo igual a você, em tanto sabido.
Arrasto meu triste corpo por esta estrada afora.
Dormia em albergues, mas na calçada estou agora.
Como quando há o que comer, a mim oferecido.
Faz dias que não como... Será o Fim conhecido?
Não importa! ninguém me ouvirá a essas horas.
E se ouvisse, esta dor poderá ela levar embora?

Há muito tempo tenho em sombra me transformado.
Sou aquele que sendo vivo assombra, transfigurado
Pelas chagas e misérias decorrentes em minha vida.
Fora feliz! Vivi contente com a minha família querida!
Ah a dor no cenho de tanto neles pensar, horrorizado!
Ah este frio a me fazer tremular no presente e passado!
Não sei mais o que eu vejo pela minha visão enegrecida,
Mas sei o que falo por ora, perto da inanição e despedida.

Eu tive um emprego excelente, há anos ele mantido.
Não fiz faculdade, mas fui nessa vida docente e polido.
Casei-me ― graças tive ― com uma maravilhosa mulher.
Dois filhos semeei, um lírio e uma rosa, com amor e fé.
Mas a desgraça se alastra até mesmo nos melhores lares:
Perdi, para o assassino mosquito, as minhas flores ímpares;

E a Rainha maior ― ó minha  doce Flora ― para essa violência
Urbana. Perdi a cabeça e o emprego, e fui embora nas ausências
Suas, e me deparei com a fome, com  o frio e com a indiferença.
Deus, ó Deus! perdoai-me quando fora sombrio, e na descrença
Minha cri nunca tivesse, impiedoso e nefasto Deus, Vós existido!
Tende piedade, Deus! Tende piedade de nós ― pós carcomidos!


III

O dia de todo se fecha e obscurece.
Ou será a noite como flecha, aparece?
Não há mais a tua alegria de sorrir;
Só há agonia de não ter aonde se ir.
E está tão frio que seu corpo padece;
Um arrepio que de todo lhe arrefece.
Sem cobertor que se possa cobrir
Ou um fervor que tu possas sentir.

E é realmente a noite que mansa cai.
O que se sente é medo e ainda mais:
Sente-se tristeza e também rancor.
Sente-se fraqueza e falta de amor.
Sente homem que tua força se esvai;
Sede a morte que a Fome lhe traz!
Estás a rir alto sob um forte torpor;
Estás cálido a exaurir tua longa dor!

Tão triste ver-te eternamente sereno,
Dormindo quente nesse gélido terreno.
Encontrarás agora teus gentis Irmãos!
Um sorriso lhe aflora o rosto, de satisfação.
É um sorriso muito bonito, radiante de Luz.
E o Anjo do Infinito, diáfano, a casa o conduz:

À casa dos teus amados familiares!
A todos, apertado irdes abraçares.
Irdes esquentar teu álgido e lívido Ser
Nos braços queridos a lhe oferecer
Paz, alegria e também um puro conforto ―
Os braços da tua família, teu seguro porto!

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora