Aridez, Avidez

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No céu, um sol abrasador e pungente.
Na terra, um chão seco, árido e ardente.
Tão poucas sombras em que se possa proteger.
Tantas as pessoas a quererem algo para se beber.

Um belo e grande rio ― esse já não existe mais.
Onde água existia, prevalecem hoje lamaçais.
O verde que se via abundante por aqui outrora,
Rareou, transformando-se em cor seca agora.

Há uma poça de água suja em que dela bebem;
É imunda e perigosa, mas é o que conseguem.
São mártires sabe se lá do quê meu Deus!
E olham já sem saber o porquê para os céus:

Esperam a chuva? a piedade divina? a morte?
A compaixão humana que lhes reverta sua sorte?
Nem mesmo elas sabem, mas olham absortas
Como se olhassem a Almas boas ou Almas tortas.

Talvez estejam realmente olhando para elas
E lhes pedindo silenciosamente que cuide delas.
Enquanto isso, o sol, calmamente atenua seu calor,
E baixando vai, até finalmente, no horizonte se pôr.

São bravas sobreviventes de mais um duro dia!
Talvez ― Foi-se o sol que deveras lhes pungia,
Mas ainda ficaram-se as dificuldades e as dores ―
Não há ainda água para se beber pelos arredores!

Enquanto lhes é permitido viver sua pobre vida,
Dançam ao redor da fogueira ali acessa, divertidas.
Com um rico sorriso no rosto, sorriem esquecidas
Das mazelas que todos os dias têm as afligidas.

E as crianças,
Sem terem do que mais brincar, dormem.
E os homens,
Sem terem do que mais falar, dormem.
E as mulheres,
Sem terem o que mais fazer, dormem.
E o poeta,
Sem ter o que mais escrever, também dorme.

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora