S.O.S Verde

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I

Na mata a Árvore em chama
Clama por piedade e socorro!
Em sua bondade, lá de cima do morro,
Uma pessoa correta e cordata
Sai em disparada para tentar
Salvar a Árvore inflamada:

Tomada de uma grande coragem,
Adentra na paisagem incendiada.
Mas com tamanha bravata,
Se esquece dos riscos iminentes,
E sente-se já um pouco debilitada!

Entorpecida e no ermo da mata,
Sai a esmo em busca, à cata
De atenuar e acabar com a falta:
Falta muito! Muito pouco falta
Para a Árvore abrasada se dissipar
E jazer inanimada, carbonizada ―
Sem vida, sem ar!

II

Enquanto a ajuda não vem,
O desespero a Árvore mantém.
E em flamas, demasiada pungida,
Reclama da ação insana à sua vida:

― Por comiseração dizei-me, por favor:
Por que me afliges bendito malfeitor?
Eu, que por ti tenho amor, pra quê aflição?
Dizei-me maldito sem coração!

― Dei-te abrigo e também ar puro;
Em mim acalentastes, seguro!
― Dei-te alento quando tinhas fome;
Fiz de ti ser fraco um grande homem!

Dei-te sombra quando estava quente;
E tu o que me destes? ― Fogo ardente!

III

Finalmente a pessoa chega,
Cheia de piedade para ajudar;
(Não direi que foi de todo tarde,
Pois houve ainda uma breve conversa
Entre o mísero Ser moribundo) e,
― Saberemos agora seu nome ― Raimundo:

― Sossega meu nobre Ser,
Irei te salvar e te dizer:
Este fogo sede oriundo...
― Cala-te sandeu, alienado;
Morreremos, tu e eu, queimados!

E foi o que deveras aconteceu ―
Morreram, evaporaram para o céu!
Coitado do pobre herói Raimundo:
Inebriado saiu, adoidado,
Sem olhar para os lados.
E de tanta fumaça ter inalado,
Vai agora descansado desse mundo!

IV

Mas não só a Árvore queimava,
Como uma Floresta inteira gritava
Também: ― Ajudem-nos!
Pobre Raimundo, era um só, e só
Ante a um grande incêndio sem dó!

Enquanto isso,
O escritor que aqui vos fala,
Em respeito à luta se cala;
E escuta a Floresta em seu leito
Murmurar: ― Ajudem-nos!

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora