Jardim Negro

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É mais um dia
Fatídico e funesto
Para aqueles coveiros:
― É mais um pobre e inútil corpo
A ocupar espaço no cemitério...
Mas não reclamam, é o seu trabalho.

É um dia
Sem nada de especial:
Sem vento que às flores
Já secas ali soprem, ou frio
Que faça com que os expectadores
Desse lúgubre espetáculo exibam
Suas casacas e sobretudos de luxo;
Nem Sol que se fervilhe;
Nem Céu que lágrimas derrame.

― Enfadonho de todo ―
Uma mosca-varejeira
Causa mais entusiasmo
Do que a todo esse
Ridículo espetáculo!

Os familiares do morto
Derramam de seus olhos avaros
Litros de lágrimas hipócritas ―
Pranto de usura!
Alguns colegas leem sua ode,
(Longínqua...), mas nada dizem!

Os amigos não vieram!
― Não é culpa deles;
A culpa sede do morto
Que nunca os teve!
― A mulher amada também não!

No Jardim Negro
Jazigos,
Sepulturas,
Epígrafes,
Condolências,
Choros não secados
E muitas, muitas Flores
Extirpadas ―

Se eram Flores
Que exalavam voluptuoso odor,
Não se pode mais saber:
Sabe-se apenas que exalam
O mesmo pútrido olor!

Tampouco sabemos de
Qual classe social pertenciam,
Qual religião que professavam,
Qual sua opção sexual,
Qual sua cor ―
São ossadas agora:

Cardas de terra,
Iguais,
Ateias,
Assexuadas e
Da mesma cor
Das cinzas!!!

E aquele que tão
Desdenhosamente enterram:
Que se gabava de suas posses,
Que tinha orgulho de ser Homem,
Religioso convicto e fervoroso,
Que tinha asco daqueles que
De sua cor diferiam,
Vai agora servir de adubo ao Jardim;
― Quando muito!!!

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora