O vendedor anuncia:
"Está barato!!!
Compre minha senhora
Estes belos sapatos!!!".A senhora olha, observa,
E impulsiva leva
Dois pares, várias Mãos!
Leva pares de Mãos
E quatro sapatos!"Que barato me custou" ― pensa.
Que ofensa, custou mais
Para seus Irmãos!Em casa, arfada e contente,
Calça as Mãos, indiferente:
O primeiro, apertado;
O segundo, folgado."Ah, decepção!".
Para o lixo lá se vão as Mãos!
O que fora talvez suado,
Lá se fora rapidamente, baldado!
*Os sapatos miram pra cima
E quedos pedem à deusa-menina
Que perto dali passa:
"Levai-nos para casa!".Travessa menina atravessa a rua
Iluminada apenas pela lua,
E leva consigo, para seu abrigo
Confortável, os sapatos mendigos!*
Do outro lado do mundo,
Duas senhoras descalças,
Dispostas em lugar imundo,
Estão a coser tecidos,
Sapatos; suas Mãos!Estão a coser gemidos
Aturdidos da Escravidão!As Mãos, as Mãos escravas
Estão a se coser, parvas
Ante o trabalho forçado;
Ante o labor escravizado!*
A pequena menina-deusa viajou.
Sem servirem os sapatos,
Assim mesmo os levou ―
As duas escravas descalças, avistou,
E para perto delas, caminhou.Foi se achegando e perguntando:
"Querem meus sapatos?".
Não a entendiam, mas sabiam
O que estava a se passar de fato:Ambas a compreenderam
E aquiesceram. Agradeceram ―
E se foram embora segurando suas Mãos,
Com os sapatos nas mãos, descalças!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pétalas Cadentes
PoetryO sentimento de um mundo devastado por suas violências. Embora escrito em 2016 - ano que houve grande repercussão acerca da imigração e dos refugiados de guerra - há poesias que abordam temas, por assim dizer, mais antigos, e, paradoxalmente, tão a...