As Mãos (Escravas)

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O vendedor anuncia:
"Está barato!!!
Compre minha senhora
Estes belos sapatos!!!".

A senhora olha, observa,
E impulsiva leva
Dois pares, várias Mãos!
Leva pares de Mãos
E quatro sapatos!

"Que barato me custou" ― pensa.
Que ofensa, custou mais
Para seus Irmãos!

Em casa, arfada e contente,
Calça as Mãos, indiferente:
O primeiro, apertado;
O segundo, folgado.

"Ah, decepção!".
Para o lixo lá se vão as Mãos!
O que fora talvez suado,
Lá se fora rapidamente, baldado!
 
                  *

Os sapatos miram pra cima
E quedos pedem à deusa-menina
Que perto dali passa:
"Levai-nos para casa!".

Travessa menina atravessa a rua
Iluminada apenas pela lua,
E leva consigo, para seu abrigo
Confortável, os sapatos mendigos!

                *

Do outro lado do mundo,
Duas senhoras descalças,
Dispostas em lugar imundo,
Estão a coser tecidos,
Sapatos; suas Mãos!

Estão a coser gemidos
Aturdidos da Escravidão!

As Mãos, as Mãos escravas
Estão a se coser, parvas
Ante o trabalho forçado;
Ante o labor escravizado!

                 *

A pequena menina-deusa viajou.
Sem servirem os sapatos,
Assim mesmo os levou ―
As duas escravas descalças, avistou,
E para perto delas, caminhou.

Foi se achegando e perguntando:
"Querem meus sapatos?".
Não a entendiam, mas sabiam
O que estava a se passar de fato:

Ambas a compreenderam
E aquiesceram. Agradeceram ―
E se foram embora segurando suas Mãos,
Com os sapatos nas mãos, descalças!

Pétalas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora