Capítulo 07 - Santiago Braga

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Jogo o cigarro no chão e o apago com a sola do sapato. Meus olhos estão presos aos movimentos que meu tio faz enquanto anda em círculos pela sala.

— Pelo amor de Deus, Santiago, como pôde fazer algo estúpido assim?

— Tio... — tento falar mas ele me interrompe.

— Seu pai morreu por essa máfia e agora você está colocando tudo a perder. Acha que eles não virão atrás de você?

— Que venham.

— Que venham? Você só pode ter perdido o juízo! — ele grita. 

— Chega! — bato a mão na mesa irritado e me sento. 

Os homens se assustam, mas meu tio continua indiferente a minha explosão. Afonso Braga não é do tipo que se assusta com facilidade.

— Afonso. — ele arqueia a sobrancelha ao ouvir seu primeiro nome sair da minha boca — Não sei se percebeu mas já tenho vinte e cinco anos, sei me cuidar e passei anos em treinamento para cuidar da máfia. Não preciso de uma babá que me diga o que eu tenha que fazer.

O motivo da discussão? Meu tio tinha acabado de descobrir que eu era o assassino de Kylan Ward Mitchell, o líder da maior máfia de Portugal.

Alguns dias atrás...

Já tinha alguns meses que eu estava enviando cartas de ameaças para o idiota do Mitchell. Ele não conseguia enxergar um palmo a sua frente graças a seu enorme ego, tanto que nem percebeu que eu era o técnico que tinha instalado o seu novo computador e graças a uma câmera eu sabia de todos os passos que aquele ser repugnante dava.

"Brincar de esconde-esconde deixou de ser divertido pra mim, agora vamos brincar de pega-pega. Está comigo! Cuidado, 'todo poderoso', eu vou te pegar."

Leio novamente a carta e a entrego para o meu informante. O homem baixinho e barrigudo era um dos homens que Kylan confiava a própria vida, então seria difícil ele descobrir a armação.

Uma semana se passou e o meu informante colocou na cabeça de seu líder que já era hora de deixar os homens descansarem.
Mesmo com medo ele apoiou a ideia.
"Que tipo de líder medroso eu sou?", era o que ele se perguntava sozinho em sua sala enquanto mexia em alguns arquivos do computador.

A vingança finalmente chegaria para a família Braga!

Com passos lentos caminhei para a sala de Kylan, cantarolando uma música que minha mãe cantava e nas mãos eu carregava a faca que estava cravada em seu corpo quando a encontrei.

Entrei na sala do mafioso e o vi massagear suas têmporas enquanto balbuciava alguma coisa quase que inaudível. Assim que seus olhos me encontraram dentro da sala, pude ver que ele estremeceu.

— Olá, "amiguinho". — o chamei da forma que ele chamava meu pai nas inúmeras negociações — Eu disse que iria te pegar.

O medroso olha em volta com os olhos arregalados, provavelmente pensando se era possível ainda ter alguém no prédio para o socorrer.

— Que tal brincarmos de outra coisa? — ajeito o meu capuz e um sorriso sádico surge em meus lábios.

— O que vai fazer comigo?

— Nada, apenas brincar.

— Quem é você? — ele coloca a mão embaixo da mesa procurando a arma que meu informante tinha tirado de lá.

— Procurando sua arma? Não queria que você se machucasse antes da hora, por isso a tirei daí.

— O que você quer de mim? Podemos negociar, qual o seu preço?

— Meu preço? — gargalho e caminho em sua direção — Você consegue trazer os mortos a vida? Você pelo menos consegue se lembrar de mim?

Tiro o meu capuz e ele me olha um pouco apavorado, pude ver em seu olhar que ele se lembrava mas com certeza não assumiria.

— N-não, não me lembro. — me posiciono atrás da cadeira do homem.

— A família Braga se lembra da dor que você nos trouxe.

— Você é o pequeno Braga não é? S-santiago!

— Que bom que se lembra do meu nome. — gargalho.

— Garoto, você precisa entender que...

Acerto uma coronhada em sua cabeça e ele desmaia, prendo seus braços e pernas na cadeira para prevenir qualquer tentativa de se libertar.

Não demorou muito até o homem acordar, seu olhar desesperado girou pela sala até me encontrar no canto do lugar.
Me aproximei com o cigarro aceso entre os dedos e toquei no corte que a coronhada abriu em sua testa. Ele soltou um gemido de dor e afastou o rosto do meu toque.

— O que você quer, Santiago?

— Eu me lembro da última vez que eu vi meus pais. — caminhei até a janela e olhei para a paisagem do lado de fora.

— Não quero ouvir sua história, se vai me matar — o homem engole em seco — me mate logo.

— Minha mãe disse que voltaria e que faríamos nossa viagem juntos. — jogo o cigarro no chão — Mas isso nunca aconteceu. Consegue imaginar o que um filho sente ao ver seu pai e sua mãe mortos?

— Eu não me importo com a merda da sua vida! — sorrio ao vê-lo perder o controle — Só não toque na minha filha.

— Meu problema é apenas com você.

— Eu não vou implorar pela minha vida.

— Não quero que implore, isso me dá tédio.

Tiro a faca da minha cintura e arrasto a cadeira do homem até o centro de sua sala. Ele me olha um tanto que apavorado e isso só me incentivava a fazer o que eu sempre quis fazer.

— Seu pai teria orgulho de você. — ele diz,  sorrindo fraco.

— Não tenho muita certeza disso.

Passo a lâmina em seu pescoço e vejo o líquido vermelho escorrer pelo seu corpo até manchar o piso de sua sala. Seguro em seu rosto o fazendo me olhar enquanto ele agonizava.

— A família Braga nunca se esquece de uma dívida.

Assim que tenho a certeza de sua morte, saio da sala sem o peso que carreguei por anos. Tiro as luvas e as jogo em uma lixeira, em seguida acendo o fogo queimando a única prova de que estive no local.

Dias atuais...

— Eu não sou e nunca fui sua babá, Santiago. Apenas disse que você matou um dos caras mais importantes de Portugal e isso, com certeza, não ficará impune. — meu tio se senta enquanto me encara com raiva.

Não importa o quanto irá custar, demorei anos para conquistar a minha vingança e não existe nada melhor do que ver seu inimigo agonizar em sua frente.

— A família Braga nunca se esquece de uma dívida, meu querido tio.

A Máfia Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora