Capítulo 59 - Fabíola Hadassa - parte I

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— Com dez anos de idade eu perdi o meu pai e minha mãe em um acidente de carro. Ele trabalhava muito viajando, só que nunca entendi o porquê dessas viagens em vários lugares diferentes como se fosse um turista. Foi assim a minha vida toda, um ano em uma cidade, três, quatro ou cinco meses em outra e assim por diante. Nem sempre terminava o meu ano letivo pois eles sempre tinham que se mudar pra outro lugar às pressas, como se estivesse fugindo de algo ou alguém. Eu sempre perguntava o motivo de nós termos que mudar tanto de lugar, a única coisa que me diziam é que era bom conhecer lugares diferentes e que eu era novo demais para entender. Na última viajem que viajaram, me deixaram com minha vó. Antes de ir eles me abraçaram forte, me beijaram e disseram que me amavam muito, mas que tudo nessa vida era assim e entraram no carro. Era como se soubessem o que iria acontecer naquele dia. Minha avó pediu tanto pra eles não irem pois estava com mal pressentimento, mas minha mãe  nunca escutava o que a minha vó falava, sempre dizia que sabia o que estava fazendo, que não precisava de seus conselhos e que nunca precisou dela pra nada. Minha mãe nunca tratou a minha vó bem, sempre a xingava, falava que não gostava dela, que só sabia atrapalhar seus planos, etc.

"Eu chorei tanto naquela noite chamando por meus pais, porque por mais estranhos que eles fossem eu os amava muito. Sempre morei com eles, eram meu porto seguro. Às vezes me deixavam com a babá para viajar a trabalho e só voltavam depois de um ou dois dias mas aquilo era normal pra mim eu já tinha me acostumado, sabia que por mais que eles demorassem, sempre voltariam e eu iria poder abraçá-los novamente e tudo ficaria bem. Mas naquele dia a sensação era diferente, eu sentia que por algum motivo eles não iriam voltar. 
Lembro-me que o último pedido que minha mãe fez foi: 'Cuida bem de Thomas, nunca deixe que desista da escola e dos seus sonhos, faça dele um homem que te dê orgulho e não decepção como eu dei, pois ele foi a minha única coisa certa em meio a tanta coisa errada'".

"Se passou duas semanas e nenhuma notícia, ligação ou até mesmo mensagem deles e minha vó já estava preocupada, assim como eu. Acordei pela manhã com o barulho do telefone tocando sem parar, levantei rapidamente e desci as escadas com esperança que fosse a minha mãe, só que quando eu cheguei lá vovó já tinha atendido e foi muito pior que isso, ela não estava sorrindo e sim chorando e gritando coisas como "Não pode ser! Não pode ser, eu quero a minha filha de volta!" Assim que ela me viu largou o telefone e foi ao meu encontro, me abraçando. Eu perguntei o que tinha acontecido e ela falou que meus pais haviam sofrido um acidente, perguntei como eles estavam e ela me disse que não resistiram e morreram no local. Aquelas palavras me fizeram sentir uma dor tão grande que não estava conseguindo respirar, eu chorava e gritava tanto pois sabia que era verdade tudo aquilo e que nunca mais eu iria ver os meus pais, a minha vida parecia ter acabado ali. Eu disse para minha vó  que queria ver eles pela última vez, mas ela me disse que como eles estavam fora do Brasil os corpos iam demorar um a dois dias para ser transportados para lá e a família do meu pai já estava tratando disso."

"Assim que os corpos chegaram houve mais desespero. Eu não sabia se chorava ou se consolava a minha vó, mas de uma coisa eu sabia, só restava nós dois e eu precisava ser forte por ela. Eu era apenas uma criança e estava com uma responsabilidade muito grande."

— Nossa, Thomas. Eu tive uma vida complicada sim, mas nunca imaginei que seu passado fosse tão doloroso assim. Um menino de dez anos passar por tudo isso e ainda ter que ser forte pra ajudar a vó... realmente a sua vida foi muito difícil. Eu entendi uma coisa muito importante, por mais difícil que a nossa vida foi ou está sendo, tem alguém com mais problemas que nós e que está todo destruído por dentro, mas sendo forte e sorrindo por fora.

— Ah, Hadassa... — ele suspira — Isso não é nem a metade, a pior parte vem agora.

— Pior parte? — pergunto.

— Sim.

Eu sabia que naquele momento ele iria falar tudo que eu precisava saber e mesmo com medo deixei que continuasse.

— Seis anos depois da morte dos meu pais, quando estava voltando pra casa fui surpreendido por um carro preto com uns homens estranhos que me faziam um monte de perguntas, mas teve uma que me deixou muito surpreso. — ele fez uma pausa —Um dos caras me perguntou se eu era da família Lidenbergue.

— Então eles conheciam a sua família... — digo quase num sussurro.

— Sim, foi por isso que fiquei surpreso. Era normal as pessoas conhecerem a minha família, mas aqueles caras eram estranhos demais, nunca tinha visto eles na minha vida. Assim que eles me fizeram todas as perguntas um dos caras que estava dentro do carro falou "é ele, chefe." Nessa hora eu fiquei mais assustado ainda pois sabia que eu era o foco daquela conversa e que por algum motivo eles estavam me procurando.

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