Capítulo 76 - Santiago Braga

162 17 53
                                    


Encaro Miguel Rizzo por alguns instantes, o garoto parecia ter muito mais que seis anos. Não só pelo tamanho mas também por falar tão bem quanto um garoto de dez anos.

Bendita foi a hora que aceitei vir a praça com Giovanni para colocar o papo em dia e comprar sorvete para o pequeno Rizzo. Nunca fomos muito próximos, mas em todas as vezes que estavamos nos mesmos eventos aproveitávamos ao máximo para reclamar da vida de um herdeiro, a liderança da máfia e ensinar um ao outro o seu idioma. Mesmo ele sendo onze anos mais velho do que eu, Giovanni sempre me tratou como alguém de sua idade.

— Minha mãe fala que isso faz mal para o pulmãozinho. — o garoto fala, apontando para o cigarro.

— Ela não disse que é feio cuidar da vida dos outros? — pergunto, arqueando a sobrancelha e sorrio o vendo caminhar até mim.

— Você tem cara de ser mau, mas te acho engraçadinho. — ele ri e coloca a mão na bochecha enquanto me encara.

— E posso saber o motivo de me achar engraçado? — jogo o cigarro fora e lhe dou minha completa atenção.

— Você é todo rabiscado de canetinha, a última vez que eu fiz isso com o vovô ele gritou e ficou vermelho feito um pimentão.

— Imagino que ele não deve ter gostado mesmo. — gargalho ao imaginar Lorenzo rabiscado de canetinha.

— Tio Santiago, olha como eu sei pular alto.

Me surpreendo com o novo título que o italianinho me deu. Penso em falar que não sou filho de Lorenzo e nem tão pouco amigo próximo de seu pai para que ele me chame de tal forma, mas apenas ignoro e sorrio o olhando.

— Um, dois, três! — ele fala enquanto sobe em cima de uma pedra e pula no chão assim que termina a contagem.

Em um dos seus pulos o garoto se desequilibra e me obrigo a me levantar para o socorrer.

— Esta doendo? — me abaixo e o encaro, unindo as sobrancelhas vendo o machucado em seu joelho.

— Só um pouquinho. — ele responde com os olhos marejados.

— Não vai chorar, vai? — olho para os lados procurando por Giovanni.

— Claro que não né, tio. — ele ri mas algumas lágrimas escapam o obrigando a limpá-las.

Sorrio e o pego no colo, seus pequenos bracinhos envolvem o meu pescoço e eu acaricio suas costas de leve.

— Você é um garoto forte.

— Meu papai sempre diz isso. Sabia que já fiquei um tantão de dias no médico? Eu tinha leucemia lifousisa.. linfousisa.. — ele olha pra o alto provavelmente tentando se lembrar da palavra — Eu esqueci o nome! Mas todo mundo diz que eu sou forte como o Superman.

— E você gosta do Superman? — caminho até o banco e me sento novamente.

— Não mesmo, prefiro o Batman e o Capitão América.

E aquela conversa durou longos minutos, onde ele tentava me convencer que o Homem de Ferro era mais fraco que o Capitão. Aparentemente, ele nem sequer se lembrava que tinha se machucado a alguns minutos atrás.

— Vejo que se entenderam. — Giovanni aparece com um sorvete de chocolate para o pequeno.

— Nossa, papai, você demorou muito.

Ele desce do meu colo e pega o sorvete com o pai babão. Sem se importar com o olhar preocupado do pai ao ver o machucado em sua perna, o menino corre em direção ao balanço.

— Ele é ótimo. — sorrio olhando para o garotinho que lutava para subir no balanço.

— Ele é.

A Máfia Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora