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LEMON is the new BLACK

Capítulo Quatro

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the cage is full

| y o o n g i |


Uma das piores partes da vida, sem sombra de dúvidas, era ter que tomar decisões, estas que variam de coisas pequenas às drásticas. Porém, mesmo um pequeno ato impensado pode trazer consequências irreversíveis, resultando em marcas dolorosas. Marcas que não podiam ser curadas, que estariam ali, condenando-o pelo resto da vida.

Outrossim, o que dificultava ainda mais a tomada de decisões, era quando envolvia outra pessoa. Pois o maior problema da humanidade é o ser humano. E por isso eu gostaria de pedir encarecidamente, para cada dinossauro que pisou aqui na Terra — ou aqueles ovos que foram pisoteados e não passaram de míseros embriões —, perdão por terem morrido para dar lugar a gente que fala bolacha.

Poderia tranquilamente afirmar que o famigerado "momentos antes da desgraça acontecer" fora após o maldito meteoro, que com tanto lugar para cair na imensidão do espaço sideral, resolveu mexer com os lagartinhos gigantes que não incomodavam ninguém. Só estavam ali, rugindo para o vento e buscando o vale encantado.

A vida sempre foi uma roleta russa. Começou pelo extermínio dos dinossauros, daí veio o capitalismo, e depois Park Junho resolveu não usar camisinha com a esposa, trouxe Jimin ao mundo, fez eu me interessar por sua beleza — outra herança capitalista, notem. Agora eu tinha que escolher se o ajudaria ou não nessa loucura.

Haviam dois problemas naquilo tudo. Um, eu amava Jimin e ele era bonito demais para estar na cadeia. Dois, eu era mais ainda.

Não queria vê-lo preso, não queria que sua vida fosse destruída por conta de um erro, uma decisão que ele havia tomado erroneamente. Porque dificilmente a sociedade aceitaria um ex-policial que fora demitido e preso por ter cometido um crime.

A mim, seria mais fácil aceitarem, pois tinha formação, vinha de boa família, e não tinha quaisquer ligações com traficantes. Eu só precisava tomar uma decisão.

Maldito meteoro.

A primeira noite na prisão fora difícil para mim. O sentimento de que não deveria estar ali, que não era como aquela gente, me perseguia, mas por alguma razão, também me sentia culpado de alguma coisa. Passaram-se as horas e eu tentava adivinhar quanto tempo faltava para amanhecer o dia, mas era bem incerto. Os olhos podiam enganar, e a pequena visão das janelas altas e pequenas gradeadas não ajudavam de muito.

Poderiam ser três da manhã por uma pequena iluminação do céu, que deixava nítido o contraste de cores que resultavam em uma passagem do preto azulado para o violeta forte. E também poderia ser o jogo de luzes e a minha visão embaçada, e ainda era meia-noite.

Os ouvidos, por sua vez, parecem aguçar, deixando-o alternado entre a consciência que o condenava, e os ruídos dentro e fora do dormitório. Roncos, respirações pesadas, tosses e espirros. Grades abrindo e fechando, chaves balançando, passos pesados de guardas que rondavam pela segurança. Às vezes até gemidos de pessoas se masturbando dava para ouvir — outros casos não eram apenas masturbação, se é que me entendem.

Na cadeia, dá-se uma volta no tempo, o tempo vindo pouco depois dos dinossauros, a idade da pedra. Não se sabia o dia e a hora, você tinha que conviver com selvagens, comer sem prazer para não morrer, em outras palavras... Apenas sobreviver.

Lemon is The New Black | myg + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora