Capítulo trinta e seis

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Naiara🎀

Depois de Marcos estacionar a moto, nós entramos naquela pequena casa. Ele me me mandou sentar na cadeira que havia alí dentro. Encarei o homem forte e alto que estava na minha frente, o mesmo deu um sorriso de lado.

Marquin: Naiara, esse é o Turano. - Marcos disse apertando meu ombro.

Turano estendeu a mão para me cumprimentar. Apenas o encarei com a sobrancelha arquiada.

Turano: Como que tu foi arrumar uma mina mal educada dessas, Marcos? - Ele riu irônico.

Marquin: É a tpm, né amor? - Eles riram e eu revirei os olhos.

Naiara: O que tu quer de mim, Turano? - Perguntei e ele me encarou

Turano: Quero saber de tudo, de cada passo de Perigo. Quero saber quem é importante para ele. Tô ligado que vocês era muito próximos! Marquin contou o plano de vocês de fuder com ele, gostei da sua sagacidade. Uma X9 impecável. - Meu coração bateu mais forte e por um segundo senti uma tonteira forte.

Abaixei a cabeça e passei a mão sobre o rosto. O bíle subiu pela minha garganta e a vontade de vomitar já era incontrolável.

Marquin: Qual foi Naiara?

Naiara: Marcos, preciso embora, eu to passando muito mal.

Marcos olhou para Turano que assentiu no mesmo instante. Levantei devagar apoiando na cadeira. Assim que me virei senti a mão de Turano no meu braço, ele chegou perto de mim e colocou meu cabelo para o lado. Seu toque me causou arrepio e nojo.

Turano: Não brinca comigo, Naiara. Eu não sou burro! Tu não tá lidando com um bandido, eu sou dez vezes pior. - Ele sussurrou. Em seguida me soltou e me lançou um sorriso amarelo. - Fica a dica.

***                

Seis horas de conflito. Tava tenso. Eu estava com o coração na mão, não por marcos, mas sim porque eu sabia que Perigo estava metido nessa invasão. Meu peito estava apertado e uma sensação ruim me invadia.

Deitei em posição fetal na cama e me cobri. A cada barulho de tiro de armas diferentes, eu me tremia toda. Nunca gostei de estar em situações assim sozinha, mamãe e papai sempre me confortavam e me acalmavam.

Ouvi um celular tocar e franzi o cenho, eu conhecia aquele som. Caminhei até a cômoda de onde vinha o toque e abri a última gaveta. Meu celular estava alí. Peguei o mesmo e mordi os lábios ao ver que era Perlla ligando. Atendi o mesmo.

Perlla: Prima? Pelo amor de Deus Naiara, me responde. - O nó na minha garganta se formou e as lágrimas rapidamente chegaram aos meus olhos.

Naiara: Perlla, ele me prendeu aqui. O Marcos armou para mim, prima. - Funguei.

Perlla: Eu tô ligada em tudo. Mas agora me ouve! - Pausou. - Você precisa sair daí agora Nai, arruma tuas coisas e sai agora. O Nem foi aí na tua intenção! Eles tão pensando que tu é x9 prima.

Naiara: Eu vou sair daqui agora.

No mesmo momento eu desliguei e peguei minha mochila. Amarrei meu cabelo em um coque e botei o único tênis que eu havia trazido. Abri a porta do barraco dando de cara com a rua. Os barulhos de tiro eram longe então consegui descer aquela rua rapidamente.

Assim que virei a esquina dei de cara com um dos caras do Turano, engoli seco e segui o caminho normalmente. Estava tudo calmo demais para falar a verdade. Estranho.

Perigo. 🔫

Acordei com o despertador tocando, 3:30 da manhã. Hoje era o dia tão esperado por todos nós, o dia em que iríamos ter nosso tão amado complexo de volta, dia que iríamos dar a alegria dos moradores de volta.

Tomei um banho rápido e pus uma calça jeans escura, vesti uma blusa da Nike e por cima pus o colete. Posicionei todas as minhas armas nos lugares corretos e peguei meu radinho em cima do banco. Mandei uma mensagem para minha mãe dizendo que a amava, nunca se sabe o dia de amanhã! Todo dia é isso aí rapaz, pisando fora de casa sabendo que eu corro o risco de não voltar mais.

Infelizmente essa é a vida que eu escolhi, não me orgulho, mas também não me arrependo!

A rapaziada estava agitada, muito armamento sendo movimentado, estávamos na agitação.

***           

A correria na mata estava intensa, tiro para caralho. Era uma guerra, umas das mais difíceis que já tivemos, 6 horas diretas de confronto. Eu estar vivo era uma puta sorte. Vários colegas já haviam sido atingidos e infelizmente não podíamos fazer nada! Mas é isso aí, lutar ou morrer!

Quando vi que a munição da minha pistola tinha acabado, me escorei em uma árvore desviando dos disparos feitos contra mim. Peguei minha fuzil e descarreguei sem pena nos caras.

BG: Bora, bora, porra! Caminho tá limpo, vamo continuar que os caras já devem estar na atividade para nos fuder.

Assim que conseguimos sair da mata, a tropa se dividiu como havíamos planejado. Eu e BG cortamos caminho por um beco que estava vazio. Meu radinho apitou e peguei o mesmo que estava na minha cintura.

Nem: Coe Perigo, acabaram com o popó caralho! Deram um tiro na cabeça do moleque cara, já era.

Meu coração bateu mais forte naquele momento. Popó era um dos nossos soldados mais novos, moleque bom! Tinha boca mas não falava, coração gigante. Lembro como se fosse ontem dele desenrolando comigo para tentar entrar como aviãozinho. Não pensei duas vezes antes de ajudar o menor! Mãe dele era muito filha da puta, uma cracuda que quase vendeu o filho em troca de drogas, fiz questão de ajuda-lo. Por incrível que pareça, fomos como uma "família" para ele.

Esse moleque sempre fortaleceu! É uma perda grande para a nossa facção! Ele era único, de fé, Matheus Henrique foi uma das pessoas que eu mais admirei nessa vida, meu irmão eterno! Jamais será esquecido.

Desliguei o radinho e balancei a cabeça, tranquei o maxilar e soquei a parede com força. BG bateu nas minhas costas e me mostrou a última munição que tinha. Carreguei as armas e saí daquele beco em passos rápidos. Meu corpo ferveu e meus olhos ardiam, limpei as lágrimas e disparei tiro contra um soldado deles que estava de costas.

Ouvi disparos vindo em minha direção e me escondi atrás de um muro. Olhei em direção a quem disparava, era Marquin. Ele me olhava com um sorriso sarcástico. Engoli seco e dei dedo do meio, peguei a pistola e disparei em sua direção.

Senti uma ardência no meu braço esquerdo, ele havia me acertado. O sangue minava. Apertei o mesmo e mordi os lábios ao sentir a dor. Me escorei na parede novamente, tirei a blusa e o colete, rasguei a mesma e a amarrei no meu braço com dificuldade.

BG: Perigo, o filha da puta tá fugindo. - Ele disse me ajudando a levantar.

Corremos na direção que Marcos foi, BG me encarou.

BG: Nós vamos sair vivos caralho! O complexo da Maré vai voltar a ser nosso! - Ele me abraçou de lado. - Tu consegue porra. - Assenti.

Ao entrar na rua três percebemos aue haviam muitos moradores na janela de suas casas. Eles olhavam assustados para o final da rua mas quando nos viram, fecheram as janelas imediatamente. Caminhei devagar com BG e me escorei na parede. Ouvi um gemido alto e destravei a minha pistola.

Encarei aquele beco e meu coração bateu mais forte ao ver aquela cena. Marcos enforcava Naiara que se debatia tentando pedir socorro, tinha sangue para todo lado, ela agonizava. Meu peito subiu e desceu rapidamente, meus olhos arderam e por um segundo, eu fiquei cego, não enxergava mais nada. O ódio me consumiu.




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