Capitulo 01.

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Deslizei meu polegar na fotografia presa em minhas mãos, mamãe e papai estavam bonitos sempre exalando amor e felicidade. Eles eram bons, ajudavam o próximo, construíram um império e eram espelhos para muitas pessoas. Eu não nasci em um berço de ouro, não. Vovó e vovô me contaram que nós éramos simples e meu pai tinha um sonho de ter uma empresa. 
Uma grande empresa. 
Ele lutou muito, trabalhou duro e persistiu até que conseguiu se tornar um micro empresário do ramo de transportes. Iniciou com uma pequena frota que logo passou a crescer e  expandir se tornando a maior companhia de transportes do país.
A famosa Transportadora Jeon's.
Mamãe o ajudou muito também, sem ela ele não teria ido tão longe e ele fazia questão de sempre enaltecê-la. Me lembro de poucas coisas sobre minha infância e a mais significativa lembrança era de quando nós nos mudamos para uma mansão enorme no centro de Seoul. Na época eu deveria ter em torno de sete anos e eu simplesmente amava aquele lugar e amava mais ainda o fato de não ser mimado e de meus pais não terem perdido a humildade que tinham; mesmo ricos éramos as mesmas pessoas que plantavam para poder comer em Busan.
Lembro que muitos empresários contatavam meus pais para unirem as empresas e nesse meio ele reencontrou um amigo de infância que estava indo a falência e tinha uma família para cuidar. Papai nunca hesitou em ajudar as pessoas e como eram amigos, o pouco que o homem tinha foi investido junto da nossa empresa tornando-os sócios. A família desse homem visitava muito a nossa casa e eu fiz amizade com o filho deles. Não sei porque eu não me recordo dos nomes e nem dos seus rostos, apenas me recordo que o menino era muito bonito. Tudo parecia perfeitamente bem até que meu pai passou a discutir frequentemente com aquele homem e isso me assustava um pouco.
Mas as pessoas brigam às vezes, certo?
Não naquele caso.
Papai passou a ficar nervoso constantemente e o outro homem parecia ter adquirido raiva dele. Fui afastado do filho deles e nunca mais o vi. No meu aniversário de dez anos mamãe preparou uma festa linda para mim e eu não poderia estar mais animado. Ganhei de presente uma gargantilha de ouro puro do papai com a sigla de nossos nomes juntos. Um presente especial que eu guardo até hoje. Em um momento da festa eles me chamaram dizendo que precisavam ir resolver um problema urgente na empresa, por alguma razão eu chorei muito e pedi para eles não irem mas, eles não tiveram escolha. Despediram-se de mim e senti um aperto no peito, eu sentia que algo estava errado mesmo sendo pequeno.
E realmente estava.
Eles nunca mais voltaram.
Meus pais morreram em um acidente de carro completamente estranho. Disseram que foi falha mecânica do veículo e uma terrível fatalidade. Dúvido.
Perdi tudo naquele dia.
Perdi minha família tragicamente.
Meus avós me trouxeram de volta para Busan e me deram muito amor, carinho e compreensão. Eles são tão bons quanto meus pais eram. Me criam com muito afeto até hoje e eu sempre serei grato por isso. Vivemos uma vida confortável hoje em dia mas não como antes. Vovô trabalha no plantio e eu o ajudo sempre que posso nisso. Vovó faz bolos e doces por encomenda e por ter um dom tão gostoso vende consideravelmente bem. Sou eu quem faço as entregas para ela e vende o que sobra nas ruas.
Você deve estar se perguntando sobre todo o dinheiro que os meus pais tinham certo? Pois bem, vovó me contou que logo após a morte deles alguns advogados foram até ela e contaram que papai estava inteiramente endividado e que por isso eu não teria direito a nada. Mostraram documentos para ela comprovando as dividas e foi por isso que voltamos a Busan. Na minha cabeça tem algo muito perverso por trás disso e tenho certeza que tem haver com aquela família que se aproximou de nós. Até hoje eu me questiono sobre tudo e sinto que meus avós me escondem algo. Porém, não tenho coragem de confrontá-los.
Observei mais uma vez a imagem de meus pais naquela fotografia. – Sinto falta de vocês.- uma lágrima solitária percorreu minha face. – Eu os amo tanto.- beijei a foto como eu fazia sempre e a guardei em seu devido lugar. Abri meu notebook e digitei o nome da antiga empresa de meus pais com a esperança de que eu pudesse encontrar algo.
Mas não havia nada.
Nenhum registro.
Nada.
Era como se nunca tivesse existido e isso é mais um motivo para as minhas desconfianças. Me joguei na cama tentado não pensar muito nisso até que meu celular vibrou.
"Jiminie
Ggukie saiu a listagem da prova."
Jimin, meu melhor amigo daqui me avisou por mensagem. Desde que cheguei aqui nos tornamos íntimos e fazemos tudo juntos. Ele é o único que consegue manter minha cabeça no lugar quando eu perco o controle com minha sede de vingança. Eu prometi para mim mesmo que iria encontrar a verdade por trás de tudo e não descansarei em paz até conseguir.
Recentemente estudamos muito para tentarmos ingressar em uma famosa faculdade de Seoul como bolsistas, Jimin no curso de agronomia e eu no de fotografia. 
Abri o site da faculdade e digitei meu login, a lista de aprovados apareceu com os nomes dos felizardos novos calouros.
Rolei a tela atentamente e avistei o nome de Jimin na lista. Fiquei feliz por ele, diferente de mim, ele está indo para conquistar algo na vida. O meu propósito não é estudar e sim encontrar alguma coisa que me ajude a desvendar o meu passado. Rolando a tela mais um pouco meu nome estava lá.
Jeon Jeongguk, aprovado no curso de fotografia.
Peguei meu celular e respondi a mensagem do meu melhor amigo.
"Jiminie
Passamos! Estou feliz com isso."
Sorri guardando o aparelho no bolso.
Meus avós sabiam sobre minha tentativa de ingressar em uma boa faculdade e me apoiaram muito nisso, claro que sem imaginarem o real motivo do porque eu queria cursá-la. Eu me sinto péssimo por mentir mas não consigo ter uma noite de sono tranquila sequer sem ter a sensação de que algo está errado.
Fechei meu notebook e desci da cama. Calcei meus chinelos e fui em direção a cozinha, já era tarde e não imaginava que eles pudessem estarem acordados ainda. Me aproximei do cômodo e percebi que os dois conversavam.
- Eu não consigo mais esconder isso dele, eu me sinto péssima. A culpa me consome! – vovó parecia estar chorando.
- Ye, querida você sabe como o Jeongguk é impulsivo se ele descobre isso ele ficará maluco. Ele vai querer ir atrás. – paralisei ao ouvir meu nome e sorrateiramente me aproximei mais da porta da cozinha.
- Eu não gosto de mentir para o meu neto, ele sofre com isso Bogum. – deu um soluço alto.
- Querida, eu odeio mentir para ele também mas eu só quero que ele fique protegido. – vovô tentou acalma-la.
- Bogum, se ele ingressar na faculdade ele vai querer ir atrás dessa história. Vai ser pior para ele descobrir por si só lá, deveríamos contar.
- Como você acha que ele irá reagir Ye? Sabendo que o acidente dos pais foi criminoso e que o Kim Youngjun tomou tudo o que eles tinham? – fechei os olhos com força ouvindo aquilo. – Kim é poderoso você sabe, ele conseguiu apagar todos os rastros da antiga empresa, conhecendo Jeongguk como eu conheço ele não deixará barato e se o Kim matou seus pais sem problemas matá-lo-iria também. Eu só quero meu neto aqui comigo. Ele pode ir para Seoul e vai passar os anos atrás de algo sem fundamentos se ele não souber da verdade. Kim é cuidadoso, Jeongguk jamais descobriria. – senti meus olhos arderem e a raiva me consumir. Eu estive certo o tempo inteiro e meus avós me escondem tais coisas. – Eu só não quero perdê-lo também. Quando ele ver que estava errado ele vai seguir em frente. Prefiro que ele me odeie por esconder isso dele do que vê-lo morto em um caixão. Já tivemos que enterrar nosso filho e nossa nora, não quero enterrar meu neto também. – ditou com pesar.
Senti meu peito doer e fiquei chateado por eles me esconderem isso porém, jamais iria odiá-los. Meus avós são tudo o que eu tenho e eu entendo seus motivos para não terem me contado. Mais uma vez eu iria mentir fingindo que não sabia de nada apenas para que eles acreditassem que eu iria para Seoul estudar.
- Não conte nada para ele Ye, ele não precisa saber disso. – pediu.
- É errado mas você está certo pensando por esse lado. – suspirou audível.
Me afastei com calma da porta e bati os pés fazendo barulho como se eu estivesse andando para o cômodo. Entrei na cozinha e eles se calaram.
- Está tudo bem? – perguntei como de costume.
- Sim querido. – vovó sorriu e vovô assentiu. – Você estava chorando? Seu rosto está vermelho.
- Ah sim, eu tenho uma notícia. – eles me olharam em expectativa. – Passei para a faculdade!
- Oh meu campeão. – vovô veio até a mim me abraçando. – Parabéns meu filho. – desejou emocionado.
- Querido, estou tão feliz por você. – vovó beijou meu rosto delicadamente.
- Obrigado, eu estou feliz e irei com o Jiminie.
- Olha que vocês irão aprontar todas naquela cidade. – vovó ditou divertida.
- Provavelmente. – ri. – Amanhã conversamos direitinho sobre isso eu desci para beber água apenas não sabia que vocês estariam aqui ainda.
- Nós estávamos conversando algumas coisas bobas mas agora iremos para a cama, certo Ye? – vovó assentiu e ambos se levantaram. – Sua vó vai me fazer aquela massagem. – sussurrou piscando.
- Mas nem em sonho! – ralhou nos fazendo rir. – Boa noite querido.
- Boa noite. - ditei por fim. 
Me apoiei na mesa com a cabeça fervilhando, agora eu tinha certeza sobre o acidente não ter sido uma mera fatalidade e que roubaram todos os bens que meus pais deixaram. A questão agora é , como meus avós sabiam disso e por que não fizeram nada?

Sweet Revenge Kth+JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora