Capítulo 27.

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Dois meses se passaram desde que eu noivei com o Jaguar. Minha rotina se limita a assistir minhas aulas, encontrar Jeongguk escondido e manter contato com os hyungs por celular. Tenho visto os meninos cada vez menos já que o Jaguar tem me vigiado constantemente agora. Ele pelo menos não me força a nenhum contato físico mas passou a dormir no meu quarto todas as noites. Quando Jeongguk soube disso ficou maluco de raiva e por pouco não perdeu a cabeça. Apesar de ainda nos encontrarmos sempre que possível, eu sinto que ele talvez esteja por um triz de desistir de tudo. Fisicamente estamos praticamente iguais, olheiras fundas, mais magros e a tristeza bem evidente aos olhos de qualquer um. Por dentro sei que ele está bem mais machucado do que eu me encontro agora.
Yoongi me mandou uma mensagem dizendo que tem conversado com o Minho e que ele está se esforçando para tentar encontrar algo no escritório mas, com meu pai lá sempre é complicado. Cada dia que passa eu sinto estar mais longe de conseguir me livrar disso.
Suspirei audível ao terminar de secar meu cabelo em frente ao espelho. – Quando foi que eu me permiti chegar nesse estado? – ditei para mim mesmo observando meu rosto pálido repleto de olheiras fundas e arroxeadas.
- Trouxe sua comida. – Jaguar apareceu sobre meu campo de visão com uma sacola em mãos. Há exatos três dias ele tem me trazido comida no quarto não deixando que eu vá até o refeitório. O ignorei como vinha fazendo, não me daria ao trabalho de responder qualquer coisa que viesse dele.
– Você precisa comer Taehyung ou vai morrer de fome.
- Morrer de fome seria uma boa opção agora. – ditei sério saindo do banheiro.
- Taehyung não faz assim, você não vê que eu quero o seu bem e que eu te amo? – tentou se aproximar mas eu recuei.
- Você quer o meu bem? – ele assentiu. – Me mantendo em cativeiro, me proibindo de viver, de ver meus amigos e até de ir comer no refeitório do campus, isso é querer o meu bem? – perguntei incrédulo. – Nem a minha mãe eu tenho visitado por que você é um louco Jaguar! – grunhi. – Eu não sei quando foi que você se tornou um monstro como o meu pai. – meus olhos umedeceram. – Ele não merece um pingo de compaixão da minha parte mas minha mãe merece e por isso que eu aceitei viver esse inferno, por ela e por mim. – senti meu corpo tremer.
- Eu só quero proteger você. – me encarou.
- Não! Você quer ser o meu dono Jaguar, é esse o amor que você sente? Se for você precisa ir se tratar.- ironizei.
- EU SEMPRE TE AMEI TAEHYUNG, MAS VOCÊ NUNCA ME AMOU! – gritou.
- EU TE AMEI JAGUAR! – gritei em plenos pulmões. – EU TE AMEI COMO UM AMIGO E COMO HOMEM E O QUE VOCÊ FEZ? ME TRAIU! ME MACHUCOU E ME MACHUCA ATÉ HOJE. O AMOR QUE EU SENTIA POR VOCÊ SE TRANSFORMOU EM ÓDIO, REPULSA E TUDO DE RUIM QUE VOCÊ POSSA IMAGINAR.. – não consegui conter minhas lágrimas, lágrimas essas que eram de pura raiva. – EU PREFIRO MORRER DO QUE CONTINUAR NESSE INFERNO QUE É VIVER COMO O SEU PRISIONEIRO.
- TUDO POR CAUSA DAQUELE CALOURO NÃO É? – ralhou.
- Não! – diminui meu tom de voz. – Tudo para que eu possa viver em paz sem você. – voltei para o banheiro, tranquei a porta e deslizei sobre ela chorando. Me senti aliviado por ter dito tudo o que me sufocava ao mesmo tempo que o medo dominou meu corpo. Ouvi algo ser quebrado junto de um xingo do Jaguar e somente fechei os olhos com mais força tentando controlar meus soluços.
                                (...)
Não sei quanto tempo permaneci no banheiro até que finalmente resolvi sair e para a minha surpresa Jaguar não estava ali. No chão havia os cacos do porta retrato dele com uma foto nossa antiga. Me vi naqueles cacos, eu estava como cada mísera partícula de vidro estilhaçado no chão.
Calcei meus chinelos e saí dali indo em direção ao quarto do Jeongguk. Observei com cuidado ao meu redor e não encontrei nenhum sinal de Jaguar ali. Dei três batidas na porta e ele de imediato abriu e me puxou pra dentro. Desabei mais uma vez em seus braços e ele me confortou até que eu me acalmasse.
                             (...)
Minha cabeça doía muito, me senti fraco e uma sensação de desmaio domou meu corpo. – Tae? – ouvi a voz distante do Jeongguk antes de apagar completamente.
                             (...)
Acordei sentindo um incômodo em meu braço, abri os olhos lentamente e pisquei várias vezes para me adaptar a luz forte que me atingia. As paredes brancas, os bips de máquinas e o avental em meu corpo indicavam que eu estava no hospital.
- Você acordou! – ouvi a voz chorosa do Jin e me virei para o lado. – Que susto você nos deu. – me abraçou.
- Está tudo bem hyung. – ele me abraçou mais forte e soluçou baixinho. – Como eu vim parar aqui? – perguntei ainda confuso.
- Jeongguk te trouxe depois que você desmaiou no quarto dele.
- Cadê ele? Aí meu Deus o Jaguar se ele souber que. – me desesperei.
- Tae, calma! – me olhou apreensivo.
- O que você está escondendo de mim?
Ele suspirou fundo. – Tae o Jeongguk perdeu a cabeça depois que te trouxe para cá e ele foi atrás do Jaguar ensandecido. Os meninos foram atrás dele e eu espero que tenham conseguido alcança-lo.
Dei um pulo da maca e tentei sentar mas a tontura me atingiu em cheio. – Hyung! Diz que é mentira. – o desespero me dominou. – Por favor, ele não deveria ter feito isso. Agora tudo foi por água abaixo.
- Tae você veio parar aqui por culpa do Jaguar, você está desnutrido e desidratado. Você desmaiou e olha como está magro. O médico acha que você está depressivo, você está definhando e é difícil pra gente engolir tudo isso. Eu mesmo quero esmurrar aquele cara até desfigurar aquilo que ele chama de rosto. Estamos todos sofrendo e Jeongguk mais ainda.
O choro se fez presente em mim. – Eu entendo mas o que vamos fazer agora?
- Minho nos procurou hoje no campus e disse que seu pai viajará nesse final de semana com o Minghyu para realizar algum trabalho pra máfia. Jeongguk irá com ele e os meninos até a sua casa, eles irão revirar o escritório a procura de alguma coisa. Vai dar tudo certo.
Murchei os ombros fechando os olhos com força, uma parte de mim estava contente por termos uma chance de acabar com isso, porém a outra estava em pânico por conta do que aconteceria se Jeongguk conseguisse chegar até o Jaguar. Jin enxugou meu rosto tentando me passar algum tipo de conforto, céus por que isso tudo não tem um fim?
                             (...)
Jin foi até a lanchonete do hospital tomar um café e me deixou sozinho no quarto. Não havíamos conseguido falar com nenhum dos meninos. Mais cedo quando discuti com Jaguar eu queria dar um fim em tudo mas não queria que Jeongguk se prejudicasse. Na verdade eu nunca quis que ninguém se machucasse e me arrependo por ter feito os hyungs entrarem nessa loucura. Duas batidas na porta me chamaram a atenção e quando elevei meu rosto Jeongguk estava parado na porta. Ele sorriu triste e veio em minha direção.
- Tae, como se sente? – sussurrou baixinho. Me mantive imóvel tremendo por dentro. – Eu não bati no Jaguar, não tenha medo de mim. – suspirei aliviado.
- É sério? – perguntei e ele acariciou meu rosto.
- É sim. – se sentou na poltrona ao lado e segurou minha mão. – Eu fui atrás dele mas antes de eu perder a cabeça os hyungs me pararam. Eu não fiz absolutamente nada e nem mesmo o xinguei. Me desculpe eu sei que eu teria destruído tudo se tivesse feito alguma coisa mas é que.
- Tudo bem. – o interrompi. – Obrigado.
- Jin te contou sobre o Minho? – assenti. – Nós vamos conseguir acabar com isso meu amor, eu prometo. – selou o nó dos meus dedos. Senti meu coração derreter ao ouvi-lo me chamar de amor pela primeira vez e agradeci aos céus por nada ter saído do total controle. – O médico disse que você precisa se alimentar e eu ficarei de olho em você. – riu.
- Como? Está maluco ou bateu a cabeça no caminho?
- Tem uma coisa que eu quero te mostrar. – se levantou e caminhou até a porta, fez um sinal e logo a figura de Jaguar apareceu ao seu lado. Engoli em seco e congelei na cama. Jaguar se aproximou e Jeongguk se manteve no lugar.
- J-jaguar? – gaguejei com medo. - E-eu.
- Tudo bem Taehyung. – ditou sem emoção. – Jeongguk me procurou dizendo que você desmaiou depois da nossa discussão. Eu pensei muito em todo o mal que eu te fiz e decidi que não quero mais que você se aprisione em mim. Sairei do seu quarto hoje ainda e você poderá voltar a sua rotina de antes. – arregalei os olhos com as palavras que eu estava ouvindo.
- E-e o noivado, v-você.
- Não se preocupe o noivado será mantido, eu também sofro pressão dos meus pais e eu jamais poderia desmanchar isso sozinho. Eu nunca deixei ninguém saber que eu sou tão frágil quanto qualquer um aqui. Enfim, quero te pedir desculpas por tudo o que eu fiz. Eu já entendi que você ama o calouro ali e nada do que eu faça vai te fazer nutrir algo por mim.
Fiquei alguns minutos processando tudo aquilo. Jaguar não me parece sincero mas é um alívio saber que terei minha vida parcialmente de volta. – Obrigado. – foi a única palavra que eu consegui dizer antes de ele ir embora. Jeongguk se aproximou novamente e selou meus lábios. – Eu não acredito nele. Não confio nele. – ditei sério.
- Nem eu mas quando eu o encontrei no campus ele estava chorando bastante e por um segundo senti pena. Se ele estiver tramando alguma coisa pelo menos estaremos juntos.
- Essa mudança dele é repentina demais, ele jamais faria algo assim.
- Não se preocupe com isso agora huh? – selou meus lábios novamente e após me abraçou confortavelmente.
Seja lá o que Jaguar esteja aprontando, sei que tenho que ter cautela. As pessoas podem sim mudar mas no caso dele não tão repentinamente. Por mais que tudo seja extremamente estranho, saber que terei os braços de Jeongguk sempre que eu quiser me conforta bastante.

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