41- Eu não sei.

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- Porra você tá brincando né?!

Kayko berrou a frase, quase deixando o cigarro em sua boca cair.

Ben já começava a se arrepender de ter chamado Kayko para uma conversa naquela manhã nevada.

Embora a amizade dos dois jovens tivesse começado de maneira incomum, Ben considerava o rato um amigo, e como tal, ele pensou que seria uma boa idéia conversar com o mesmo a respeito de suas dúvidas quanto a Leon.

A idéia parecia boa em teoria, mas naquele momento, vendo a expressão chocada do pequeno Kayko, ele já não tinha a mesma certeza.

- Deixa eu ver se entendi, você tá dizendo que acha que está apaixonado pelo Leon?!_ O rato disse.

Ben respirou fundo, pois nem ele mesmo acreditava que havia usado as palavras "apaixonado" e "Leon" na mesma frase. Para ele era surreal que houvesse chegado a essa conclusão, depois de horas em claro, pensando e olhando o teto de seu quarto na madrugada passada.

Mesmo que não compreendesse como, ou porquê, Ben sabia, que dentro de si, o sentimento por aquele homem arrogante, era tudo, menos ódio. A necessidade que seu corpo tinha do outro, a aceleração do seu coração a respiração de Leon, tudo o que nenhuma outra pessoa despertou, estava lá, agora desperto, acesso, pelo chefe de gangue.

Ele não tinha mais dúvidas, o que começou apenas como uma raiva e antipatia, transformou se em um sentimento forte, que o deixava quase a deriva no seu próprio desejo. Aquilo só podia ser descrito como paixão.

O garoto, não sabia exatamente o que fazer quando chegou a aquela sentença, e por isso, esperava que o amigo, pudesse lhe dizer algo que o ajudasse. Ben, olhando o espanto de Kayko, começou a falar, tentando se explicar melhor:

- Cara, eu só não sei... Eu me sinto estranho perto dele. É como se o meu corpo não me obedecesse.

O rato tragou o cigarro longamente, fazendo a brasa avermelhada brilhar forte. Ao soltar a fumaça para o alto, enchendo a cozinha do cheiro de tabaco, ele falou:

- Eu não imaginava que se sentia assim, tipo, achei que odiava ele.

Ben sentou se de frente a bancada da cozinha, apoiando os braços sobre a mochila. Fixou seus olhos castanhos no amigo, antes de falar em um suspiro:

- Eu deveria odia lo, mas eu não consigo, por mais que a minha cabeça diga não, o meu peito fica dizendo sim. Cara eu tô fodido! Ele é um cara!

Kayko deu o último trago, jogando a guimba de cigarro na caneca de café que segurava.

- Ah cara, qual o lance dele ser homem? Pô, se você tá afim de foder com ele, ou apaixonado, sei lá, só faz o que tu quer fazer._ Ele disse.

- O problema é que não sei se devo Kayko.

O rato deu um impulso, sentando na própria bancada, ao lado de Ben.

- Cara, você e eu passamos a vida inteira sem poder escolher o que queríamos fazer ou não. Quando foi a última vez que você fez algo porque realmente queria? Qual a última vez em que desejou algo e realizou?_ Kayko questionou.

- É só que parece tão errado..._ Ben falou.

- Errado? Ah idiota, não importa se é um cara ou uma garota, você sabia que existe um coisa chamada bissexualidade? Tipo, você deve se enquadrar nessa categoria._ Rindo, Kayko falou.

- Ahhhhhhh eu não sei de mais nada!_ Ben exclamou, afundando o rosto na mochila.

Kaykou catucou o ombro de Ben, fazendo o garoto levantar o rosto e lhe olhar, encontrando a expressão do rato de um jeito um tanto zombeteiro.

- Ele já fodeu você né?_ Kayko disse rindo.

Ben deu um soco no peito do amigo, se levantando e indo para a frente da sacada, enquanto Kayko gargalhava.

- Ninguém me fodeu, babaca._ Ben respondeu bravo.

Kayko andou em direção ao amigo, falando no seu ouvido:

- Espero que você tenha um bom lubrificante meu camarada.

Enquanto Kayko ria sem parar, e Ben pensava se devia ou não chutar a cara do pequeno, ambos viram, através das portas de vidro da sacada, o belo Maverick 78 estacionar em frente aos grandes portões de ferro.

- Parece que seu príncipe do gueto veio te ver._ Kayko disse, ainda rindo.

Ben sentiu um frio se instalar no seu interior, o peito acelerou, e sem perceber ele sorriu sutilmente. Saiu andando, afim de chegar ao portão e saber o que Leon fazia ali, a aquela hora da manhã.

Ao passar perto do amigo, ouviu o mesmo dizer baixinho:

- Melhor levar uma camisinha.

- Vá pro inferno!_ Ben respondeu, se apressando em sair da casa.

Dirt Game  ( Lgbtq+)Onde histórias criam vida. Descubra agora