20- O trabalho.

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Olhando o céu com poucas estrelas, e tendo o rosto pincelado pela brisa gelada que começava a soprar aquela hora da noite, Ben andava a passos vagarosos pelas ruas, rumo ao seu primeiro dia de trabalho no cassino White Moon.

Desde o dia do jogo, ele ainda não aceitava aquela derrota ridícula, e mais do que isso, a chantagem vil que Leon lhe impôs.

Isso só mostrava ao jovem, o quanto aquele homem era sem escrúpulos algum. Capaz realmente de qualquer coisa. Usar seu pai como forma de obrigá-lo a pagar a aposta, foi algo que jamais passou pela cabeça do garoto. Ele foi pego de surpresa, e sem alternativa, teve que ceder.

Aquela chantagem estava presa a garganta de Ben, tal qual uma espinha de peixe. E por mais que ele tentasse buscar uma solução para sair daquele imbróglio, não aparecia uma boa maneira de fazê-lo.

O tempo simplesmente voou, as aulas sempre tão vagarosas a passar, em um instante já haviam acabado. E agora era hora de encarar aquele lugar novamente.
Kayko insistiu em ir junto dele, talvez por se sentir culpado. Mas Ben negou a companhia.

Já do lado de dentro da White Moon, tendo sido recepcionado por Millo, Ben imaginou a figura intragável de Leon a sua espera, mas se surpreendeu ao saber que o chefe não estava no lugar naquele momento.

Isso o fez se sentir de certa forma, aliviado.

Millo o apresentou aos demais membros do lugar. E assim, ele conheceu de maneira adequada seus colegas de trabalho. Bill, era o velho russo que trabalhava como o porteiro, Misha a gêmea ruiva, era uma das seguranças, o irmão, Mika, também era um dos seguranças, ambos eram filhos de Bill. Havia também, Robin, a recepcionista do salão de jogos, a mesma que flertou com Kayko da primeira vez que Ben esteve no cassino.
Além deles, Bianca, Gya e Sam, eram as bartenders, e Sal e Juan, os seguranças do bar.

Mesmo tendo afirmado que o contato de Ben com quem ficava no bar, seria mínimo durante o funcionamento do local, Millo quis que ele conhecesse a todos.

A explicação sobre sua função foi simples, Ben deveria fiscalizar os jogadores, as atitudes, o modo como jogavam e apostavam, e o mais importante: se contavam cartas.
Caso a conduta de um jogador saísse da linha, Ben deveria avisar imediatamente a Millo, Misha ou Mika.

Às oito horas em ponto, o bar e o salão estavam em funcionamento. Não demorou para que alguns clientes chegassem e ocupassem boa parte das mesas de jogos. Ben circulava entre os jogadores, olhando atentamente para tudo ao seu redor.
Não era como se aquele ato estivesse sendo feito pela sua dedicação ao trabalho que lhe foi dado, e sim, para que as horas pudessem passar mais rápido. Não fazer nada não o ajudaria a se livrar daquilo, então, resolveu que trabalharia de forma produtiva, para quitar logo a dívida de cem mil.

O plano funcionou, um par de horas depois, a clientela foi diminuindo, até que o bar e o salão estavam fechando. Robin começou a recolher os baralhos e fichas, Millo se pôs a ajudá-la, com bastante habilidade. Misha e Mika recolheram as peças de Mahjong, tudo era guardado em um baú de metal, que depois foi trancado a cadeado, e a chave guardada por Millo. Ben ajudou a guardar os tacos, bolas e suporte das mesas de bilhar, que ficavam trancados em um armário de madeira.

Quando tudo estava guardado e trancado no seu devido lugar, Millo disse que Ben poderia ir embora, lhe indicando com um aceno de mão, antes de agradecer pela ajuda na arrumação dos objetos de jogo.

Já passava das três da manhã, ele não podia dizer que havia sido uma noite tão ruim, na verdade ele achava que não tinha feito grande coisa. Talvez porque Leon não tenha ficado por lá.

Logo que passou pela porta da frente do bar, rumo ao corredor que levava até a rua, satisfeito por não ter se encontrado com o chefe, seu alívio, foi imediatamente substituído, pela desagradável presença da pessoa parada ao lado direito da porta que acabará de atravessar.

- Como foi seu primeiro dia Ben?_ Leon falou.

Com o descontentamento estampado no rosto, Ben não fez questão de esconder o desagrado de estar na presença de Leon mais uma vez. Virou o rosto para o lado onde o chefe estava, lhe respondendo:

- Isso te interessa?

Leon esboçou um sorriso, se movendo da parede a qual estava recostado, deu dois passos a direção de Ben, dizendo:

- Você é meu empregado, claro que seu bem estar me interessa.

- Não seja tão cínico._ Ben falou secamente, virando, e seguindo o caminho do corredor deserto a sua frente.

- Sempre afiado como uma faca!_ Leon retrucou, seguindo a passos lentos, o garoto que se quer olhava para trás. Ben podia ouvir o som do caminhar de Leon, e o barulho irritante da sua voz, voltando a falar.

- Você vai caminhando sozinho? Que tal uma carona?

- Não._ Ben respondeu cortante.

- Não seja assim, meu carro está aí na frente, não me custa nada._ Leon insistiu.

- Pra mim custa. Não quero e não preciso da sua ajuda pra nada._ Ben falou, parando e olhando pela primeira vez para o rosto do chefe.

Leon parou seus passos, ambos se encaram por um breve momento, a feição de Ben, mostrava um indiscutível desdém. O chefe mantinha a mesma expressão de suavidade e calma que era sua marca registrada.

- Orgulhoso e teimoso, como uma criança mimada. Ser ríspido comigo pode ter uma ação contrária a que você espera._ Leon disse.

Ben voltou a caminhar, na sequência, falou:

- O que quer dizer?

- Digamos que eu gosto de garotos mal criados._ o chefe respondeu, com um tom sério, mas totalmente envolto em ambiguidade.

- Não me enche.

Ben falou, atravessando o portão de ferro antigo, rumo às ruas geladas da madrugada.

Ben falou, atravessando o portão de ferro antigo, rumo às ruas geladas da madrugada

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