23- Preto e Branco.

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Sentado no sofá branco, Ben já estava arrependido de ter entrado naquele apartamento.

Enquanto olhava ao seu redor discretamente, não contendo a curiosidade quase infantil que se ascendia dentro dele, Leon se pôs a tocar o piano novamente.

Lentamente, nota a nota, a melodia harmoniosa e cadenciada invadia o ambiente, como pedido por Ben, lá estava Leon trazendo a música de Schubert por intermédio de seus dedos.

Seus olhos estavam fechados, e era nítido o quanto estava concentrado enquanto dedilhava as teclas do instrumento. Sua expressão era tranquila e um sorriso preguiçoso desenhava seus lábios.

Ben conhecia aquela música muito bem, já havia praticado com ela inúmeras vezes quando criança, e sem dúvida, Sarenade era uma das suas preferidas do famoso compositor austríaco.

Era surreal, e quase inacreditável para Ben, que um chefe de gangue, alguém envolvido com negócios escusos, tal como Leon era, pudesse se quer conhecer sobre música clássica, quem diria então, toca-la. Uma quase sensação de paz, lenta e gradual, foi se apoderando dos sentidos do garoto, tão sutil, mas tão poderosa, que sem perceber, Ben já havia relaxado no sofá, esticando as pernas, e dando um leve suspiro.

Ele aceitou entrar naquele apartamento, esperando ver Leon fracassar ao tocar algo clássico, esperava rir dele, tirar lhe o tom orgulhoso. Mas o que se desenrolava a sua frente, só mostrava a Ben, o quanto era difícil rebaixar o chefe.

Embora ele jamais fosse admitir, Leon tocava muito bem, e era vergonhosamente bom ouvi-lo.
Ben continuou usufruindo daquela bela e suave melodia, enquanto seus olhos corriam soltos pelo espaço a sua volta. O apartamento era todo branco, amplo, com pouca mobília, mas muito bem decorado, nas paredes haviam muitos quadros, com pinturas abstratas, algumas caricaturas engraçadas, e todas as outras eram paisagens. Um desses quadros porém, chamou a atenção de Ben; parecia um tipo de auto retrato, mostrando um homem de idade já avançada, com cabelos loiros e olhos de um azul muito claro, ele tinha um olhar gentil, mas ao mesmo tempo, de uma tristeza indescritível.

No momento seguinte, Ben se pôs a observar Leon, tentando imaginar que tipo de homem ele era afinal. Ao olhar para ele, ainda tocando com os olhos fechados, Ben viu as tatuagens que enfeitavam seu corpo, uma no braço, onde havia a cabeça de um lobo, e outra no abdômen, onde um grande gato em estilo tribal estava desenhado. Ben também pôde ver claramente algumas cicatrizes, nas costelas, ante braço e a maior de todas, nas costas, do lado direito.

Tendo Leon a vida que tinha, não era difícil para Ben concluir, que aquelas cicatrizes deviam ser provenientes de brigas de gangues, ou, talvez, até coisas piores.

Logo após esse pensamento, a música acabou, despertando Ben, de suas inúmeras divagações. Imediatamente, Leon abriu seus olhos, os focando inteiramente no rosto de Ben. Virando se para o garoto, ele falou:

- E então, toquei bem?

Ben queria dizer que não, mas não seria verdade, e seu rosto provavelmente já dizia isso.

- Sim, tocou._ se limitou a responder.

Leon, sorriu, fechado as teclas do piano, em seguida, perguntou:

- Você não gosta mesmo de mim, não é?

"Que raio de pergunta é essa?"

Ben pensou.

- O que tem para gostar em você?_Ben disse, de forma sincera.

- Uma série de coisas._ Leon falou, ajeitando a postura, fazendo o gato em seu abdômen parecer maior.

Ben respondeu imediatamente, mostrando na voz, um inquietante tom.

- Você gostaria de alguém que estivesse te chantageado?

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