12- Dia quente

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Com um andar vagaroso e cansado, Ben saía pelos portões da universidade naquela terça feira quente e de céu aberto. A tarde já chegava ao fim, o dia havia sido cheio de aulas entendiantes e majoritariamente chatas.

Enquanto caminhava, sentindo a camisa colar nos músculos das costas, devido ao calor escaldante que enfrentou durante o dia letivo, ele só pensava em chegar o mais rápido possível em casa, afim de tomar um refrescante banho, e se afundar no seu quarto.

Fora o clima tenebroso que vinha fazendo nos últimos dias, muito do desânimo e irritação de Ben, tinha nome.

Valentina.

A garota mudou sua atitude drasticamente, deixando Ben confuso e perdido.
Valentina mal o cumprimentava quando se viam pela universidade, as vezes, ele teve até mesmo a impressão de que ela fingiu não vê-lo em algumas ocasiões. Ele não imaginava que apenas deixar de olhar alguns instantes para ela naquela boate, fossem deixá-la tão irritada.

"Isso é um saco".

Pensou Ben.

Colocou os fones de ouvido, e seguiu o caminho, pensando que talvez, fosse mesmo melhor não se envolver com ninguém nesse momento.

Caminhou em silêncio, concentrado na música antiga e suave que ouvia. Já próximo de casa, quando já brincava com o molho de chaves em suas mãos, avistou Kayko parado no portão, escorado nas grades de metal escuro.
Mesmo distante, Ben notou a expressão de pavor no seu rosto miúdo.

Sacudindo a cabeça, Ben já imaginou que algo tinha acontecido.

- O que houve? Por que não entrou em casa? _ perguntou Ben.

A reação de Kayko, não poderia deixar lo mais surpreso. O rato correu em sua direção, segurando o amigo pelos ombros, seu rosto estava coberto por lágrimas, ele soluçava como uma criança que se perdeu dos pais.

Alarmado e preocupado, Ben imediatamente o questionou.

- Ei! Ei! Cara, o que foi?

- Ben...Ben, cara... _ Kayko tentava falar, mas os soluços, interrompiam cada palavra dita.

- Ei, calma, respira ok?! Me fala o que aconteceu._ Ben falou, tentando acalmar o amigo.

Depois de alguns segundos, controlando a respiração, o rato começou a falar.

- Eu tô muito ferrado cara, muito. Eu...eu preciso da sua ajuda.

- Minha ajuda? _ Ben indagou.

- Eu me meti em uma confusão, das grandes! Mas eu posso resolver, basta você me ajudar. Você só tem que vir comigo ao White Moon e jogar.

Ben revirou os olhos, bufando.

- O quê? Ficou louco de vez? _ disse Ben, com um sonoro grito.

- Estou devendo cem mil ienes! Cem mil Ben! Como vou pagar isso? _ Kayko disse, os olhos voltando a se encher de lágrimas novamente.

- Isso é problema seu! Seu idiota! Eu falei que você não devia ir lá! Que se foda sua dívida! _ Ben continuava gritando, furioso com a irresponsabilidade de Kayko.

O rato voltou a chorar, se agachando ao chão, as lágrimas pingavam uma a uma no concreto a sua frente.

- Eles vão me matar Ben, você entende? Eu não tenho essa grana, eu não posso simplesmente pedir ao meu pai. _ Kayko disse.

- Pensasse nisso antes, imbecil. Eu também não tenho esse dinheiro todo, e também não posso pedir ao meu pai. _ Ben respondeu.

Nesse momento, Kayko se levantou, secando o rosto com as costas das mãos, ele voltou a falar.

- Eu sei que você não tem essa grana, mas tem outra forma de resolver isso, e só você pode fazê-lo.

Ben não entendeu de início, com uma expressão questionadora, ele perguntou.

- Como assim?

- O chefe... O chefe disse, ele prometeu, prometeu Ben! Se você jogar com ele, e ganhar, minha dívida será perdoada!

Os olhos de Ben se arregalaram, tudo o que ele menos queria era voltar aquele lugar, e mais do que isso, ele queria menos ainda, ver, ou falar com Leon.

- Você está maluco, eu não vou fazer isso. Eu não quero fazer isso, e você sabe que eu odeio jogar! _ Ben disse, de maneira determinada, tentando encerrar o assunto.

- Você é o melhor jogador que conheço Ben, você vai ganhar com facilidade. Você é minha única esperança. Por favor! Eu imploro.

Ben estava com raiva da situação, irritado pela idiotice daquele rato, ele não queria se envolver com coisas daquele tipo, ele queria que Kayko tivesse noção das coisas que fazia, que ele cuidasse melhor da sua vida.

Ao olhar o amigo com os olhos vermelhos, e um rosto pedindo clemência. Ben, por mais furioso que estivesse, enfim, depois de um profundo suspiro, respondeu.

- Ok, eu concordo em jogar.

Na mente de Ben, pior do que aturar ir até aquele lugar e ver aquela pessoa, era a culpa que sentiria se algo de ruim acontecesse aquele rato idiota.

Dirt Game  ( Lgbtq+)Onde histórias criam vida. Descubra agora