55- Taken

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Leon olhava a tela do celular gradualmente se apagando, junto do aviso sonoro da ligação que fora encerrada. Levou o aparelho até o bolso direito da jaqueta jeans, fechando os olhos por alguns instantes, abrindo os em seguida, ao ouvir a voz de Makino.

- O que foi?

- Ele pegou o Ben._ O chefe respondeu em voz baixa.

- Essa era a sua confirmação. Qual o próximo passo?

O mais jovem andou um pouco pela pequena e apertada sala do velho apartamento do detetive, sentindo um nó forte em seu peito.

- Esperamos, ele vai me procurar. Essa provavelmente é sua última cartada. Não é o Ben que ele quer.

- Você tem certeza disso? E se você estiver enganado?

Leon virou-se, encarando o homem que estava desafiando tudo pelo que acreditava e lutava todo esse tempo, confiando nele para pegar o único e verdadeiro assassino.

- Eu tenho certeza.

A muitos quilômetros daquele velho prédio onde Makino e Leon confabulavam trancados, um carro ganhava as estradas de terra sem pressa.
O veículo não chamava a atenção, andando devagar, passando por algumas plantações de arroz e milho.

Ao volante, um homem conduzia a direção com cautela, olhando vez ou outra para o banco de trás, onde um jovem amordaçado e amarrado ainda se mantinha desacordado.

No rádio uma canção tranquila enchia de uma agradável melodia o veículo, fazendo seu motorista cantarolar alguns dos seus versos entre um sorriso frio e outro.

Dedos magros escondidos por uma luva preta, puxaram com força o casaco, abotoando os botões que ainda estavam abertos. Era final do inverno, mas assim que estacionou próximo as montanhas, sentiu seu corpo ser varrido pelo vento que ainda era gélido.

A casa de madeira ao lado, estava vazia, ele sabia bem. Por isso não se deu ao trabalho de se quer olha-la.
Andou alguns metros, sentindo a neve que começava a derreter, fazendo algumas partes do terreno um pouco escorregadias, sem se dar conta, que seu passageiro já despertava.

Este, por sua vez, conseguiu sentar se no banco, observando e reconhecendo imediatamente a paisagem do lado de fora.
Sua espinha se arrepiou, seus batimentos cardíacos aceleraram, em um contido medo.

Forçou os braços e pernas, sacudindo o corpo com força. Contudo, as cordas muito bem amarradas não afrouxaram nem um centímetro.
Seu intuito em safar-se das amarras chamou a atenção do homem do lado de fora, que de pressa, mas sem qualquer urgência, voltou ao veículo, abrindo a porta traseira.

- Calminha Benjamin._ O homem falou, exibindo um grande sorriso.

Ben petrificou no lugar.

Ao olhar aquele rosto, aquela expressão, a encara-lo tão friamente, o jovem sentiu o amargor em sua boca, seu estômago revirou.
Ele gruniu sob a mordaça, se jogando à frente do homem.

- Ah...não fique bravo, logo tudo isso vai acabar.

Então,  o homem agarrou as pernas de Ben, o puxando para fora do carro. O corpo do jovem se chocou com o chão frio, sentindo a umidade da neve atravessar suas roupas simples.

Lentamente, e com alguma dificuldade, o jovem era arrastado pelos pés, as costas se encharcando de lama. Mesmo se contorcendo, o homem logo chegou a um grande bordô, onde empurrou Ben, o amarrando ao tronco robusto e forte daquela árvore.

- Não se preocupe Ben, seu amado Leon logo virá salvar você._ O homem disse, ajeitando o grosso casaco.

O jovem tremia de frio e raiva, sob o olhar curioso e silencioso dos galhos que pendiam avermelhados do alto.

Em sua mente, uma única pergunta ressoava sem pausa.

"Por quê?"

Agachado próximo ao jovem de olhos arregalados, o homem parecia ler a mente do outro, ao começar a falar:

- Vejo tanta dúvida em seu olhar. Mas calma, tudo será devidamente explicado quando o poderoso chefe Leon chegar. Eu já mandei sua foto, e a localização. Vamos ver o quanto ele o ama.

Ben fechou os olhos, sentindo uma lágrima transbordar quando suas pálpebras se tocaram.

- Ei, não chore, ok?! Onde está o Benjamin corajoso? O garoto que fala tudo o que pensa.  A covardia não combina com você.

A raiva se apoçava de cada célula do seu corpo, esquentando sua alma com o calor de uma ira, nunca antes sentida por ele.

- Sabe, eu não queria mesmo ter que apelar para você, tudo seguia como eu queria. Mas então Leon tinha um grande trunfo, que fez sua acusação parecer nada. Por isso, e somente por isso, eu tive que usar o meu trunfo.

Se debatendo e urrando em cólera, Ben sentia as cordas apertando seu tronco a cada nova investida. Ainda assim ele não deixava de tentar se soltar nem por um segundo.

- Leon...eu odeio aquele filho da puta mais do que tudo. Se ele simplesmente tivesse ficado preso, você não estaria aqui, então, ele é o único a quem você deve culpar._ O homem falou, sorrindo calmamente.

Ao longe, o som de um motor se aproximava, e a cada segundo em que mais próximo o rosnar da máquina de metal e gasolina se tornava, o sorriso do homem se alargava.

- E lá vamos nós para o ato final dessa epopéia de dor e amor. Preparado,  Ben?

O homem sussurrou, virando-se para o Maverick que parava abruptamente, fazendo a neve derretida afundar.

Ao ver Leon sair do carro, com o rosto embebido em uma falsa calma, o homem se aproximou de Ben, erguendo seu corpo junto ao próprio, sacando a arma, a encostando com cautela na têmpora do jovem amarrado.

- Bem vindo Taro!

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