19- Tropa

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O Maverick 78 estacionou na rua lateral ao bar da rua vinte, bem no centro da cidade. Dentro do automóvel, Leon e Millo, aguardaram alguns minutos, até que Millo recebeu a confirmação por celular, que os demais integrantes daquela reunião já se encontravam no estabelecimento de costume.

Dentro do recinto, que teve um aviso de fechado colocado no vidro da frente, estavam os braços direito de Leon nos negócios:

Ashita, conhecido como doutor, responsável pelo contrabando de remédios; Mattias, conhecido como mexicano, que administrava o contrabando de armas; Yugo, que era chamado por todos de Rússia, responsável pelas bebidas ilegais; e por fim, Hikiko, a contadora, encarregada de movimentar o dinheiro envolvido em todas as transações.

Perfilados no balcão preto metálico do bar, nenhum deles olhou para trás quando Leon entrou junto de Millo. A banqueta deixada vazia bem no meio onde todos se sentavam, foi ocupado por Leon, Millo, se sentou no último lugar do balcão, próximo a junção a parede.

- Ah...eu queria tomar uma bebida agora._ Leon disse, pondo os braços sobre o balcão.

O primeiro a respondê-lo foi Ashita, que também era o mais velho naquele lugar.

- Você parece cansado hoje, Leon. O que está acontecendo?

- Para nos chamar todos de uma vez, boa coisa não deve ser._ O mexicano respondeu.

- Diga chefe, o que está rolando?_ dessa vez, foi a voz melodiosa e bonita de Hikiko, que se fez presente.

O chefe virou-se na banqueta, ficando de frente a porta, de onde podia ver a rua quase sem movimento do lado de fora. Em seguida, ele se pôs a esclarecer as coisas.

- Vocês lembram de quando os questionei sobre os garotos mestiços mortos? Pois bem, vocês me garantiram que nenhum deles trabalhou junto a vocês. Que não os conheciam.

- Exatamente._ disse Yugo.

- O fato é que, Makino está investigando esses assassinatos, e claro, ele veio me procurar._ Leon falou, dados alguns outros detalhes sobre a visita do detetive e seu parceiro, naquela mesma manhã.

- Então, ele vai ficar de olho em você e tudo o mais._ Ashita concluiu.

- A questão não é essa, isso o detetive sempre fez. Algum tempo atrás, fui informado, que Asaki vinha mencionado meu nome mais do que o abitual, o que fez meu informante me contactar.

Quando Leon mencionou aquele nome, todos se entreolharam, com uma surpresa significativa nos rostos.
Kaoka Asaki era o líder da gangue dos puros, eles lidavam com prostituição, drogas e roubos de carros. Claro, como puros japoneses que eram, tinham aversão aos estrangeiros e seus descendentes, os mestiços. Contudo, a gangue de Asaki não tinha um grande número de membros, nem força econômica e por consequência pouco território, e quase nenhuma influência, já que bem mais da metade dos habitantes de Touran, eram de estrangeiros e sua linhagem.
Mesmo que a política na cidade sempre ignorasse essa maioria, e a deixasse a margem da sociedade.

Asaki nunca representou uma ameaça direta aos negócios de Leon, e durante todos esses anos, cada um ficou restrito a cuidar dos seus respectivos lados. Quando alguns membros de cada lado entravam em conflito, mesmo que violentamente, as coisas acabavam por se resolver, com um acerto de contas entre os envolvidos.

Por vezes, houveram indícios de que Asaki tramava contra Leon, mas jamais nada foi posto em prática. E por vezes não passaram de boatos. Ainda assim, Leon fez questão de colocar alguém seu, no lado da gangue de Asaki, e seu informante já fazia esse papel a muitos anos. Somente o chefe e Millo sabiam a identidade dessa pessoa.

- O que você tem em mente chefe?_ perguntou Mattias.

- Eu não posso afirmar que Asaki está envolvido nisso, nem posso dizer se ele também não está sendo investigado. Pelo menos, não agora.

- Qual a ordem então Leon?_dessa vez, Ashita quem perguntou.

- Quero que descubram tudo sobre esses três mestiços mortos, tudo. Não se desviem das suas atividades, mas fiquem atentos mais do que antes. Não repassem o que foi dito aqui hoje, não sabemos se alguém está infiltrado do nosso lado.

- Certo._ quase em uníssono todos responderam.

- O caso é, essas mortes não foram por acaso, alguém está por trás disso, e eu posso ser apontado como o responsável. Eu quero pegar quem foi antes disso.

Já de volta ao carro, agora em movimento, Millo dirigia em silêncio, com sua atenção inteiramente voltada ao trânsito, que começava a se intensificar com o horário de final de tarde. Algumas horas mais tarde, o bar e salão de jogos estaria em funcionamento, e a rotina noturna de ambos viria como sempre. Interrompendo o silêncio que se fazia presente dentro daquele Maverick, Leon falou.

- Sinto inveja sua, meu amigo. Queria ser você e ter um colo para me acarinhar quando chegasse em casa.

Millo sorriu, como era raro fazer.

- Inveja de mim chefe? Não diga bobagens.

Leon sorriu também, apertando o ombro do amigo no volante.

- Você tem sorte de ter o Mika. Eu duvido que um dia terei algo perto do que vocês dois possuem.

- É claro que vai ter chefe, ligue pra alguém, divirta-se um pouco.

Leon não respondeu, olhando as ruas passarem uma a uma, enquanto o carro seguia o rumo de volta ao bar.

Dirt Game  ( Lgbtq+)Onde histórias criam vida. Descubra agora