52- Ascendendo o pavio.

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Esfregando as mãos no rosto seguidas vezes, Ben escutava pela segunda vez a explanação de Mika.

- Você precisa confiar em nós Ben, não podemos tentar soltar o chefe agora._ o ruivo dizia calmo, tendo Millo ao seu lado.

- E ficar aqui parados vai resolver o que? Hã?!_ Ben repetiu a mesma fala que vinha dizendo desde que Leon havia sido levado.

Para o jovem, era absurdo que todos estivessem agindo tão tranquilos, como se o chefe e amigo de todos eles não estivesse preso por assassinato.
Embora Mika e Millo lhe tivessem explicado, mesmo sem muitos detalhes, que essa era a ordem de Leon.

- Nosso foco agora é outro Ben, assim é a vontade do chefe, e nós vamos obdecê-lo como sempre fizemos._ Mika falou.

Ben olhou para o rapaz de belos cabelos cor de fogo, vendo calma e confiança em seu rosto.

- Vá para casa Ben, nós vamos fazer nosso melhor.

Contrariado, mas certo de que ele deveria fazer algo a respeito de tudo aquilo, o jovem decidiu ir embora, saindo do salão aos olhares de todos os funcionários.

Ao abrir o portão, já sentindo o cheiro sujo da rua, Ben deparou se com Hikiko, acompanhada de mais três homens que o garoto não conhecia.
A nipônica reparou imediatamente na expressão raivosa do jovem, interceptando sua passagem, ao tocar seu ombro.

- Benjamin. Não fique assim, ok? Vamos dar um jeito nisso tudo.

- Ninguém está fazendo nada aqui! Você também vai ficar parada? Como eles?_ O jovem disse sério, mas aumentando o tom de voz.

- Eles estavam a minha espera, agora que os adultos chegaram, vamos ao trabalho.

- Deixe-me ajudar! Por favor?! Eu...eu quero tirar o Leon da cadeia!_ Ben falou, segurando Hikiko pelas mãos.

A bela mulher sorriu de modo simples, afagando o rosto do jovem ao dizer:

- Não se preocupe, nosso plano vai tira-lo da cadeia. Leon jamais aprovaria que você se envolvesse com isso.

O jovem franziu o cenho, cansado de ser tratado como uma pessoa que não pudesse ser de valia.

- Não me trate como criança, Hikiko, eu posso e quero ajudar.

- Eu sei disso, mas você é a pessoa mais importante pro chefe agora, e ele não me perdoaria se algo te acontecesse. Por isso, não se intrometa, deixe conosco.

Ben não a respondeu, tendo a certeza de que argumentar com a mulher não mudaria sua decisão.
Saiu pelas ruas, andando duro e rápido por aquela vizinhança vazia e silenciosa.

Não demorou a chegar em sua casa, e logo que nela entrou, toda a raiva que sentia naquele momento, passou a ser descontada jogando tudo à sua frente longe. Almofadas da sala, copos na cozinha, tudo voando pelos ares.

Muito tempo depois, quando a casa parecia ter sido revirada por um furacão, Ben se encontrava sentado sob o chão de seu quarto.
Os olhos vazios, escondiam uma sensação estranha, como se algo que era seu lhe tivesse sido tomado.

Ben pensava única e exclusivamente em Leon, em o que aconteceria com ele preso, se ele havia apanhado, se seus direitos haviam sido respeitados. E imaginar, que ele pudesse ficar preso para sempre, por algo que não fez, sem que ninguém pudesse ajudá-lo, deixava o jovem possesso.

"Eu tenho que tirar ele de lá!"

Era o maior pensamento de Ben.

O garoto já havia perdido a noção do tempo em que estava na mesma posição dentro daquele cômodo, olhando o papel de parede azul, vendo suas roupas e móveis jogados pelos cantos.

"O que devo fazer Leon?"

Passou a se perguntar, até que sem se dar conta, adormeceu, segurando as próprias pernas deitado sob o carpete cinza.

Teve um sono sem sonhos, mas ao acordar, ouvindo o telefone tocar sem parar em algum lugar do quarto, teve a sensação de que dormiu durante dias.

Ao finalmente encontrar o aparelho, sobre uma pilha de objetos, desbloqueou a tela, vendo inúmeras chamadas e mensagens. A maioria delas de seu pai, mas a que tomou a atenção do jovem, foi o texto enviado por Hikiko.

# A cidade começou a queimar! Ligue a Tv.

Ben levantou-se rápido, tropeçando na coisas que jogou pelo chão. Ligou o aparelho, que logo iluminou o ambiente escuro, o preenchendo de som.

No canal local a apresentadora falava pausadamente vestindo um terninho escuro, fazendo sua voz ecoar no quarto silencioso.

O vazamento de vários documentos e vídeos trouxe a tona denúncias de segregação e xenofobia na cidade de Touran. Segundo as informações, os estrangeiros e descendentes vivem a margem da sociedade, sem acesso as necessidades básicas da cidade.
O ministro do interior, afastou vários membros da polícia, bem como o prefeito e seus secretários para investigações e diz que irá a fundo na restauração de Touran.

Segundo os vídeos, serviços de saúde, emprego ou educação são negligenciados aos moradores que não sejam unicamente orientais, e a maior gangue do lugar é quem supri essas necessidades, a custo de acordos com autoridades da cidade.

Ben permaneceu parado, olhando sem acreditar em tudo o que acabara de ouvir.

Toda a sujeira de Touran estava agora exposta para todo o mundo.

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