As primeiras horas da madrugada de sábado chegavam, e junto com ela, a primeira neve do ano começava a cair. Pequenos e brancos flocos, escorregando do céu, enfeitando tudo onde tocavam.Um homem apressado andava pelas movimentadas ruas, pisando brutalmente na neve que se acumulava pelas calçadas. Seus dois casacos e uma camisa, não impediam um fino resquício de frio de entrar pela sua pele, fazendo seus ossos tremerem. Ao olhar os jovens entrando e saindo de bares, lojas, se embebedando nas praças e parques, ele agradeceu mentalmente por já ter passado daquela fase, lembrando o quanto a juventude fazia as pessoas tolas.
Continuou seu caminho, chegando ao centro da cidade. Apertou firme a bolsa que carregava, feliz por desta vez finalmente ter se dado bem. Não podia acreditar que ganharia tanto dinheiro de uma única vez, um sorriso sutil se ergueu dentre seu cavanhaque, que já ganhava alguns pelos grisalhos.
Após passar por algumas ruas, lá estava ele, em frente a Red Sun.
Comprou o ingresso que dava acesso a área vip, assim como foi solicitado na negociação. Não se importou com a revista, feita por um segurança que devia ter a metade da sua idade.
Já dentro da boate, teve alguma dificuldade em chegar ao setor vip roxo, onde deveria aguardar seu contato chegar. Nesse tempo pôde observar o quanto o lugar estava lotado, com corpos balançando elétricos, ao som de músicas que ele considerava horríveis.Aguardou durante algum tempo, impaciente e mal humorado com todo aquele barulho.
Olhava a cada minuto para a tela do telefone, ficando cada segundo mais ansioso. Até que cerca de meia hora depois, uma mensagem fez o celular vibrar em sua mão."Mudança de planos, me encontre na rua 13."
Leu para si mesmo, dando uma longa bufada de ar.
Saiu rapidamente da boate, xingando em resmungos por ter gasto dinheiro para entrar naquele lugar e por ter que andar mais seis quadras para chegar ao novo ponto de encontro.
Enfrentando novamente as ruas geladas, apressou o passo, pegando um atalho pelo corredor de lojas que se espalhavam pelo lado direito do centro.
Não mais que quinze minutos depois, entrava na rua treze. A neve começava a cair ainda mais forte, deixando o céu noturno esbranquiçado e visualmente confuso.A pequena rua de lojas e sobrados estava vazia e quieta, mas ao longe ainda era possível ouvir os sons de carros e buzinas. O homem tirou o celular do bolso, enquanto andava devagar para o meio da rua. Olhou as notificações, não havia nada.
Respirou fundo, tentando não deixar a frustração o invadir. Decidiu esperar mais um pouco, ele acreditava que sua paciência seria recompensada. Bastava que esperasse.
Olhava de um lado para o outro, inspecionando cada uma das entradas da rua, enquanto esfregava freneticamente os braços e mãos, tentando em vão, espantar o frio que se tornara congelante.
Enfim, sua espera terminava. No início da rua, um carro antigo e preto estacionou brevemente, tempo suficiente para um homem sair, a distância entre ele e o ex ocupante do veículo era ligeiramente grande, e ele não podia ver com clareza o rosto do outro. Notando apenas o grande casaco que vestia e o fato dele estar usando um gorro.O homem que esperara durante tanto tempo, resolveu não ser afoito, acenou com uma das mãos, mantendo se no mesmo lugar, até que o outro chegasse até ele.
Segurando a bolsa firmemente nas mãos frias, o homem agora tinha uma visão um pouco melhor do outro, já conseguia ver parte do queixo e bochechas com exatidão, julgando assim, que ele devia ser mais jovem que ele mesmo.
Alguns passos a mais, e o homem com o gorro já estava a poucos metros do outro, podendo assim, ter seu rosto amplamente visto.
Quando a visão do outro focou naquele rosto, uma surpresa esmagadora se fez presente no seu próprio semblante. Confuso e irritado, ele gritou na direção do homem.- Você! O qu...
O restante da frase ficou perdida entre os flocos de neve que caiam, sendo cortado por um som agudo e alto que inrrompeu o silêncio daquela rua.
O cano da arma ainda fumegava quando o homem de gorro se aproximou, vendo o corpo do outro caido, o rosto com uma expressão assustada e grotesca.
Ele se abaixou, a mão envolvida por uma luva cinza buscou o celular no bolso do outro, depois abriu a bolsa com cuidado, pegando o objeto embrulhado que ela guardava.Segundos depois o homem saía da rua treze, tirando o gorro e arrumando os cabelos. Deixando para trás o corpo morto do homem de cavanhaque.
O sangue vivo e de um vermelho intenso, fluía do pequeno e redondo furo em sua testa, se mesclando suave e lentamente a branca neve que se estendia na calçada suja.
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Dirt Game ( Lgbtq+)
RomanceNa cidade fictícia de Touran, jogatina, álcool e violência são mais do que palavras. Ben, um jovem arrogante e correto aprenderá que se sujar às vezes é inevitável. ✨2° lugar categoria Lgbtq+/ concurso Masterbook✨ ✨1° lugar categoria Lgbtq+/ concurs...