54- O general.

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Ben não dormiu quase nada naquela noite, tendo pesadelos estranhos nas poucas horas de sono.

O dia já havia amanhecido quando resolveu sair do quarto, e procurar algo para comer na cozinha. Ele não vinha se alimentando bem nos últimos dias, não tinha uma gota de fome, mas sabia que precisa de alguma energia.

Checou o celular, que nos últimos dias se mantinha sem respostas, arregalou os olhos e sorriu, ao se deparar com uma mensagem enviada por um número desconhecido.

# Tô livre. Assim que eu puder vou ao seu encontro. Não se preocupe.

"Leon está solto!"

O jovem pensou.

Avançou pelo corredor, aliviado e animado para contar a novidade ao rato.

Porém, um pouco antes de chegar ao cômodo ouviu vozes em uma conversa, seus pés pararam por alguns segundos, pois ele sabia bem quem estava falando.

Cogitou voltar ao quarto, não havia sido visto, mas percebeu que de nada isso adiantaria.
Voltou a andar, entrando na cozinha e se deparando com seu pai e Kayko.

A expressão do general não negava o descontentamento dele em estar ali, o que não era surpresa para Ben. Entretanto, o porquê seu pai estava em Touran era a sua verdadeira dúvida.

- Pegue suas coisas, vamos embora._ Mashima disse, seco, sem qualquer emoção nas palavras.

- Eu não vou.

O general deu alguns passos, silencioso e calmo.

- Eu não estou pedindo Benjamin.

- Sei disso pai, mas eu não quero ir._ Ben respondeu, tentando manter a calma, enquanto olhava para o rato, que fitava o chão de mármore.

- Você acha que esta em posição de querer algo? Anda logo, Kayko irá conosco.

Ben olhou para o amigo, encolhido em seu próprio espaço, o questionando:

- Você vai embora? Com ele? Sério?

O rato se moveu um pouco, fazendo contato visual com Ben, antes de falar:

- É o melhor Ben, estou com medo, por mim, por nós. Essa cidade esta de cabeça pra baixo, e se alguém nos atacar porque somos puros?

- Eu não acredito nisso. Você continua um idiota.

Mashima deu mais alguns passos, chegando próximo ao filho, o encarando duro, frio, como sempre fazia.

- Eu vi as notícias, mas achei por um momento, que era apenas exagero da mídia sensacionalista, mas quando vi os dados das denúncias, quando recebi a ligação de Kayko, eu sabia que deveria vir até aqui. E então, encontro essa cidade cheia de algazarra e violência, afundada em caos. Eu não quero que você corra perigo, não há necessidade.

- Você ligou pra ele? Você...você tem noção?_ Ben berrou para Kayko, avançando em sua direção.

- Me desculpa Ben, por favor...eu...eu estou com medo...você não queria ir...

- Chega dessa conversa inútil, anda, pegue suas coisas e vamos. Kayko fez o correto._ O general falou, esboçando um ar entendiado.

Ben respirou fundo, expirando a tensão daquele ambiente, antes de dizer enfático:

- Eu não vou. Não adianta tentar, eu não vou.

Um estalo forte e oco sobressaiu no grande cômodo, quando a bofetada acertou em cheio a bochecha de Ben. Este levou a mão ao rosto instintivamente, olhando o homem à sua frente.

- Eu não vou._ falou, segurando o rosto.

Outro tapa foi dado.

- Eu não vou._ o jovem repetiu, em desafio, antes que mais uma bofetada o acertasse forte.

- Você acha que estou pedindo a você? Eu não peço nada a você moleque. Eu mando! Eu sou seu dono, você não é nada._ Mashima rugiu, alterando a voz em uma súbita ira.

- Sr.Raika, não...não precisa disso, eu vou convencer ele, por favor._ Kayko disse, entrando na frente do general.

O homem mais velho empurrou o pequeno Kayko para o lado, falando com o dedo em riste.

- Cala a boca idiota! Ou você também quer apanhar?!

O rato se afastou, e mais alguns passos foram dados pelo general em direção ao filho.

- Pegue a droga das suas coisas e vamos. Eu não vou falar de novo.

- Eu não vou nem morto._ Ben bradou.

O primeiro golpe o derrubou no chão, mas não o pegou de surpresa.O segundo, o fez gemer de dor e arquear o corpo sobre o carpete.

Cada soco era desferido com brutalidade e força, contra o seu rosto, mas o jovem sorria, com os dentes minando sangue entre os espaços, escorrendo pelos lábios.

Ele perdeu a conta de quantos golpes recebeu, mas a cada novo esmagar de punho sobre sua pele, ele não podia conter a vontade de rir cada vez mais.
Era um riso sem humor, era um riso de petulância, de raiva e nojo.

- Você não é nada! Seu inútil! Pedaço de merda. Sua função é fazer o que eu quero! Seguir as minhas ordens, hoje e sempre!_ O general rosnava, a fúria envolvendo suas palavras e ações.

O homem segurou o filho pela gola da fina camiseta, o empurrando de volta ao chão em seguida.

- Sorria agora! Sorria mais retardado!

- Senhor, me dê algum tempo, eu vou convence-lo a voltar, eu prometo. Por favor, chega._ Kayko interveio trêmulo.

Mashima se afastou, caminhando lentamente pela casa enquanto parecia pensar.

- Eu dou-lhes até amanhã para estar em Chiba. Ouviu, seu lixo?_ Disse, dando um chute leve na coxa de Ben, que ainda estava ao chão.

Ben nada respondeu, vendo pelos olhos inchados o pai sumir pela porta.

Kayko o ajudou a se levantar, o conduzindo até seu quarto, onde Ben pode enfim falar o que o levou até a cozinha naquela manhã.

- Leon está solto.

O amigo piscou algumas vezes e Ben pôde ver um misto de surpresa e pena em seus olhos.

- Eu vou atrás dele agora._ Ben disse, se levantando da cama, sendo imediatamente levado a deitar-se novamente pelo rato.

- Cara não! Você tá todo arrebentado, e nem sabe onde ele está! Ele vai vir até você, tenho certeza. Calma tá?!

O jovem teve que concordar, ele sabia que Leon deveria estar escondido em algum lugar, e nem tinha certeza de como ele tinha conseguido sair da cadeia. Se ele saísse fazendo perguntas sobre o chefe, poderia colocar sua saída a perder.

Depois de colocar gelo no rosto, e tomar alguns analgésicos, acabou por adormecer profundamente, despertando muitas horas depois, com o toque de seu telefone.

O mesmo número desconhecido fazia o celular vibrar em sua mão, e o jovem não demorou a atender a chamada.

Quando colocou o aparelho no ouvido, seu coração deu um tranco, acelerando aflito e exultante ao reconhecer a voz do outro lado.

- Saudades de mim, meu garoto?

- Leo..._ O nome ficou suspenso no ar.

Ben o concluiu apenas em pensamento, antes de sentir sua cabeça doer, e tudo se tornar escuro.

Dirt Game  ( Lgbtq+)Onde histórias criam vida. Descubra agora